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Zoologia e Botânica questionam QUALIS



Carta enviada ao Presidente da CAPES em nome de 14 sociedades científicas 
brasileiras, 22 Programas de Pós-Graduação em Zoologia e Botânica, e 31 
revistas nacionais de Zoologia e Botânica.
								Curitiba, 19 
de maio de 2009
Ilmo. Sr.
Dr. Jorge Almeida Guimarães
Ministério da Educação ? Anexos I e II ? 2º andar
70359-970 ? Brasilia, DF
Caixa Postal 250

Senhor Presidente,

A instituição de uma metodologia continuada de avaliação da produção 
científica brasileira pela CAPES parecia representar, em um primeiro 
momento, um estímulo saudável ao aprimoramento da produção científica 
nacional. De fato, a implantação do QUALIS, aprimorou substancialmente a 
qualidade de nossas revistas e a produção científica de nossos programas de 
pós-graduação. A comunidade científica não somente  procurou publicar em 
periódicos com maior índice de impacto como também foi visível o esforço por 
parte de vários editores de revistas nacionais em melhorar a qualidade dos 
nossos meios de divulgação, na esperança de ver suas revistas reconhecidas 
pela CAPES.

Entretanto, o devido reconhecimento pelo esforço empreendido não veio. Pelo 
contrário, percebemos agora, com apreensão, que algumas das mais importantes 
revistas nacionais nas áreas de Zoologia e Botânica forma rebaixadas no novo 
QUALIS, apesar das melhorias substanciais pelas quais vêm passando. Algumas 
destas revistas, a exemplo dos Papéis Avulsos de Zoologia, dos Arquivos e 
Boletim do Museu Nacional, do Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi, da 
Acta Botanica Brasilica, da Hoehnea e da Revista Brasileira de Botânica, são 
reconhecidas internacionalmente e forma utilizadas historicamente como 
veículos importantes de divulgação da comunidade científica brasileira. Cabe 
salientar que o Arquivo do Museu Nacional é a revista científica mais antiga 
do Brasil, publicada ininterruptamente desde 1875 e agora se vê ameaçada de 
extinção. Outras, com histórico mais recente, também passaram por uma 
profunda reformulação e já despontam como importantes veículos de 
comunicação nas suas áreas de especialidade. Muitas destas revistas 
pertencem a Sociedades científicas que contam em seu corpo editorial com 
pesquisadores com longo histórico de produção científica de qualidade. 
Podemos citar entre estas a Revista Brasileira de Ornitologia e a ZOOLOGIA 
(antiga Revista Brasileira de Zoologia), além das já citadas Acta Botanica 
Brasilica (revista oficial da Sociedade Brasileira de Botância) e a Revista 
Brasileira de Botância (revista da Sociedade Botânica de São Paulo). Nenhuma 
destas revistas foi qualificada pelo QUALIS à altura da posição que ocupam, 
especialemente por terem sido historicamente responsáveis pela divulgação 
das ciências zoológica e botânica brasilerias.

É importante ressaltar que o Brasil vive um momento de grande efervescência 
nas ciências biológicas, que resultou em aumento substancial de 
produtividade. Esta fase vem impulsionando a reformulação de algumas 
revistas, assim como tem favorecido o surgimento de outras em áreas onde 
ainda é clara a carência de veículos de comunicação para divulgação do 
conhecimento científico. Neste esforço, visando atender aos critérios da 
CAPES, estas revistas mantém atualmente normas rígidas de publicação, 
asseguradas por corpos editoriais de qualidade que reúnem destacados 
especialistas de todo o mundo. Contudo, apesar da maioria destas revistas 
nacionais apresentar hoje a qualidade, o formato e a regularidade das 
melhores revistas internacionais da área, correm o risco de serem extintas 
por falta de apoio e reconhecimento por parte do sistema de avaliação 
QUALIS. A eventual extinção da maioria das revistas brasileiras eliminará de 
vez a oportunidade histórica que o Brasil tem de se firmar como uma 
liderança detentora de veículos de comunicação de qualidade para esta 
importante área de conhecimento.

Considerando o alto nível de penetração e de citação destas revistas no 
cenário internacional, bem como sua adequação evidente às novas regras 
internacionais de divulgação científica, vemos com apreensão a sua 
classificação nos patamares mais inferiores (B4 e B5) do QUALIS. Entretanto, 
a inclusão destas revistas nos níveis B4 e B5 não se deve ao baixo valor de 
Fator de Impacto (F1) das revistas em questão, mas ao simples fato do 
próprio QUALIS não dispor de meios para calcular o F1 das revistas 
brasileiras. A alternativa encontrada pelo programa parece ter sido a de 
classificar todas as revistas que não estejam no Journal Citation Report 
(JCR) nos níveis mais baixos da sua escala de avaliação. Uma alternativa 
mais adequada e justa teria sido a de solicitar a organismos especializados 
e independentes, como a BIREME sediada no Estado de São Paulo, a produção 
dos índices de impacto das revistas brasileiras que ainda não pertencem ao 
JCR. Tal medida evitaria a implementação de regras conciliatórias 
arbitrárias, tais como a designação de um grupo de revistas ?indicadas? para 
comporem o grupo A do QUALIS, revistas estas com índices de penetração, 
qualidade e citação iguais ou inferiores aos de outras revistas nacionais 
que não tiveram a sorte de serem escolhidas. Neste ponto específico, a nova 
comissão do QUALIS informou que não adotará esta prática para o próximo 
triênio. Entretanto,  apesar da medida ser salutar porque acaba com uma 
condenável prática clientelista, esta não é suficiente e não repara as 
distorções e incoerências ainda existentes nos procedimentos do QUALIS. Um 
indício da sua incoerência pode ser ilustrado no abandono, sem razão 
aparente, do índice de meia vida como valor de avaliação das revistas. Este 
índice é de grande relevância em razão das especificidades das áreas de 
Botânica e Zoologia e deveria, no nosso entender, receber maior importância 
no processo de avaliação. A decisão de eliminar o índice de meia vida do 
processo de avaliação não constitui uma decisão em sintonia com as 
especificidades da área.

As revistas brasileiras têm a difícil tarefa de se consolidarem em um 
ambiente hostil, tanto fora como dentro do País, enfrentando a concorrência 
das revistas estrangeiras e o gargalo da avaliação QUALIS. O próprio meio 
acadêmico tem se encarregado de avaliar as revistas ao produzir uma pressão 
salutar que leva, em última instância, à hierarquização das revistas por 
mérito. Neste sentido, a nova iniciativa QUALIS é prejudicial, pois não 
estimula a consolidação da nossa ciência, mas reforça a desagregação do 
nosso conjunto de revistas de qualidade da área. Atribuir o nível de mérito 
adequado às revistas brasileiras certamente estimularia um círculo virtuoso 
que levaria, em última instância, a que se igualem em competitividade com 
revistas internacionais de ?nível A? no JCR.

Com base no exposto acima e em nome das diversas sociedades, entidades e 
instituições representadas aqui, sugerimos que a CAPES, após consulta à 
comunidade científica, revise as regras recentemente implantadas visando uma 
avaliação mais justa das revistas brasileiras e internacionais, compatível 
com uma melhora sustentada da qualidade das nossas revistas mais 
importantes. Neste sentido, apontamos como um caminho alternativo para as 
revistas nacionais, o uso pela CAPES do sistema SciELO, que vem avaliando e 
monitorando há anos o parque de revistas científicas brasileiras. A SciELO 
oferece as mesmas ferramentas quantitativas fornecidas pelo JCR, que 
poderiam ser empregadas para ranquear as revistas brasileiras 
independentemente do grupo de revistas nesta base de dados. A criação de 
duas listas QUALIS independentes, uma internacional gerenciada através dos 
índices JCR (que incluiria revistas internacionais e nacionais que dispõem 
desse sistema de avaliação) e outra nacional cuja avaliação seria baseada 
nos índices Scielo, representaria um estímulo à publicação de qualidade e à 
melhora das revistas nacionais, evitando também o estabelecimento de 
metodologias compensatórias questionáveis para as revistas que não pertencem 
às bases de de dados JCR. Acreditamos que dessa forma, o sistema QUALIS não 
funcionará como um fator de desestímulo para a publicação de artigos de 
qualidade em revistas nacionais devido a causas circunstanciais. Mais do que 
exportar autores para revistas internacionais, precisamos tornar nossas 
revistas atraentes para nossos próprios autores e para autores de outros 
países.


Prof. Luis Paulo
C.P. 2386
20001-970 Rio de Janeiro, RJ

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