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Pearson x Fisher




Caros Redistas,

O excelente livro de David Salsburg ressalta ao longo do texto
algumas diferenças entre os dois grandes mestres:
K. Pearson e R. Fisher, que reuno aqui. O primeiro era um
brilhante conferencista enquanto o segundo péssimo. Pearson
não gostava das ideias de Fisher sobre a verossimilhança.

Pearson publicou a maioria dos seus trabalhos na Biometrika
(era seu editor). Fisher, por conta de suas diferenças pessoais
com Pearson, tinha seus artigos rejeitados lá e só
conseguia publicá-los, algumas vezes pagando para serem aceitos,
em periódicos não associados à pesquisa em matemática, como,
por exemplo, no Journal of Agricultural Science e The Proccedings
of the Royal Society of Edinburg.

Apesar de Fisher (ao contrário de Karl Pearson) ter sido ignorado
pela comunidade matemática da sua época, ele se tornou conhecido
pelos artigos e livros que influenciaram enormemente aqueles que
trabalhavam com agricultura e biologia.

Fisher mostrou como a teoria evolucionista de Darwin poderia explicar
a questão da eugenia ? movimento para melhorar o estoque genético pela
criação seletiva. Inclusive foi acusado de fascista ao propor uma
política de planejamento familiar que escolhesse os "melhores genes"
(nas classes dos profissionais mais habilidosos) para propagar as
futuras gerações e dispensasse os "genes pobres" (das classes inferiores).
Essa sua política vai de encontro da visão política de Pearson que
era socialista e, assim, voltada ao proletariado.

Pearson, apesar de autoritário, gostava de ajudar as pessoas. Fisher
era muito amargo ao lidar com pessoas e batia forte nos seus
colegas, entre eles: os dois Pearsons e Jerzy Neyman, com quem tinha
grande antipatia. Neyman esteve sob constante ataque de Fisher até a
morte dele em 1962.

O Aluisio Pinheiro (UNICAMP) me enviou um exemplo do temperamento
difícil de Fisher: ele foi umas das razões da saída de James Chadwick
do Caius College para Liverpool (um desastre científico),
por sua forma agressiva e irônica durante as reuniões
dos fellows. Chadwick, assistente de Lord Rutherford
(ganhador do Nobel pela descoberta do neutron), considerava-se
desprestigiado por conta de Fisher.

A própria filha de Fisher, Joan Box (foi casada com George Box,
que esteve no Rio durante o SINAPE de 1992), ao escrever a
biografia do seu pai, não atenua os aspectos menos admiráveis
do seu comportamento.

Já Egon Pearson (filho do Karl) tinha grande simpatia pelos trabalhos do Fisher, apesar dele nunca mencionar seu nome nas suas publicações. Aliás,
ambos mandavam seus alunos assistirem às conferências um do outro.

Apesar das inúmeras diferenças, devemos muito aos dois gênios:
K. Pearson e R. Fisher.


Cordiais Saudações,

Gauss Cordeiro