Pois e' Miguel e colegas,
vamos aos poucos criando uma cultura cientifica aqui no
LESTE.
As coisas nao precisam mais passar por poucas pessoas mas
ja temos uma massa critica que comeca a funcionar com
independencia
e curiosidade cientifica.
Por que, voces sabem, nao se trata de publicar papers.
Serio.
Isto (publicar) e' consequencia, resultado visivel e
demonstravel de que
existe curiosidade cientifica e espirito criativo num
ambiente. Nao pode ser
o alvo final. Nao pode deixar de existir, obvio. E' algo
como um diploma
no fim de um curso. Voce nao vai a uma escola pelo diploma.
Voce precisa
dele no final como comprovacao de que foi educado e
aprendeu o que e'
suposto aprender. MAs o objetivo real e' o aprendizado e,
como
consequencia, voce obtem o diploma.
E nao o contrario, como nas faculdades ruins, onde o
objetivo e' obter
um diploma, seja enganando o professor, seja o professor
enganando aos
alunos oferecendo pilulas de ideias mortas, empacotadas e
burras.
De posse do diploma, o conhecimento viria como
consequencia? Ou quem
sabe, nem e' necessario o conhecimento, basta o diploma.
Pois a vida
ensina melhor que a escola, nao? Estou cansado de ouvir
este tipo de
argumento de gente preguicosa e que quer apequenar o
espirito criativo.
Curiosidade cientifica e espirito criativo nao se cria. O
que podemos
fazer e' apenas criar um ambiente onde ele exista de forma
que aqueles
que possuam este espirito possam respirar e vive-lo em
plenitude.
Se nao, tudo vira apenas mais um trabalho de funcionario
publico,
coisa de barnabe. Horror dos horrores, pesadelo
recorrente.
Tenho me angustiado com isto. Vejo em conferencias e
congressos, em
programas de doutorado e mestrado no Brasil a tendencia em
inverter
as setas. Nao existe um ambiente propriamente academico.
Existe uma preocupacao **burocratica** em criar papeis e
certificados
(papers, diplomas, comprovante de participacao) sem que
conhecimento
real seja criado. Nao existe a conversa na sala de cafe ou
no almoco
sobre o ultimo numero da Biometrics, do JASA, dos JRSS
(ponha seu nome
de preferencia aqui), nao existe a dica sobre (..leia este
paper,
acabou de sair e traz a seguinte novidade: bla bla bla),
nao existe o comentario sobre as areas quentes que estao
sendo
desenvolvidas. As conversas em conferencias e congressos
sao sobre
abobrinhas, a discussao cientifica fica na sala de
conferencia
onde muitos vao como se para um sacrificio, um exercicio
tedioso entre
os animados coffe-breaks.
Este e' um longo lamento publico (se e' que ainda tem
alguem por ai me
lendo) depois de 4 dias de intenso envolvimento em um
ambiente
cientifico de primeeeeeeeira qualidade (como diz o filosofo
Antonio
Augusto Prates). E claro que e' tambem uma generalizacao
injusta com o
Brasil e com os brasileiros. Afinal de contas, estamos
criando bolsoes
onde a ideia da criacao cientifica e' tao excitante e
emocionante quanto
o trabalho de criacao artisitica.
As novas ideias (de outros, aprendidas em papers, ou,
melhor ainda,
suas ou de seus colegas) devriam criar a mesma sensacao que
ouvir uma
nova musica super bonita. Nem todos gostam das mesmas
musicas, nem
todos gostam de sertaneja ou jazz, mas sempre tem
aqueles que se emocionam com uma ou outra. Pense na alegria
de criar
novas musicas, novas melodias ou arranjos que voce nao
ouviu antes de
ninguem, que emocionam pela beleza, pelas consequencias na
alma. Estas
ideias seguem dedilhando cordas invisiveis, batendo
tambores ocultos.
Um abraco a todos,
Renato