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Re: [ABE-L]: duas faces da moeda




Caro Edson,

Suas palavras - bem corroboradas pelo Carlinhos-,
são muito portunas. Gostaria de salientar que o problema
maior que assola a estatística brasileira é que muitas das
suas atividades acadêmicas são promovidas por pessoas
que não conhecem o básico da estatística
(conteúdo do velho Kendall e Stuart vol 2).

Alguns ds maiores avanços da estatística foram feitos
por pesquisadores que atuavam em outras áreas, tais como
genética, agronomia, engenharia e física (Fisher, Maxwell,
Kalmann, por exemplo).

Entretanto, muitas pessoas de outras áreas - que vem para a
estatística no País -, não têm interesse no seu
desenvolvimento e maximizam apenas a sua função de
utilidade. Por exemplo, querem pesquisar em estatística
sem uma base mínima de matemática.

Na semana passada, recebi a visita na minha casa de um velho amigo,
cujo filho está no 4o ano de engenharia elétrica da UFPE mas quer
fazer mestrado em estatística.

Eles (pai e filho) me pediram alguns livros de estatística.
Eu disse a eles: antes de lhe passar esses livros
por favor estude os "Elementos de Cálculo Diferencial e Integral"
do W. A. Granville. Dei meu exemplar surrado de 1969.
Quando v. conhecer bem o conteúdo desse livro, volte de
imediato para falar comigo, que lhe passo alguns livros
interessantes de estatística.

Bom domingo para todos,

Gauss



Quoting Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>:

Edson:
Seu depoimento é realmente emocionante.  Nossa sociedade sofre mesmo por ter
lideranças como as nossas: pensam sempre que possuem o poder do julgamento justo.
Eu sou estatístico daqueles que iniciaram no comercial básico da ENCE e só
cursaram programas de estatística.  Também estou em tempo de me aposentar.
Mesmo assim, pessoas se acham no direito de continuar nos avaliando. Como você, também faço o que gosto. Faço uso da estatística em outras áreas, onde colaboro com cientistas interessantes. Me sinto na verdade um operário da ciência. Meus
colaboradores e co-autores são físicos, engenheiros, biólogos, médicos! Nos
respeitamos muito, mutuamente.  Na verdade o sucesso dessas pessoas na nossa
área da estatística deve-se ao grau de cultura que conseguem ao longo da
formação deles. Então, se você não faz o que está na moda, não é visto com bons olhos. Muito de nossa comunidade estatística ainda se prende na moda. Na minha opinião, a moda na ciência é passado e assim parece que sempre estamos andando atrás de algo que nunca alcançamos. Também tenho ou tive excelentes alunos que vieram de outras áreas e hoje são pessoas de sucesso ou na academia ou no mercado.
Penso que a competência deveria substituir qualquer papel ou diploma.  Fico
triste quando vejo aqui na lista pessoas produtivas reclamando que agrônomos e físicos ficam ocupando os "nossos lugares". Eu por outro lado fico orgulhoso de
estar trabalhando em uma área que atrai tantos outros profissionais.

Uma boa noite e obrigado por sua mensagem

Carlinhos

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Olá Prof. Gauss.

Vira e mexe caimos no mesmo buraco. Estatístico x complementar. Hoje mesmo,
conversando com um colega ex-seminarista (portanto, um não-padre), disse-lhe que sempre quiz fazer um curso de teologia. Ele me disse que o seminário (em minha
cidade) está aceitando 'leigos' nas turmas. Tai ó, 'leigo' significa que o
indivíduo não tem ordens sacras ou não é eclesiástico. Desde 1975 lido com
informática (sou um não-informata). Aprendi muitas coisas que precisei aprender. Ensinei outras, até mesmo para alguns profissionais de informática de hoje. Acha
que "eles" não tentaram também sua reserva de mercado? Quando iniciei minha
carreira docente (1985), comecei (e continuo) com a estatística. Aprendi e
ensinei muita coisa nessa jornada (está quase terminando). Consegui até um
doutorado na área, imagine só. Também sou um não-estatístico. Brevemente me
aposentarei e pretendo iniciar essa nova carreira com a marcenaria (como um
lazer, certamente). Dias atrás fui e uma loja especializada comprar madeira, não quiseram me vender o corte que precisava pois sou um não-marceneiro. Creio que estou entrando em uma crise existencial, não sei o que sou. Por outro lado, sou
livre para fazer o que quiser, se me deixarem.

Respeitoso abraço.
Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>