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A transição necessária da pós-graduação brasileira - Simon Schwartzman
- Subject: A transição necessária da pós-graduação brasileira - Simon Schwartzman
- From: "Luis Paulo Vieira Braga" <lpbraga@im.ufrj.br>
- Date: Sun, 25 Apr 2010 17:27:58 -0300
Simon's Site
A transição necessária da pós-graduação brasileira
Posted: 23 Apr 2010 05:26 AM PDT
Preparei, a pedido da comissão responsável pela elaboração do Plano Nacional
de Pós-Graduação (PNPG) relativo ao período 2011-2020, um texto sobre a
transição necessária da pós-graduação brasileira, que está disponível aqui.
A idéia básica é que o modelo de avaliação criado pela CAPES, que teve
resultados muito positivos, está superado, e precisa se transformar. Em
síntese:
A pós-graduação brasileira, ao dar prioridade ao desempenho acadêmico,
através de um conjunto de instrumentos de regulação legal, incentivos e
mecanismos de avaliação, acabou criando um sistema cuja principal função,
na prática, é se auto-alimentar, e que, com as exceções de sempre, nem
consegue produzir uma ciência de padrão internacional, nem consegue gerar
tecnologia para o setor produtivo, nem consegue dar a prioridade devida aos
que buscam formação avançada para o mercado de trabalho não acadêmico.
Esta situação disfuncional parece ser, pelo menos em parte, um resultado não
previsto do sistema de apoio e avaliação conduzido sobretudo pela CAPES, mas
que acabou funcionando como padrão de referência para outras instituições. O
sistema atual de avaliação e apoio à pós-graduação no Brasil precisa ser
alterado no sentido de reduzir a centralização e estimular a autonomia e a
diversificação dos diversos programas e objetivos que coexistem sob esta
denominação geral. Nenhum país do mundo tem um sistema de pós-graduação tão
centralizado como o da CAPES, e isto é uma indicação de que este talvez não
seja realmente o melhor formato para o século XXI. A transição do atual
sistema para um outro, mais aberto e descentralizado, é um processo complexo
que não teria como ser detalhado de antemão. É possível no entanto propor
alguns princípios gerais que, uma vez aceitos, deveriam presidir este
processo de mudança. Estes princípios incluiriam:
- Restabelecer e reforçar o princípio da autonomia universitária de criar
cursos de pós graduação de diversas modalidades (acadêmicos, profissionais,
etc), sem precisar passar pela autorização prévia ou avaliação de órgãos do
governo.
- Criar programas públicos específicos para o apoio à pesquisa e pós-
graduação considerados de qualidade e/ou de importância estratégica e
produtiva. As instituições de pesquisa públicas e privadas deveriam poder
competir por fundos destes programas, e receber apoios plurianuais que
permitam seu funcionamento. Para estimular o setor privado a investir na pós-
graduação e na pesquisa, incluir recursos para pagamento de pessoal e
overhead administrativo das instituições.
- Os programas de natureza mais acadêmica só seriam apoiados se
satisfizessem critérios internacionais estritos de qualidade, estabelecidos
através de rigorosa avaliação por pares.
- Os programas de natureza aplicada deveriam mostrar serem capazes de
estabelecer parcerias com setores públicos e privados interessados em seus
trabalhos, e o processo de avaliação deveria incluir representantes destes
setores não acadêmicos.
- Envolver os ministérios setoriais ? saúde, meio ambiente,
desenvolvimento social, transportes ? nos processos de seleção e
financiamento da pesquisa e da pós-graduação nas respectivas áreas de
interesse.
- Instituir o princípio de cobrança de anuidades nos cursos de pós-
graduação públicos e privados, especialmente para os cursos orientados para
a formação profissional para o mercado de trabalho. Este princípio deveria
vir associado a sistemas de crédito educativo e bolsas que assegurassem que
o acesso à educação de alto nível não ficasse condicionado à renda das
famílias.
- Abolir os rankings oficiais de cursos mantidos pela CAPES e sua
utilização como critério universal para a distribuição de recursos.
A adoção destes princípios traria, como conseqüência, a criação de um amplo
e diversificado mercado de programas de pós-graduação, que dependeriam, para
sobreviver, seja do financiamento de seus alunos, seja do apoio a ser
recebido de agências públicas de diferentes tipos, seja de seus vínculos com
o setor produtivo. O volume de recursos públicos investidos na pós-
graduação poderia permanecer o mesmo ou até aumentar, mas seria utilizado de
forma descentralizada e mais afinada com os diferentes objetivos que os
programas têm. O financiamento pleno, por mecanismos competitivos, de
programas selecionados na área privada, viabilizaria o fortalecimento da pós-
graduação neste setor, e a cobrança de anuidades permitiria o aumento dos
investimentos privados na educação de alto nível, e permitiria inclusive que
as universidades públicas pudessem receber a atender de maneira adequada
estudantes de outros países interessados em estudar no Brasil.
Prof. Luis Paulo
C.P. 2386
20001-970 Rio de Janeiro, RJ
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