[Prévia] [Próxima] [Prévia por assunto] [Próxima por assunto]
[Índice cronológico] [Índice de assunto]

Re: [ABE-L]: Enchentes no RJ



Colegas,
 
Acompanhando o noticiário sobre as tragédias da região serrana do Rio de Janeiro, várias questões chamaram a minha atenção.
 
1) Precariedade do sistema de alerta meteorológico. O aviso emitido pelo INMET chegou tarde, era inespecífico, e não fazia previsão do volume de chuvas esperado. Creio que deve haver muito espaço para aprimorar a capacidade de previsão e de emissão de alertas neste importante serviço. E não deve faltar oportunidades para colaboração de estatísticos nessa empreitada.
 
2) Inexistência de séries de informações organizadas sobre episódios similares no passado. Quase sempre são lembrados os últimos casos (um ou dois anos). Mas não há registros organizados confiáveis que possamos modelar para conhecer melhor freqüências e letalidade dos episódios, e dessa forma, melhorar a capacidade de planejar recursos de enfrentamento. Creio que se trata de lacuna importante de um sistema estatístico para planejamento urbano e gerenciamento de riscos. A contribuição da comunidade aqui seria relevante pois é nossa a expertise para organizar coleta, armazenamento e facilidades para recuperação e análise de dados estatísticos.
 
3) Baixa capacidade de coordenação das ações de prevenção, alerta e resgate. No episódio trágico do tsunami da Indonésia, a falta de sistemas de alerta contribuiu para aumentar a letalidade, mas a reação posterior foi a criação de sistemas de alerta para esse tipo de evento, que já estão em funcionamento e devem ter contribuído para salvar vidas em episódios posteriores na região. Trombas dágua em cachoeiras e rios podem ser detectadas antes de provocar mortes rio abaixo. Países onde eventos climáticos como este ocorrem com maior freqüência adotam estratégias de construir canais por onde as águas podem escoar sem causar tanto estrato (me ocorre o exemplo da Ilha da Madeira, palco de recente - 2009 - episódio de chuvas torrenciais que também causaram danos e vítimas, mas em escala muito menor que a verificada na região serrana).
 
4) Precariedade da percepção de riscos pela população em geral. As pessoas aceitam riscos muito elevados quando escolhem locais de moradia ou para construção, e creio que parte da questão tem a ver com uma incapacidade de avaliar corretamente riscos e chances, e suas conseqüências. Mais uma área em que acredito que a comunidade estatística poderia atuar para melhorar a educação e a 'numeracia' da população em geral.
 
Não sou especialista em qualquer dos assuntos indicados, mas tenho certeza de que nossa comunidade teria o que dizer e colaborar para mitigar os efeitos nocivos de episódios similares no futuro, que a história recente mostra que não poderemos evitar, e quiçá, venham a se tornar mais freqüentes como prevêem os especialistas na questão das mudanças climáticas que afetam o planeta.
 
Saudações entristecidas. Pedro.
 
 
 

 

 
--
Pedro Luis do Nascimento Silva
IBGE - Escola Nacional de Ciências Estatísticas
Phone: +55 21 21424957, 35216066