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RES: [ABE-L]: EstatÃstica do Gullar



Caros Redistas,

 

Eu disse aqui na rede que nÃo gosto muito do conceito de âmaioriaâ, principalmente

em relaÃÃo Ãs universidades pÃblicas e ao cotidiano brasileiro, onde a âpropagada democraciaâ

à literalmente comprada dos menos favorecidos.

 

Segue (mais abaixo) um artigo do Ferreira Gullar na Folha de SP (16/1) que

gostaria de comentar apenas a sua Ãltima assertiva, pois à uma âestatÃsticaâ.

 

As variÃveis explicativas que apontavam (em 1974) o Ãndice de aprovaÃÃo de 82%

do Presidente MÃdici eram quatro: o (grande) crescimento econÃmico, a inflaÃÃo (era baixa),

os (grandes) investimentos (na agricultura, em obras de engenharia e na indÃstria) e a

(enorme) propaganda do governo (lembram das marchinhas desde quando

o Brasil foi tri em 1970?).

 

No caso do Governo Lula esse mesmo Ãndice deve ser explicado por apenas

duas: bolsa famÃlia e inflaÃÃo (tambÃm baixa), com a primeira sendo muito

mais significativa.

 

Cordiais SaudaÃÃes,

 

Gauss

 

 

Artigo de Ferrerira Gullar na Folha de SP


Quando dois e dois sÃo quatro


O tempo se encarregarà de pÃr as coisas no lugar. O presidente MÃdici tambÃm obteve 82% de aprovaÃÃo



TALVEZ SEJA esta a Ãltima vez que escreva sobre o cidadÃo Luiz InÃcio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil. Com alÃvio o vi terminar o seu mandato, pois nÃo terei mais que aturÃ-lo a esbravejar, dia e noite, na televisÃo, nem que ouvir coisas como esta: "Ele à tÃo inteligente que fala todas as lÃnguas sem ter aprendido nenhuma". Pois Ã, pena que nÃo fale tÃo bem portuguÃs quanto fala russo.


à verdade que tivemos, ainda, que aturÃ-lo nos trÃs Ãltimos dias do mandato, quando "inaugurou" obras inexistentes e fez tudo para ofuscar a presidente que chegava.
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Depois de passar a faixa, foi para um comÃcio em SÃo Bernardo, onde, atà as 23h, continuava berrando no palanque, do qual nunca saÃra desde 2002.
Aproveitou as Ãltimas chances para exibir toda a sua pobreza intelectual, dizendo-se feliz por deixar o governo no momento em que os Estados Unidos, a Europa e o JapÃo estÃo em crise.
AlguÃm precisa alertÃ-lo para o fato de que a crise, naqueles paÃses, atinge, sobretudo, os trabalhadores. DestituÃdo de senso crÃtico, atribui a si mesmo ("um torneiro mecÃnico") o mÃrito de ter evitado que a crise atingisse o Brasil. Sabe que à mentira mas o diz porque confia no que a maioria da populaÃÃo, desinformada, acreditarÃ.
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Isso dà para entender, mas e aqueles que, sem viverem do Bolsa FamÃlia nem do emprÃstimo consignado, veem nele um estadista exemplar, que mudou o Brasil? à incontestÃvel que, durante o seu governo, a economia se expandiu e muita gente pobre melhorou de vida. Mas foi apenas porque ele o quis, ou tambÃm porque as condiÃÃes econÃmicas o permitiram?
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Vamos aos fatos: atà a criaÃÃo do Plano Real, a economia brasileira sofria de inflaÃÃo crÃnica, que consumia os salÃrios. Qual foi a atitude de Lula ante o Plano Real? Combateu-o ferozmente, afirmando que se tratava de uma medida eleitoreira para durar trÃs meses.
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à outra medida, que veio consolidar o equilÃbrio de nossa economia, a Lei de Responsabilidade Fiscal, Lula e seu partido se opuseram radicalmente, a ponto de entrarem com uma aÃÃo no Supremo para revogÃ-la. Do mesmo modo, Lula se opÃs à polÃtica de juros do Banco Central e ao superÃvit primÃrio, providÃncias que complementaram o combate à inflaÃÃo e garantiram o equilÃbrio econÃmico. Essas medidas, sim, mudaram o Brasil, preservando o valor do salÃrio e conquistando a confianÃa internacional.
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Lembro-me do tempo em que o preÃo do pÃo e do leite subia de trÃs em trÃs dias. Quem tinha grana, aplicava-a no overnight e enriquecia; quem vivia de salÃrio comia menos a cada semana.
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Se dependesse de Lula e seu partido, nenhuma daquelas medidas teria sido aplicada, e o Brasil -que ele viria a presidir- seria o da inflaÃÃo galopante e do desequilÃbrio financeiro. Teria, entÃo, achado fÃcil governar?
ApÃs trÃs tentativas frustradas de eleger-se presidente, abandonou o discurso radical e virou Lulinha paz e amor. Ao deixar o governo, com mais de 80% de aprovaÃÃo, afirmou que "à fÃcil governar o Brasil, basta fazer o Ãbvio". Claro, quem encontra a comida pronta e a mesa posta, à sà sentar-se e comer o almoÃo que os outros prepararam.
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A verdade à que Lula nÃo introduziu nenhuma reforma na estrutura econÃmica e social do paÃs, mas teve o bom senso de dar prosseguimento ao que os governos anteriores implantaram. A melhoria da sociedade à um processo longo, nenhum governo faz tudo. Inteligente, mas avesso aos estudos, valeu-se de sua sagacidade, jà que à impossÃvel conhecer a fundo os problemas de um paÃs sem ler um livro; quem os conhece apenas por ouvir dizer nÃo pode governar.
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Por isso acho que quem governou foi sua equipe tÃcnica, nÃo ele, que raramente parava em BrasÃlia. Atuou como lÃder polÃtico, nÃo como governante, e, se Dilma fizer certas mudanÃas, pouco lhe importarÃ, pois nem sabe ao certo do que se trata. Para fugir a perguntas embaraÃosas, jamais deu uma entrevista coletiva. Afinal, ninguÃm, honestamente, acredita que com programas assistencialistas e aumento do salÃrio mÃnimo se muda o Brasil.


O tempo se encarregarà de pÃr as coisas em seu devido lugar. O presidente EmÃlio Garrastazu MÃdici tambÃm obteve, em 1974, 82% de aprovaÃÃo.



"I had the blues because I had no shoes. Until upon the street, I met a man who had no feet" (Dale Carnegie).