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Caros Redistas,


Por solicitacao de algumas pessoas que tinham deletado o artigo, segue abaixo como publicado no Jornal do
Commercio (Recife) no ultimo sabado. Gauss

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Publicado em 12.02.2011

O apagÃo no Nordeste

Mariz Garces de Meneses e Gauss M. Cordeiro

O sistema de geraÃÃo da Chesf, composto de diversas usinas e subestaÃÃes, tem o maior potÃncia nominal disponÃvel entre as empresas nacionais do setor elÃtrico. A energia flui por meio de um sistema complexo de transmissÃo com mais de 18.000 km de linhas, constituindo-se no maior sistema em extensÃo do Brasil. Por causa das dimensÃes envolvidas, requer um eficiente e dinÃmico modelo de proteÃÃo, que atenda de maneira precisa Ãs necessidades inerentes a qualquer sistema energÃtico. AlÃm disso, requer uma constante avaliaÃÃo probabilÃstica do risco, que à uma metodologia estatÃstica de anÃlise lÃgica e estruturada, que objetiva estimar precisamente os riscos em sistemas complexos (como o da Chesf) e fornecer aÃÃes de melhoria de desempenho. Infelizmente, essa metodologia nÃo tem sido rotineiramente adotada no PaÃs.

O Nordeste tem, como principal fonte energÃtica, a Ãgua do Rio SÃo Francisco. Mas, a exploraÃÃo do potencial desse rio aproxima-se do seu ponto de exaustÃo. Como todo rio, o SÃo Francisco apresenta os seus ciclos de maior ou menor abundÃncia. PorÃm, Ã inegÃvel que nossa regiÃo passa a depender de uma quantidade maior de energia nas linhas de transmissÃo que se interligam aos sistemas da Eletronorte e Furnas. O racionamento de 2002 foi realmente devido a um dÃficit, pois um plano de emergÃncia foi acionado com implantaÃÃo de diversas usinas a Ãleo combustÃvel, que foram pagas pela sociedade para implantÃ-las e, a esta altura, devem encontrar-se amortizadas. Entretanto, nÃo estÃo certamente disponibilizadas.

Presenciamos um apagÃo ocorrido no sistema elÃtrico do Nordeste no dia 3 de fevereiro. Enumeramos, a seguir, motivos que teriam gerado o fato: a) falha tÃcnica causada por imperÃcia ou negligÃncia, b) ingerÃncia polÃtica, c) dÃficit energÃtico e d) risco inerente ao sistema. NÃo ousaremos dissertar sobre a causa apontada em a), pois o seu mÃrito pertence Ãs empresas que gerenciam as atitudes dos seus subordinados. A ingerÃncia polÃtica em b) Ã flagrante e exaustivamente divulgada em jornais, pois existe uma luta para a Chesf preservar sua autonomia. Caso a perca, pode haver agravamento de uma situaÃÃo que encontra-se apenas no seu comeÃo. Em relaÃÃo ao motivo c), pelo menos desde 2002, enfrentamos um dÃficit culminando com um racionamento de energia. Discutiremos apenas a causa d), que trata da avaliaÃÃo dos riscos.

Todos os sistemas elÃtricos estÃo sujeitos a acidentes e pode-se estimar por modelos estatÃsticos os riscos associados. Acidentes em linhas de transmissÃo sÃo comuns o tempo todo em sistemas complexos como o da Chesf. O fato inusitado à sua propagaÃÃo como no recente apagÃo. Provavelmente, o sistema de proteÃÃo falhou em nÃo isolar o defeito original na linha de transmissÃo, talvez por conta de uma manutenÃÃo insuficiente e ocorreu o pior: o efeito cascata! O sistema de proteÃÃo da Chesf deve ser revisado como um todo, simulando situaÃÃes de acidentes e o funcionamento correto de sua proteÃÃo.

O lucro inquestionavelmente à crescente quanto maior o risco associado. Hà muito pouco tempo isso era algo impensÃvel pela Chesf, pois somente em 1982 esta passou a interconectar-se com outra subsidiÃria do sistema: a Eletronorte. Somente agora à que iniciamos a operaÃÃo do nosso sistema totalmente interconectado, o que acarreta dizer que um problema na Usina de Itaipu pode afetar drasticamente atà o Nordeste brasileiro.

Dentro do setor, alguns especialistas defendem a implantaÃÃo de uma alternativa de choque para a RegiÃo Nordeste: as usinas nucleares. Por causa do desastre em Chernobyl e em outras nucleares nos Estados Unidos, o Brasil (defendem os ambientalistas) tem a possibilidade de operar uma matriz limpa energeticamente, por conta dos potenciais hidrÃulico, solar e de ventos ainda a serem explorados.

Do ponto de vista do potencial hidrÃulico, o grande problema à a transferÃncia de energia de um lugar para outro, que à o papel das interligaÃÃes. Essa transmissÃo se assemelha à tradicional histÃria das correntes: uma corrente à mais forte quando o seu elo à mais fraco. Natural situaÃÃo, os elos que interconectam o Nordeste Ãs demais regiÃes do PaÃs, nÃo podem ser considerados, ainda, como elos fortes.


 Mariz Garces de Menezes à engenheiro elÃtrico e professor. Gauss M. CordeiroÂÃÂengenheiro civil, PhD em EstatÃstica e professor da UFPE

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"There is no branch of mathematics, however abstract, which may not some day be applied to phenomena of the real world" (Lobachevsky).



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