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Deu na Folha de São Paulo
- Subject: Deu na Folha de São Paulo
- From: Francisco Cribari <cribari@gmail.com>
- Date: Thu, 10 Mar 2011 10:04:19 -0300
Folha de São Paulo, 10 de março de 2011
Um em quatro aprovados desiste da USP
Dos 10.652 nomes da 1ª chamada do vestibular, 2.562 (ou 24%) não fizeram a matrícula; em 2005, foram 13%
Reitoria, escolas e MEC atribuem fato a aumento de vagas nas federais, seleção via Enem e bolsas e financiamentos
LAURA CAPRIGLIONE
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
A USP, maior universidade
pública do país, cujo logotipo
impresso em um diploma é
símbolo de excelência, essa
universidade foi, neste ano,
esnobada por nada menos do
que um em cada quatro alunos aprovados no vestibular.
Dos 10.652 nomes que
constavam na primeira chamada da Fuvest (fundação
para o vestibular), 2.562 não
se apresentaram para a matrícula. O resultado dessa espécie de evasão instantânea
é que nunca foi tão gorda a
lista da segunda chamada.
Em 2005, de 9.567 aprovados na Fuvest, 1.243 desistiram da USP na primeira chamada -dava 13% do total.
Cursinhos, reitoria da USP
e MEC atribuem o fenômeno:
1) à multiplicação de vagas
nas universidades federais (e
em algumas estaduais); 2) ao
Sisu (Sistema de Seleção Unificada do ministério), pelo
qual um estudante pode disputar vagas em várias universidades públicas, fazendo
apenas uma prova (o Enem);
3) ao ProUni (bolsas de estudo na rede privada); 4) ao
Fies (financiamento estudantil do governo federal),
que concede empréstimos
para pagamento de mensalidades a juros de 3,4% ao ano.
"Na prática, o aumento do
entorno tem impacto", admite a pró-reitora de graduação
da USP, Telma Zorn.
Segundo o secretário de
Ensino Superior do MEC,
Luiz Claudio Costa, foram firmados 71.600 contratos pelo
Fies em 2010, 420 mil bolsas
de ProUni estão atualmente
em vigor e o sistema federal
de ensino superior admitirá
243,5 mil calouros em 2012
(em 2003, eram 110 mil).
"São novas alternativas de
qualidade oferecendo-se aos
jovens de todo o país", diz.
Há desde o rapaz que prefere ir para uma escola privada perto de sua casa ou do
trabalho até aquele que, para
fazer o curso desejado em
uma instituição federal, até
topa mudar de Estado (28%
das vagas em disputa no Sisu
foram preenchidas por alunos "migrantes").
O fenômeno das desistências na USP tem afetado as
escolas de maneira diferenciada. Se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo houve
apenas uma desistência entre os 150 aprovados, o curso
de fonoaudiologia de Bauru,
com 40 vagas, ficaria às moscas se houvesse só a primeira
chamada. Nada menos do
que 39 evadiram-se antes da
matrícula (97,5% do total).
Das 19 carreiras com índice de desistência maior ou
igual a 40%, 16 estão em escolas do interior (Bauru, Ribeirão Preto, São Carlos, Pirassununga, Lorena).
A Fuvest já divulgou a terceira lista de aprovados, na
expectativa de preencher
1.113 vagas ainda sem dono.
Os convocados, é óbvio,
são candidatos que fizeram
menos pontos do que os chamados na primeira e segunda listas. O curso de fonoaudiologia de Bauru, onde 65%
das vagas continuam sem ter
quem as queira, está chamando 26 estudantes.
ENTREVISTA
Aluno hoje tem mais opções, diz pró-reitora
DE SÃO PAULO
O fenômeno se deve à
maior opção de universidades, e não à queda de
prestígio da USP, diz Telma Zorn, pró-reitora de
graduação.
(LC e FT)
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Folha - Como avaliar isso?
Telma Zorn - A situação
está mudando, o aumento
do entorno tem impacto.
Unesp, Unicamp e as federais se expandiram, todas
boas opções, felizmente.
Tem também o ProUni,
que mais que duplicou
suas bolsas de 2006 a 2011.
O aluno não pode achar
que a USP está inferior?
Nenhum aluno de bom
senso pode achar a USP
pior que as outras. Vai ao
contrário de tudo: é gratuita, tem inúmeras possibilidades artísticas e de esporte, que não há em outra.
Não há desprestígio.
ANÁLISE
Democratização do ensino cobra mudanças na universidade
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
Aos 77 anos, a USP precisa
decidir o que quer ser quando crescer. Os números que a
Folha publica hoje sugerem
que a vetusta universidade
paulista começa a ter arranhada sua até aqui incontestável posição de principal
instituição do país.
É claro que a USP tem gordura para queimar. Ela aparece como primeira universidade brasileira em rankings
internacionais e responde
por cerca de 25% da produção científica do país.
Não é preciso, porém, ser
gênio da matemática para
prognosticar que, se os melhores alunos do ensino médio estão cada vez
mais trocando a USP por outras instituições, é questão de tempo
até que isso se reflita na excelência da universidade.
Apesar do marketing, o fator que mais pesa na qualidade de um curso ainda é a
qualidade do corpo discente.
Existe, é claro, um lado
bom nesse fato. Isso é possível porque surgiram bons
centros em outros lugares,
além de mecanismos -como
Fies, ProUni e Sisu.
Não parece despropósito
descrever o fenômeno como
democratização do ensino
superior. Isso cobra da USP
um reposicionamento.
Há dois caminhos para a
instituição. Ela pode tentar
acompanhar e desenvolver
novas formas de inclusão. A
criação da USP Leste foi um
passo. Mas é difícil afirmar
que tenha sido um sucesso.
A outra possibilidade é
tentar firmar-se como uma
universidade de elite, voltada a formar os quadros que
darão aulas em outras instituições e à produção de ciência básica. Embora muitos
torçam o nariz à menção da
palavra "elite", seguir essa
rota não chega a ser estranho
às tradições da USP.
Ficar no meio do caminho
não parece uma opção sábia.
De um lado, a democratização está ocorrendo. Alunos
ricos ou pobres dependem
cada vez menos da USP para
cursar uma universidade.
De outro, a instituição enfrentará concorrência cada
vez maior (mesmo fora do
país) e deve pensar duas vezes antes de dispersar recursos em iniciativas que trarão
dividendos duvidosos.
--
Francisco Cribari-Neto, cribari@gmail.com, http://sites.google.com/site/cribari