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RES: [ABE-L]: Deu no Estadão



    Boa tarde,
 
    Desconheço as razões dessa desistência, mas se eu tivesse conquistado uma vaga na USP só abriria mão dessa vaga para seguir outra carreira ou por problemas financeiros (já que sou de outra região do país). Fora isso, faria o curso normalmente.
 
    Essa notícia me surpreendeu. Acho que valeria uma pesquisa por parte da USP.
 
 
 -----Mensagem original-----
De: Marcelo L. Arruda [mailto:mlarruda@ime.usp.br]
Enviada em: segunda-feira, 14 de março de 2011 12:20
Para: ABE Lista
Assunto: Re: [ABE-L]: Deu no Estadão

Prezados,
 
    Se me permitem um rápido pitaco, acho que grande parte dessa preferência por outras faculdades/universidades em detrimento da USP está no fato de esta possuir predominantemente cursos "tradicionais", enquanto várias particulares oferecem cursos "diferentes" e eventualmente mais atraentes, como Empreendedorismo, Hotelaria, Cosmetologia etc.
 
É isso,
Marcelo
----- Original Message -----
Sent: Sunday, March 13, 2011 6:18 PM
Subject: [ABE-L]: Deu no Estadão

O ESTADO DE SÃO PAULO, 13 de março de 2011

Obrigado, mas preferi outra

Dos aprovados para a USP, 2562 desistiram. Explicações oficiais e de cursinhos nada explicam


José de Souza Martins - O Estado de S.Paulo

Dos aprovados no vestibular da Fuvest cujos nomes constavam da primeira lista de convocados para matrícula, na capital e no interior, 24%, por algum motivo, deixaram de matricular-se em diferentes cursos da USP e desistiram de suas vagas. Uma segunda chamada foi feita e já agora uma terceira. Pode parecer estranho que 2.562 pessoas aprovadas para ingresso na mais prestigiosa universidade brasileira e uma das cerca de 200 mais importantes do mundo tenham desistido do privilégio por nada. As razões apresentadas tanto pela USP quanto pelo MEC e pelos cursinhos, na verdade, nada explicam: multiplicação de vagas nas universidades federais, escolha de vagas com base nos resultados do Enem e as bolsas concedidas pelo ProUni para ingresso em escolas superiores particulares. Esses seriam, eventualmente, motivos para não tentar o vestibular na USP, porque mais seletivo. Mas não os motivos para obter uma vaga através do vestibular mais exigente e depois recusá-la.

Os 13% de desistência semelhante, em 2005, já representavam uma incógnita que pedia estudos e pesquisas, sobretudo para sustentar medidas de economia de recursos públicos no supostamente mau investimento em vagas que não serão preenchidas ou o serão com estudantes que não obtiveram o melhor resultado no processo seletivo. Ou então para desenvolver uma economia mais ampla de apoio a alunos que estão ingressando ao mesmo tempo na idade adulta e na universidade e relutam em assumir um compromisso que poderá custar-lhes mais do que podem, apesar de universidade pública e gratuita.

Notícia da Folha de S. Paulo informa que, dos 19 cursos com índice superior a 40% de renúncia à matrícula, 16 estão no interior. Vários são os fatores que podem contribuir para a desistência. O mais provável é o de que os candidatos tenham feito inscrição em mais de um vestibular e em outros cursos de seu maior interesse em outras universidades. Dos inscritos no vestibular de 2009, 68% pretendiam fazê-lo também em outras universidades, incluídas as públicas.

Renúncias têm havido até em cursos de grande procura, na capital. Dos três cursos de maior procura e de maior prestígio, direito, engenharia e medicina, não foi propriamente pequeno o índice de renúncia ao direito de matrícula na primeira chamada ? respectivamente 11,6%, 19,7% e 5,7%. Todos cursos de alta disputa pelas vagas, com respectivamente 19, 14 e 49 candidatos por vaga. Seria, portanto, temerário inferir desses indicadores que haja excesso de oferta de vagas em relação à demanda. Sabemos todos que a universidade não é um supermercado, cuja dinâmica siga as oscilações do gosto e do consumo. Ao contrário, ela tem se antecipado à procura, oferecendo formação em função das carências que são as da própria produção e distribuição do conhecimento. É o que a USP tem feito com as novas licenciaturas para formação de docentes para o ensino médio em campos mais abrangentes da ciência.

A pesquisa que a Fuvest fez entre os vestibulandos, em 2010, mostra a proporção dos que se inscreveram em primeira opção em determinado curso. Em direito, o curso foi primeira opção para 57,9% dos inscritos para o diurno e apenas para 28,9% dos aprovados para o noturno. Medicina, o curso com maior número de candidatos por vaga, não foi primeira opção para 11,4% dos vestibulandos que para ele se inscreveram. E engenharia da produção, na Escola Politécnica, foi primeira opção para 41% dos aprovados. Ser chamado para um curso de segunda e terceira opção certamente representa uma frustração suficiente para estimular a renúncia à vaga e até a evasão posterior.

Uma universidade como a USP vai além da graduação. Envolve um complexo de compromissos e projetos também, e sobretudo, na pesquisa e na pós-graduação. O prestígio da USP é medido por critérios que envolvem esse conjunto denso: os resultados das pesquisas, as publicações, as participações de seus pesquisadores em reuniões científicas dentro e fora do Brasil, a formação de novos doutores. Não é casual que a USP esteja praticamente entre as 200 mais importantes universidades do mundo, no ranking do Times Higher Education, de Londres. Com o esclarecimento da instituição que o prepara de que ela está muito perto de retornar à lista: no ranking de 2005 a USP estava em 196º lugar e em 2007 em 175º lugar. A instituição sublinha que ela "esteve muito perto de entrar na lista das 200 instituições deste ano". E destaca que, no Brasil, provavelmente, apenas no Estado de São Paulo há universidades de classe internacional. Lembro que a USP, a Unicamp e a Unesp têm docentes em tempo integral, com doutorado, significativo desempenho em pesquisa e fundos adequados do governo, o que se deve sobretudo à Fapesp. O deslocamento da USP e de muitas outras universidades do mundo se deve ao aumento da competição pelas melhores colocações. A Alemanha emplacou apenas três universidades entre as cem primeiras.

JOSÉ DE SOUZA MARTINS, PROFESSOR EMÉRITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, É AUTOR DE A SOCIABILIDADE DO HOMEM SIMPLES (CONTEXTO)