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Re: [ABE-L]: Harvard brasileira



Caros Redistas,


Sem acentos, eu pensava que a comparacao da materia era apenas em termos da area de Matematica,
pois estava escrito:

"Segundo dados da American Mathematical Society, a instituiÃÃo brasileira publica, em mÃdia, 2,03 artigos relevantes por pesquisador ao ano,
enquanto Harvard alcanÃa 1,89 e Princeton, 1,83 (veja o acima)".

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Nao seria isso?

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Cordiais Saudacoes,

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Gauss


"There is no branch of mathematics, however abstract, which may not some day be applied to phenomena of the real world" (Lobachevsky).



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Em 20/03/2011 12:25, Francisco Cribari < cribari@gmail.com > escreveu:
Fonte:Âhttp://vejabrasil.abril.com.br/rio-de-janeiro/editorial/m2356/nossa-pequena-harvard
23/03/2011
EducaÃÃo

Nossa pequena Harvard

Caio Barreto Briso

Escondido em meio à Floresta da Tijuca e pouco conhecido atà mesmo dos cariocas, o Instituto Nacional de MatemÃtica Pura e Aplicada rivaliza em excelÃncia com as melhores universidades americanas

Germano Luders / Fernando Lemos
Welington de Melo, Jacob Palis e Artur Ãvila, na Biblioteca do Impa (foto do prÃdio principal abaixo): trÃs geraÃÃes de talentos

Passada a primeira curva da Estrada Dona Castorina, que leva ao mirante da Vista Chinesa, no bairro do Horto, sobressai a entrada de uma propriedade cercada pelas Ãrvores da Floresta da Tijuca. Ali, em um terreno de 15 000 metros quadrados, um vasto prÃdio se esparrama por trÃs alas. Pelos corredores, o silÃncio monÃstico à cortado de tempos em tempos por diÃlogos em portuguÃs, inglÃs, francÃs e espanhol. NÃo raro, incorporam-se a essa babel de idiomas expressÃes em russo e mesmo persa, uma das lÃnguas mais antigas do planeta. à nesse ambiente, mistura de bucolismo e aldeia global, que 226 matemÃticos desenvolvem estudos complexos e projetos de repercussÃo internacional. Embora nÃo seja muito conhecido entre os prÃprios cariocas, o Instituto Nacional de MatemÃtica Pura e Aplicada (Impa) à unanimemente apontado entre os especialistas como um dos principais centros de pesquisa do mundo. Ancorado em sÃlida produÃÃo cientÃfica, exibe uma performance surpreendente, ultrapassando Ãndices de departamentos de universidades americanas como Harvard, Princeton e Berkeley. Segundo dados da American Mathematical Society, a instituiÃÃo brasileira publica, em mÃdia, 2,03 artigos relevantes por pesquisador ao ano, enquanto Harvard alcanÃa 1,89 e Princeton, 1,83 (veja o acima). âSempre buscamos a excelÃncia, e essa performance à apenas o resultado desse compromissoâ, orgulha-se o diretor CÃsar Camacho.

Sabe-se que um nÃcleo de ensino superior se torna respeitado à medida que consegue atrair talentos dos quatro cantos do globo. Entre os centros americanos, considerados os primeiros do mundo, a presenÃa de acadÃmicos estrangeiros chega a 30%. No perÃodo Ãureo do sistema universitÃrio alemÃo, na dÃcada de 20 e inÃcio dos anos 30, quando a importaÃÃo de cÃrebros era incentivada, o paÃs produziu 21 prÃmios Nobel. Portanto, faz parte da vocaÃÃo de uma ilha de excelÃncia reunir grandes cabeÃas, independentemente de onde elas estejam. Um recente processo para a escolha de dez vagas nos programas de pesquisa e pÃs-doutorado dà uma ideia da reputaÃÃo internacional do Impa. Anunciado o âvestibularâ, apareceram 185 candidatos. Da Europa, vieram 66. Da Ãsia e AmÃrica do Norte, 43 e 26, respectivamente. O s latino-americanos perfaziam 28, enquanto os brasileiros eram 23. Encerrada a seleÃÃo, apenas duas posiÃÃes foram ocupadas por estudantes daqui, um cearense e uma gaÃcha. Outras sete foram divididas por representantes de naÃÃes diferentes (Inglaterra, Alemanha, Espanha, ItÃlia, Portugal, Israel e RÃssia). E detalhe: uma Ãltima vaga permaneceu em aberto por falta de postulante suficientemente qualificado. âNÃo temos cota. Simplesmente escolhemos os melhoresâ, diz Camacho. Uma vez selecionados, os pÃs-doutorandos ganham 7 500 reais mensais, enquanto os pesquisadores tÃm salÃrios entre 12 000 e 15 000 reais.

NÃo à fÃcil reproduzir em palavras todo tipo de trabalho desenvolvido no cÃmpus do Horto â para isso, seria melhor fazer uso de equaÃÃes e algoritmos. Alguns projetos, porÃm, sÃo de fÃcil entendimento. Existem aplicativos para iPhone, simuladores de realidade virtual e atà um recorde mundial alcanÃado em 2010: uma imagem com a maior resoluÃÃo grÃfica do planeta (veja o quadro aqui). Tamanha produtividade, pouco comum entre nÃs, pode ser explicada por diversas razÃes. Mas a principal delas à a capacidade dos que ali estÃo. O Impa tem formado sucessivas geraÃÃes de gente que faz diferenà §a. O mais reconhecido à Jacob Palis, 71 anos, tido como gÃnio mundial dos sistemas dinÃmicos. No ano passado, Palis, doutor por Berkeley, nos Estados Unidos, foi agraciado com o PrÃmio Balzan, uma das principais distinÃÃes europeias. AlÃm de ser o primeiro brasileiro a receber a honraria â e o 1,2 milhÃo de reais que a acompanha â , Palis tornou-se o sÃtimo matemÃtico a entrar para o grupo de agraciados. Empenhado em transmitir seus conhecimentos, ele se emociona ao relembrar que orientou 41 teses de doutorado ao longo da carreira. Desde entÃo, esses mesmos doutores jà formaram outros 150 matemÃticos do instituto. âEssa à a essÃncia do conhecimento, em que os mais experientes formam os mais jovens, sucessivamenteâ, resume.

Fernando Lemos
Os pesquisadores Diego Nehab e Carolina AraÃjo, ambos de 34 anos: volta ao Brasil depois de cursarem doutorado em Princeton, uma das universidades mais importantes do mundo

Tal filosofia, fortemente baseada na meritocracia, deu origem a uma linhagem de superpesquisadores como Marcelo Viana, Ricardo MaÃà e Welington de Melo, reconhecidos no Brasil e no exterior pela notÃria desenvoltura com nÃmeros. E desaguou em prodÃgios como Artur Ãvila, de 31 anos. Ele à considerado o mais forte candidato a ganhar a medalha Fields, uma espÃcie de PrÃmio Nobel de MatemÃtica, entregue a cada quatro anos. Seria o primeiro brasileiro a conquistÃ-la. Hà uma dÃcada, antes mesmo de ter um diploma de graduaÃÃo, ele havia concluÃdo seu doutorado no Impa. Famoso no exterior pela capacidade de resolver os problemas mais complexos, ele se divide hoje entre Paris, onde à um dos diretores do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), e o Rio de Janeiro. âA maioria das pessoas sà conhece o tema nos tempos de escola e ignora o vasto horizonte nessa Ãreaâ, diz. Ãvila, de fato, respira o assunto. NÃo raro, acorda no meio da noite com ideias e novos caminhos para suas teses. Durante o banho, nas caminhadas e atà no metrÃ, as equaÃÃes lhe vÃm à cabeÃa. Costuma dizer que prefere nÃo dirigir porque, devido a sua capacidade de abstraÃÃo, poderia perder a concentraÃÃo e bater o carro.

Fernando Lemos
Sala de estudos do cÃmpus, no Horto: atmosfera ao mesmo tempo informal e cosmopolita

Por qualquer Ãngulo que se olhe, a educaÃÃo brasileira està longe do ideal. Em seu ranking mais recente sobre o ensino fundamental, a Unesco atribuiu ao paÃs a 88 posiÃÃo entre as 127 naÃÃes analisadas â atrÃs de BolÃvia e NamÃbia. Outra lista, sobre as 200 melhores universidades do mundo, feita pela revista inglesa Times Higher Education, nÃo incluiu nenhuma das nossas. Ou seja: estamos mal em cima e em baixo. Por nÃo ter cursos de graduaÃÃo e se dedicar unicamente à matemÃtica, o Impa nÃo à avaliado nesse tipo de levantamento. Mas sua trajetÃria poderia servir de exemplo e inspiraÃÃo. Criado pelo governo federal em 1952, o instituto surgiu antes de outros correlatos â como o de Pesquisas Espaciais em SÃo Josà dos Campos (SP) e o da AmazÃnia, em Manaus. Com o tempo, graÃas à adoÃÃo de um sistema de gestÃo diferenciado, foi se descolando de seus pares. Trata-se de uma organizaÃÃo que recebe repasses pÃblicos, mas tem independÃncia administrativa. Com isso, as contrataÃÃes e os investimentos sÃo mais Ãgeis. Se a direÃÃo julgar procedente, os acadÃmicos poderÃo ser punidos com a demissÃo. âIsso faz uma enorme diferenÃa, pois dà autonomia. Pesquisa nÃo se faz no improvisoâ, afirma o economista Claudio de Moura Castro, especialista e consultor na Ãrea.

Costurados com carinho, os laÃos com a iniciativa privada tÃm se mostrado outro importante diferencial. A cada ano, o instituto recebe 18 milhÃes de reais em repasses do MinistÃrio da CiÃncia e Tecnologia. Mas, alÃm de administrar tais recursos com rigor, busca tambÃm financiadores externos, seja atravÃs de parcerias, seja por meio de simples filantropia. Desde 2007, por exemplo, o economista e ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga doou 1,6 milhÃo de dÃlares para seus cofres. O dinheiro foi destinado à criaÃÃo de um posto permanente de pesquisador. Em seguida, foi a vez de o banqueiro Pedro Moreira Salles e seu irmÃo, o cineasta JoÃo Moreira Salles, destinarem 660 000 reais para a manutenÃÃo de duas vagas de doutorado e mais duas de pÃs-doutorado. O Ãltimo a entrar na lista foi o cÃlebre matemà tico americano James Simons, dono de uma fortuna de 10,6 bilhÃes de dÃlares e o 74 homem mais rico do mundo. No inÃcio do ano, ele se comprometeu a aplicar 1,6 milhÃo de dÃlares. âA matemÃtica à fundamental para a boa educaÃÃo,Âe o Impa à um centro de padrÃo mÃximoÂglobal, talvez a instituiÃÃo brasileira de maior prestÃgio internacionalâ, explica Fraga. âDe là saem pessoas que espalham pelo Brasil ideias e padrÃes essenciais, vitoriosos.â

Fernando Lemos
O inglÃs Morris, o iraniano Movasati e o argentino Heloani: salÃrios compatÃveis com os dos melhores centros e excelentes condiÃÃes de pesquisa atraem matemÃticos de vÃrios paÃses

Nas grandes universidades do mundo, os pesquisadores de ponta gozam de uma invejÃvel independÃncia, seja para dispor de seu tempo, seja para escolher os rumos de seu trabalho. O mesmo acontece com os matemÃticos da ilha de excelÃncia carioca. O fato de nÃo terem de dar aulas para graduaÃÃo lhes permite uma maior dedicaÃÃo a seus prÃprios projetos. à curioso observar que, frequentemente, um estudante de determinada Ãrea nÃo entende absolutamente nada das outras. âEu sou da computaÃÃo grÃfica e as outras especialidades sÃo praticamente outra lÃngua para mimâ, confessa Diego Nehab. Aos 34 anos, ele à representante da nova geraÃÃo de estudiosos do instituto. Doutorou-se em Princeton e passou pelo centro de inovaÃÃo da Microsoft, na costa oeste americana. Com tantas credenciais, Nehab poderia ter con tinuado nos Estados Unidos, mas, quando soube da vaga, decidiu que era a hora de voltar. âAqui tudo funciona. Os equipamentos sÃo Ãtimosâ, diz ele. TrajetÃria semelhante teve Carolina AraÃjo, de 34 anos. Como Nehab, ela fez doutorado em Princeton. LÃ, sua sala ficava no mesmo andar do escritÃrio de John Forbes Nash, ganhador do Nobel de Economia em 1994 â e inspirador do filme Uma Mente Brilhante. âEle ia diariamente à universidade. Sempre nos cumprimentÃvamosâ, recorda. A perspectiva de desenvolver projetos na Ãrea de geometria algÃbrica a animou a trocar os Estados Unidos pelo Rio. Com isso, tornou-se tambÃm a Ãnica mulher a ocupar um posto na elite do Impa.

PresenÃas marcantes no belo cÃmpus do Horto, os estrangeiros parecem se sentir em casa. Adepto de um uniforme pouco usual entre as estrelas acadÃmicas de seu paÃs, o argentino Reimundo Heloani, de 33 anos, percorre os amplos corredores do instituto de camiseta, bermuda e chinelo de dedo, aliÃs um visual comum por ali, principalmente entre os expatriados. Com especializaÃÃo no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e em Berkeley, escolheu o Brasil para fazer suas pesquisas em uma Ãrea aqui ainda pouco explorada, a fÃsica matemÃtica. O inglÃs Robert Morris, de 30 anos, segue o mesmo estilo. Graduado na Universidade de Cambridge, o maior celeiro de prÃmios Nobel do planeta (82 no total), ele se diz apaixonado pelo Rio: âO salÃrio à Ãtimo, muito parecido com o que se paga na Europa. AlÃm disso, os coleg as sÃo mais abertos para a troca de conhecimentoâ. Com sua mistura de rigor acadÃmico e informalidade, o Impa atrai atà representantes de culturas longÃnquas, como o iraniano Hossein Movasati. Hà quatro anos na cidade, apÃs uma experiÃncia na Alemanha e no JapÃo, ele foi o primeiro de seu paÃs a estudar na nossa pequena Harvard. Agora, espera que conterrÃneos sigam seus passos. âOutros virÃoâ, avisa Movasati. As portas estÃo abertas. Mas apenas para os melhores.