[Prévia] [Próxima] [Prévia por assunto] [Próxima por assunto]
[Índice cronológico] [Índice de assunto]

Re: [ABE-L]: Deu na Veja



Caro Cribari,
Muito boa a defesa do trabalho intelectual, sem o ranco de conveniencia politica do utilitarismo: 1 para a VEJA.
	Escrevi para reclamar da VEJA que, em sua ultima capa, que recebi
hoje, retrata a ETERNA elizxabeth Taylor, entre todas as sua imagens eternas, numa foto 'colorida' esmaecida: 4 contra a VEJA (cor na foto; nao eh nem
de longe aquela em que ela aparece mais bonita; cortaram por conveniencia da
marca VEJA seu braco direito abaixo do cotovelo; as sombras estao erradas).
	Resultado: VEJA perdeu de 4 a 1.
	Um abraco,
			Aluisio.

P.S.: Parabens por sua palestra em Fortaleza. Primeiro, o torpor, agora o rancor ...

On Sun, 27 Mar 2011, Francisco Cribari wrote:


    Fonte: 

    http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/precisamos-formar-sabios


25/03/2011 - 21:18

    Entrevista: Drew Faust

                 'As universidades precisam formar sábios'

A REITORA DE HARVARD DIZ QUE INSTITUIçõES DEVEM RESOLVER QUESTõES
PRáTICAS, MAS NãO PODEM IGNORAR A MARCA DO PRóPRIO DNA: PRODUZIR
CONHECIMENTO

Nathalia Goulart
Drew Gilpin Faust, reitora da Harvard University

Drew Gilpin Faust, reitora da Harvard University (Fernando Cavalcanti)

Primeira mulher a ocupar o posto de reitora da Universidade Harvard,
considerada a melhor do mundo em vários campos de pesquisa, a historiadora
americana Drew Gilpin Faust é constantemente instada a fazer com que a
instituição que dirige apresente soluções práticas para todos os males que
afligem o planeta ? do desemprego ao aquecimento global. Harvard não se furta
a abordar esses problemas. Mas a reitora faz um alerta. A demanda por
respostas instantâneas não pode afastar as instituições de ensino superior
de uma missão mais elevada: a produção de conhecimento puro, aquele cuja
aplicação muitas vezes não se faz de forma imediata. "A sociedade nos pede
soluções. Mas a universidade não deve se preocupar apenas com o bem estar
imediato dos seres humanos, precisa fazer também com que eles sejam sábios",
diz.  A acadêmica esteve no Brasil nesta semana para discutir parcerias com
universidades locais. "As instituições brasileiras e americanas têm muito o
que aprender umas com as outras", afirma. Na entrevista a seguir, ela
explica como Harvard mantém a excelência em ensino e pesquisa, como
seleciona seus talentos entre milhares de estudantes e conta como o cargo de
reitora alterou sua vida pessoal.

Esta é sua primeira visita ao Brasil e a universidades brasileiras, com as
quais a senhora discute parcerias. O que Harvard, considerada a melhor
universidade do mundo, pode fazer por nossas universidades? Vejo nossa
relação como uma parceria. O Brasil é uma das economias mais dinâmicas do
mundo, tem crescido muito rapidamente e, ao mesmo tempo, enfrenta desafios
em áreas pelas quais nos interessamos, como meio ambiente. As instituições
brasileiras e americanas têm muito o que aprender umas com as outras.

Segundo João Grandino Rodas, reitor da Universidade de São Paulo, a mais
prestigiada instituição do país, o ensino superior local se encontra na
mesma situação que o americano há cem anos. O que as universidades
brasileiras têm a oferecer a Harvard? O Brasil tem ótimos pesquisadores e
estudantes com perspectivas diferentes daquelas a que estamos habituados.
Temos muito o que aprender com essa diferença.

Harvard recebeu mais de 30.000 inscrições de estudantes ano passado, para
preencher cerca de 1.600 vagas. Como escolher os melhores? É preciso ir
atrás deles? Sim. Nossos escritórios de admissão visitam escolas dentro e
fora dos Estados Unidos para falar sobre Harvard e sobre nosso generoso
programa de ajuda de custo. Esse esclarecimento é importante porque a
tendência é que o estudante pense que Harvard jamais se interessará por ele
ou que ele jamais conseguirá pagar integralmente seus estudos. Por isso,
vamos aos estudantes mostrar quem somos, como selecionamos nossos alunos e
que apoiamos aqueles oriundos de famílias modestas.

No Brasil, a seleção de alunos é feita a partir de uma única prova. Ao
contrário dos Estados Unidos, aqui, não são levados em conta o desempenho
dos estudantes no ensino médio ou demais aptidões ou projetos. O sistema
brasileiro de seleção prejudica a eficiência de nossas universidades? Eu não
ousaria julgar o processo seletivo das universidades brasileiras, mas posso
explicar como fazemos em Harvard. Nosso sistema de seleção também está
baseado em exames de qualificação, como o SAT. Além disso, avaliamos ensaios
que os candidatos nos enviam. Eles servem para avaliar a escrita e as ideias
de cada jovem. Também estamos interessados no histórico escolar do aluno, em
como ele evoluiu ao longo do ensino médio, e nas atividades
extra-curriculares. É importante mostrar liderança, caráter e diversidade de
interesses. A convivência no campus é algo muito valorizado e saber que cada
estudante vai contribuir de forma enriquecedora é uma força que nos motiva
na hora de selecionar nossos estudantes.

Uma pergunta simples: o que faz de Harvard a melhor universidade do
mundo? Além de Harvard ter uma longa tradição de excelência, nos preocupamos
em atrair os melhores talentos. E acredito que isso seja parte significativa
do que leva Harvard ocupar e sustentar essa posição de liderança. As pessoas
sabem que ali é um lugar que nutre talentos e excelência, e todos querem
fazer parte disso. Também fomos, ao longo dos anos, recebendo a ajuda
generosa de famílias, apoiadores e ex- alunos, pessoas que continuam a
contribuir com Harvard mesmo depois de terem deixado a universidade. Essa
ajuda é muito importante para nós.

O caráter multinacional do campus, com pessoas de diversos países e
culturas, contribui para a inovação e excelência? Certamente. Durante minha
estadia aqui em São Paulo, conversei com brasileiros que estudaram em
Harvard. Eles me falaram sobre esse caráter multinacional e sobre como isso
torna animador o ambiente. Somados todos os níveis de graduação, Harvard
conta hoje com de 20% de estrangeiros. Isso torna constante o processo de
descoberta. Os estudantes vão buscar no mapa onde seus companheiros vivem,
começam a se preocupar com o que está acontecendo no mundo e aguçam suas
curiosidades por outras culturas. Também incentivamos nossos estudantes a
embarcar em experiências fora dos Estados Unidos enquanto estão cursando a
graduação. Continue a ler a entrevista

Divulgação/Universidade de Harvard

Drew Faust, reitora de Harvard, encontra estudantes brasileiros durante sua
passagem por São Paulo

Drew Faust (ao centro) encontra estudantes brasileiros durante sua passagem
por São Paulo

 

Em artigo recente para o jornal The New York Times, a senhora afirma que as
universidades vivem uma crise de propósitos. Poderia explicar essa ideia? Um
debate frequente de nossos dias é acerca de como as universidades podem
contribuir com as necessidades mais imediatas da sociedade. Algumas delas
são necessidades econômicas, e os estudantes vão às universidades de forma a
serem treinados e qualificados para futuros empregos. Outras são descobertas
e inovações e outros tipos de intervenções que podem ter um efeito imediato
no mundo, como a cura de uma doença. Mas as universidades têm outros
propósitos, que são de longo prazo e que são mais difíceis de mensurar, mas
que são extremamente importantes para todos nós. No encontro que tive com os
reitores brasileiros, ouvi uma frase que resume esse pensamento: a sociedade
nos pede soluções para problemas práticos. Mas a universidade não deve se
preocupar apenas com o bem estar imediato dos seres humanos, precisa fazer
também com que eles sejam sábios. As universidades têm esse propósito
humano, histórico, antropológico, que nos faz transcender o momento
presente. Não nos preocupamos apenas se nossos alunos terão emprego amanhã.
Precisamos garantir que eles tenham conhecimento.

Os Estados Unidos e o mundo enfrentam grandes desafios, como superar a crise
econômica, combater o aquecimento global, garantir o suprimento de energia,
entre outros. Como as universidades, do Brasil e dos Estados Unidos, podem
ajudar seus cidadãos? As respostas para esses problemas estão relacionadas
ao conhecimento. Portanto, as pesquisas e a educação que as universidades
oferecem têm um grande impacto. No ano passado, eu estava em Botsuana e um
dos cientistas desenvolveu uma técnica para bloquear a transmissão do vírus
da HIV da mãe para o bebê. Foi muito comovente ver como o conhecimento e a
pesquisa fizeram uma enorme diferença na vida daquelas crianças. Exemplos
como esse mostram como as pesquisas realizadas nas universidades podem
realmente fazer a diferença no combate a problemas mundiais.

A crise econômica americana afetou as finanças de Harvard? O que foi feito
para superar isso? Com a crise, uma das nossas maiores fontes de renda ? as
doações vindas de ex-alunos e outros doadores ? foi severamente reduzida.
Responsável pelo pagamento de 35% das nossas despesas operacionais, as
doações sofreram uma queda de 27,5%. Diante desse cenário, tivemos que
reduzir nossos gastos, cortando imediatamente custos que identificamos como
desnecessários. Em um segundo momento, começamos a identificar mudanças de
longo prazo. Fizemos uma análise sistemática da maneira como estamos
organizados e buscamos formas de poupar despesas. Ao mesmo tempo, tomamos
muito cuidado para identificar prioridades, cuja manutenção deveria ser
assegurada. Uma delas é a ajuda financeira que damos aos nossos estudantes.
Protegemos áreas como essas, que julgamos vitais para a universidade.

A senhora é a primeira mulher reitora de Harvard. Quais os efeitos disso
entre as mulheres, dentro e fora da universidade? Acredito que esse cargo
tem uma simbologia muito forte. Quando fui nomeada, recebi muitas cartas e
e-mails, particularmente de jovens mulheres, que me diziam que fazia
diferença para elas saber que uma mulher podia ocupar o cargo. Lembro-me de
ter recebido uma carta de um pai que dizia: "Agora, sei que minha filha pode
fazer qualquer coisa."

A senhora é uma pesquisadora, especialista na história da Guerra Civil
americana, além de mãe de duas filhas. O cargo de reitora de uma das mais
prestigiadas universidades do mundo certamente alterou sua rotina, não? Sim,
mudou bastante. Ao menos não precisei contratar uma babá, porque minhas
filhas já estão crescidas! Mas meu trabalho atualmente me ocupa
integralmente. Vivo em uma casa dentro do campus e, a todo minuto, sinto que
a universidade está presente na minha vida. Harvard está sempre no meu
pensamento e também está nas minhas atividades. Então, minha vida é
completamente diferente hoje.