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Deu na Folha de SP de 31/marco




QuÃmico da Unicamp à acusado de fraudar 11 estudos cientÃficos


AcusaÃÃo contra Claudio Airoldi, 68, à provavelmente a mais sÃria de mà conduta cientÃfica registrada no paÃs


Professor à um dos principais cientistas da universidade e tambÃm membro da Academia Brasileira de CiÃncias



RICARDO MIOTO

DE SÃO PAULO

REINALDO JOSÃ LOPES

EDITOR DE CIÃNCIA

Uma investigaÃÃo internacional apontou fraude em 11 artigos cientÃficos de um respeitado professor titular de quÃmica da Unicamp.
Tudo indica que se trata da denÃncia mais sÃria de mà conduta cientÃfica da histÃria da ciÃncia brasileira, apesar da escassez de levantamentos sobre o tema. Em geral, os casos envolvem plÃgio, e nÃo invenÃà £o de resultados.
Os trabalhos que conteriam fraude saÃram em vÃrias revistas cientÃficas da Elsevier, multinacional que à a maior editora de periÃdicos acadÃmicos do mundo.
Os estudos da Unicamp foram retratados (ou seja, "despublicados", nÃo tendo mais validade para a comunidade cientÃfica). A Elsevier afirmou que os sinais de manipulaÃÃo sÃo "conclusivos".
Claudio Airoldi, de 68 anos, à um dos pesquisadores mais experientes da Unicamp: està na universidade paulista desde 1968.


NO TOPO


Na classificaÃÃo do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento CientÃfico e TecnolÃgico, principal ÃrgÃo federal a financiar ciÃncia no paÃs), ele à bolsista de produtividade nÃvel 1A, o mais elevado, e membro da Academia Brasileira de CiÃncias. à o associado n 17 da Sociedade Brasileira de QuÃmica.
Ele teria falsificado imagens de ressonÃncia magnÃtica que servem para estudar ca racterÃsticas de novas molÃculas. Um dos artigos dizia que uma delas delas, por exemplo, tinha uma estrutura que serviria para absorver metais tÃxicos da Ãgua.
Os trabalhos foram publicados entre 2008 e 2010 em colaboraÃÃo com um aluno de pÃs-graduaÃÃo, Denis Guerra, hoje professor adjunto na Universidade Federal de Mato Grosso.
A Elsevier diz que o procedimento de investigaÃÃo envolveu trÃs cientistas revisores independentes, e que todos eles concluÃram que "estava claro que os resultados tinham sido manipulados". A editora diz ter pedido e recebido uma defesa dos cientistas brasileiros, mas, segundo ela, o material enviado nÃo prova nada.
"Estava previsto que algo assim ia acontecer. Ia ser muito difÃcil segurar isso porque a pressÃo para publicar à muito grande e existe leniÃncia em relaÃÃo a esse comportamento", diz SÃlvio Salinas, fÃsico da USP que segue de perto os casos de mà conduta cientÃfica no paÃs.
De fato, diferentemente dos Estados Unidos, que contam com uma agÃncia federal para investigar casos assim, o Brasil deixa o acompanhamento dos casos e possÃveis puniÃÃes nas mÃos das instituiÃÃes onde ocorrem.
NÃo existem estatÃsticas consolidadas sobre o tema por aqui. Mas, num clima de competiÃÃo cientÃfica acirrada e globalizada, com pesquisadores cada vez mais pressionados para mostrar sua produÃÃo em nÃmeros, mais casos sÃo esperados.
Nos prÃprios EUA, em 16 anos as fraudes cientÃficas cresceram 161%. Em paÃses como China e Brasil, onde a publicaÃÃo bruta de artigos cientÃficos tem crescido muito sem que a qualidade acompanhe esse ritmo, o fenÃmeno deve aparecer mais.
"As universidades e as agÃncias de fomento precisam tomar providÃncias quanto a isso. Nunca tinha tido conhecimento sobre algo dessa dimensÃo no Brasil - a ordem de grandeza à similar a casos de fraude que ocorrem na China", diz Salinas.
A Unicamp instaurou uma sindicÃncia interna para apurar o caso. Segundo a universidade, ela deve ser concluÃda em 30 dias.



"There is no branch of mathematics, however abstract, which may not some day be applied to phenomena of the real world" (Lobachevsky).



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