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Re: [ABE-L]: Ciência à deriva



Muito oportuno o artigo de Rogério Cezar de Cerqueira Leite, em particular os 
4 pontos listados por ele são basilares, e vejo com tristeza como eles 
descrevem o perfil atual da UFRJ.


 1 - O  órgão máximo no Brasil, o conselho universitário, é constituído 
> essencialmente por membros da corporação interna (70 na Unicamp e 
> cem na USP), enquanto nas grandes universidades do exterior o órgão 
colegiado> supremo é formado por uma grande maioria de cidadãos prestantes 
> externos à universidade (entre dez e 15), frequentemente empresários,
>  dirigentes de instituições da sociedade civil etc.

Na UFRJ o representante dos ex-alunos no CONSUNI, na gestão que ora se 
encerra, era o diretor da Escola de Engenharia. O motivo para esse absurdo era 
de natureza política para garantir a maioria da bancada da Reitoria. Ou seja 
pioraram ainda mais o que já estava ruim...

 2 - Enquanto no Brasil eleições de reitores e diretores se fazem entre e por 
> grupelhos da corporação interna, desnaturando a atividade acadêmica, 
> nas boas universidades do exterior o conselho escolhe um comitê de 
> busca para procurar seus reitores e diretores, principalmente fora 
> da universidade.

Desnecessário dizer o quanto lamentável foi o processo eleitoral na UFRJ, com 
manipulações de datas, pressões sobre as diretorias, promessas de cargos e 
benfeitorias, enfim uma miniatura das eleições no país. Importa muito a figura 
do reitor, pois inspira o corpo social da universidade. O reitor que ora 
encerra o seu segundo termo, após eleger o sucessor, é um político nato, 
estrategista e duelista temível, porém não é um criador ou produtor de 
conhecimento.

 3 - No Brasil, tudo favorece a endogenia ("inbreeding"), enquanto no exterior 
uma pluralidade de mecanismos é  adotada para eliminá-la em todos os níveis da 
carreira universitária. São escolhidos fora da universidade os professores 
titulares e, por vezes, os associados.

Totalmente fora de controle o casamento entre primos, irmãos, e demais 
parentes. Em algum momento a genética vai dar o troco.

 4 - Finalmente, nas  universidades americanas o pesquisador-docente só 
alcança  estabilidade, e assim mesmo precária, no fim da carreira; aqui,
>  começa como vitalício. Sabemos, portanto, por que nossas 
> universidades são deficientes. Resta ver se temos vontade política 
> para mudar, o que não fizemos nesse intervalo de 35 anos.

Todas as espertezas cometidas ora pelo governo, ora pelos sindicatos, ora 
pelos docentes destruíram a carreira docente. Hoje se algum docente dedicado à 
DE for pedir um aumento de salário vai ouvir sugestões como: arruma uma bolsa, 
faz uma consultoria, se aposenta e faz outro concurso, abre uma empresa e bota 
um laranja, assim por diante...

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> *ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE*, 79, físico, é professor emérito 
> da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), presidente do 
> Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de 
> Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial da *Folha*.
>