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Explicando ou viajando?
- Subject: Explicando ou viajando?
- From: cpereira@ime.usp.br
- Date: Sat, 12 Nov 2011 11:26:51 -0200
Vou pegar a oportunidade que o Julio deu para contar algo importante
sobre nossa formação tanto cultural como científica/acadêmica.
Devo dizer que a distância entre o Bragança de meu nome e o da família
real está muito maior do que a do Stern de meu amigo para o da família
H Stern. Posso afirmar que meu avô do lado Bragança foi puxador de
carroça como alguns de meus tios, filhos dele. Sabem quantos tios
oficiais eu tenho/tinha? 31, um número primo relevante para eu e o
Basílio. Não conhecemos nem a metade deles. A pobreza de muitos não
nos deu chance, pois se foram antes de nós.
Mas a distância aristocrática e a distância financeira não têm nada
haver com a distância cultural/hereditária que existe entre nossos
ancestrais, meu e do Julio. Minha sorte foi, inconscientemente, ter
percebido isso desde jovem. Colei em dois colegas: um de descendência
alemã/judaica ? o saudoso Ronaldo Jack Eckstein ? e o outro que todos
conhecem muito bem de formação cultural sociológica das melhores que
conheci ? o querido amigo José Ferreira de Carvalho. Colar nestes
dois amigos me fez ver a necessidade da cultura geral e
acadêmica/científica para um futuro mais feliz: aumentaria a chance de
sucesso em canais de nosso futuro. O destino me fez cair no ambiente
deste outro Judeu/Alemão de origem; o meu colega, amigo e colaborador
Julio Stern.
Claro que tive outros amigos importantes como o Caio, o Flávio e o
Euclydes. Mas estes eram os que funcionaram como substituto de minha
família que continuou no Rio e de orientadores de início de carreira
acadêmica. Como aproveitei desses pobres coitados que aceitaram serem
meus amigos. Não mencionei aqui outro querido amigo com o qual divido
todas as minhas angústias e depressões e que me leva a mundos
filosóficos que eu nunca tinha navegado: Falo de Sergio Wechsler um
Judeu de origem européia de muita história Francês-Holandesa. Tenho
pena de todos eles que me agüentam em muitos dos meus canais de
diferentes necessidades.
Meus ex-alunos sofrem comigo, pois tenho cobrado deles mais talvez do
que gostariam de sofrer.
Não peço desculpa a nenhuma dessas pessoas, pois penso que ainda vou
explorar muito esses que ainda estão vivos.
Voltando ao passado distante: O destino fez com que felizmente
fossemos morar no melhor, para mim, bairro do Rio; o Leblon. Nossa
moradia ficava ao lado da Praia do Pinto, na época a maior favela do
Rio. Só depois de voltar do programa de doutorado em 1980 tive a
descoberta que, embora meus companheiros de praia visitassem muito
minha casa, eu nunca tinha entrado na grande maioria das casas deles.
Nunca entrei em um dos palacetes da Rua Almirante Guilhem, rua onde
morávamos. Nunca me fizeram falta tais visitas, tanto é que só
percebi isso depois de minha volta dos EUA.
Mas voltando aos idos da juventude, na casa do Zé ia para estudar e
fazer redações - o cara continua bom nisso - e em pensar a sociedade.
Nos momentos de descanso aproveitávamos o fato dele ser radio amador
(na verdade seu pai) para ouvirmos rotineiramente os discursos de
Fidel. Com o Ronaldo tive a felicidade de ele me obrigar a não fazer
nada que os outros faziam. Estudávamos, mas na hora dos trabalhos de
casa não podíamos abrir nada: era só pensar.
Acho que chega né? Como podem notar não tenho o direito de reclamar da
vida, pois como dito em outra reflexão, as lembranças dos amigos e da
família e mesmo de todo nosso passado é o maior patrimônio que possuo.
Meu amigo Julio e meu irmão Basílio fazem parte também desse imenso
patrimônio que é de mim inseparável.
Um grande final de semana prolongado.
Carlinhos
Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>