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Explicando ou viajando?



Vou pegar a oportunidade que o Julio deu para contar algo importante sobre nossa formação tanto cultural como científica/acadêmica.

Devo dizer que a distância entre o Bragança de meu nome e o da família real está muito maior do que a do Stern de meu amigo para o da família H Stern. Posso afirmar que meu avô do lado Bragança foi puxador de carroça como alguns de meus tios, filhos dele. Sabem quantos tios oficiais eu tenho/tinha? 31, um número primo relevante para eu e o Basílio. Não conhecemos nem a metade deles. A pobreza de muitos não nos deu chance, pois se foram antes de nós.

Mas a distância aristocrática e a distância financeira não têm nada haver com a distância cultural/hereditária que existe entre nossos ancestrais, meu e do Julio. Minha sorte foi, inconscientemente, ter percebido isso desde jovem. Colei em dois colegas: um de descendência alemã/judaica ? o saudoso Ronaldo Jack Eckstein ? e o outro que todos conhecem muito bem de formação cultural sociológica das melhores que conheci ? o querido amigo José Ferreira de Carvalho. Colar nestes dois amigos me fez ver a necessidade da cultura geral e acadêmica/científica para um futuro mais feliz: aumentaria a chance de sucesso em canais de nosso futuro. O destino me fez cair no ambiente deste outro Judeu/Alemão de origem; o meu colega, amigo e colaborador Julio Stern.

Claro que tive outros amigos importantes como o Caio, o Flávio e o Euclydes. Mas estes eram os que funcionaram como substituto de minha família que continuou no Rio e de orientadores de início de carreira acadêmica. Como aproveitei desses pobres coitados que aceitaram serem meus amigos. Não mencionei aqui outro querido amigo com o qual divido todas as minhas angústias e depressões e que me leva a mundos filosóficos que eu nunca tinha navegado: Falo de Sergio Wechsler um Judeu de origem européia de muita história Francês-Holandesa. Tenho pena de todos eles que me agüentam em muitos dos meus canais de diferentes necessidades.

Meus ex-alunos sofrem comigo, pois tenho cobrado deles mais talvez do que gostariam de sofrer.

Não peço desculpa a nenhuma dessas pessoas, pois penso que ainda vou explorar muito esses que ainda estão vivos.

Voltando ao passado distante: O destino fez com que felizmente fossemos morar no melhor, para mim, bairro do Rio; o Leblon. Nossa moradia ficava ao lado da Praia do Pinto, na época a maior favela do Rio. Só depois de voltar do programa de doutorado em 1980 tive a descoberta que, embora meus companheiros de praia visitassem muito minha casa, eu nunca tinha entrado na grande maioria das casas deles. Nunca entrei em um dos palacetes da Rua Almirante Guilhem, rua onde morávamos. Nunca me fizeram falta tais visitas, tanto é que só percebi isso depois de minha volta dos EUA.

Mas voltando aos idos da juventude, na casa do Zé ia para estudar e fazer redações - o cara continua bom nisso - e em pensar a sociedade. Nos momentos de descanso aproveitávamos o fato dele ser radio amador (na verdade seu pai) para ouvirmos rotineiramente os discursos de Fidel. Com o Ronaldo tive a felicidade de ele me obrigar a não fazer nada que os outros faziam. Estudávamos, mas na hora dos trabalhos de casa não podíamos abrir nada: era só pensar.

Acho que chega né? Como podem notar não tenho o direito de reclamar da vida, pois como dito em outra reflexão, as lembranças dos amigos e da família e mesmo de todo nosso passado é o maior patrimônio que possuo.

Meu amigo Julio e meu irmão Basílio fazem parte também desse imenso patrimônio que é de mim inseparável.

Um grande final de semana prolongado.
Carlinhos

Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>