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Universidade





Universidade versus Truculência
Adilson Simonis


A Universidade que desejamos não existe, talvez nunca tenha existido, porém isto não nos impede de acreditarmos que nossa vontade algum dia seja alcançada. Convictos estamos que a convivência acadêmica é um processo que pode ser desenvolvido, construído coletivamente e sem atalhos, pois trata-se de algo não simplesmente utópico. Queremos uma Universidade na qual predomine os argumentos, as teses, as ponderações e os contra-exemplos. Réplicas e tréplicas. Espaço privilegiado para o conflito e o debate e até, porque não, o litígio. Uma Universidade, nas palavras de Franklin L. e Silva (2006) , enquanto ?espaço sempre um pouco fora de seu tempo histórico, ao mesmo tempo enraizada nele, mas também projetando-se para fora de seu tempo, no limite, contradizendo-o, exatamente para desempenhar o seu mais importante papel, que certamente não é o de reiterar os interesses hegemônicos de seu tempo?. Enfim, desejamos um espaço maximamente livre! Para estruturá-lo dependemos de regras, que esperamos surjam através do mérito do diálogo e da negociação. Dependemos de condições adequadas para o pensar, e não apenas de habilidades e competências. Torna-se necessário reafirmar, com Hannah Arendt (2004, p. 338) , que ?a atividade de pensar ainda é possível, e sem dúvida ocorre, onde quer que humanos vivam em condições de liberdade política. Infelizmente, e ao contrário do que geralmente se supõe quanto à proverbial torre de marfim dos pensadores, nenhuma outra capacidade humana é tão vulnerável; de fato, numa tirania, é muito mais fácil agir do que pensar?. Concomitantemente, para que nosso desejo seja possível, necessitamos de força! Força do estado? Truculenta e armada? Dependemos de estruturas: salas, prédios, café, segurança de ir e vir. Nossos companheiros, e nós mesmos, precisamos saber que se gritarmos por socorro alguém virá. Alguém chegará e colocará a lei e a ordem pra servir de esteio para nossa construção, frágil e muitas vezes servil aos financiadores estatais (nós, a sociedade). O que aqui colocamos em discussão é se não podemos conviver com essa aparente ortogonalidade de propósitos. Será que não mereceríamos ter poderes moderadores ? em vez de polícia, pois esta seria para todos ? ao menos em algumas praças, igrejas, colégios e campi, pois estes são para alguns? Demonstraremos, em qualquer fórum, nossa contrariedade sobre piquetes, invasões, assaltos e estupros. Ainda mais se forem contra os nossos e o socorro não for ouvido. Porém, gostaríamos de sonhar com a possibilidade de convivermos em um espaço o qual, ao afirmar que Deus não existe, não sejamos expulsos simplesmente, mas ouvidos e replicados. Ao afirmarmos que epure se move, não tenhamos prisão domiciliar decretada. Ao atravessarmos fora da faixa de segurança não sejamos atropelados por um drogado distraído. Enfim, continuaremos lutando por forças moderadoras nesse espaço que desejamos denominar Universidade: não podemos nos satisfazer em conviver, lado a lado, com a truculência da lei. Ela ? a Lei ? tem bordas que sempre podem ser discutidas com calma e paciência. Se a maioria defender a presença da polícia no campus dessa Universidade sonhada, tudo bem. Apenas não a chamem de Universidade. O nome apropriado é sociedade. Vamos para outros SONHOS!










Adilson Simonis <asimonis@ime.usp.br>