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Re: [ABE-L]: Um caso



Caríssimos redistas,

Minha singela contribuição para esse fascinante assunto das
entrevistas data de quando eu trabalhava no CIn da UFPE.

Me ligaram de um jornal local pedindo uma entrevista sobre "compressão
de dados". Preparei uma apresentação ilustrada com os primeiros
minutos de "8½", do grande Fellini, que usa a Cavalgada da Walkíria,
de Wagner, como fundo musical. Fiz todas as contas bem fáceis de
acompanhar: o tamanho de cada imagem em pixels, o espaço que cada
pixel ocupa para arquivar um tom de cinza, o espaço necessário para
conter esse trecho musical, para, finalmente, comparar esse volume
teórico necessário com o volume real ocupado pelo arquivo em disco.
Voilà, a mágica da compressão de dados estaria justificada...

Antes de chegar à metade da minha apresentação a jornalista me
interrompeu e disse, com a uma expressão de tédio inesquecível, algo
assim: "Mas o que eu quero é que o senhor conte como se instala o
Winzip".

Infelizmente não fui de utilidade nenhuma. Não usava (nem uso) Windows.

Alejandro

2012/5/15 Jose F. de Carvalho <carvalho@statistika.com.br>:
> Sobre entrevistas, tenho um "causo". Bom para contar em roda de chopp... mas
> vá lá.
>
> Em 1978, recém chegado dos EUA, fui a João Pessoa, em um congresso da
> Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (acho que era essa a sociedade),
> para receber o Prêmio Gerhard Domack, ganho por um artigo publicado na
> revista da sociedade. Esse prêmio era patrocinado por uma farmacêutica, de
> modo que tudo foi feito à  la grande bouffe. Uma festa e tanto! Entre tantas
> atividades, fui protagonista de uma entrevista coletiva. O assunto era
> esquistossomose e eu temia sair mal na fotografia...
>
> Entre mil perguntas sobre a pesquisa e sobre esquistossomose em geral, havia
> uma repetida insistentemente por uma jornalista local. A pergunta era
> repetida sempre do mesmo jeito: "O senhor, como cientista, é a favor da
> anistia ampla, geral e irrestrita?" Eu lhe disse, mais uma de vez, que não
> responderia à questão, por estar fora do tema. Mas ela insistia... e
> insistia! Ao fim, lembro que lhe disse algo para expressar: "Olhe, eu estava
> fora do Brasil por quatro anos, nada sei do que está ocorrendo. Além do
> mais, não sou um cientista, muito menos ainda tenho mandado dos cientistas
> do Brasil para falar por eles. Não responderei a sua pergunta!" Estou seguro
> de haver sido taxativo.
>
> Dessa entrevista, tenho guardados vários recortes de jornal. Tudo que falei
> sobre o assunto propriamente saiu errado em quase todos os jornais, por
> óbvia falta de entendimento do assunto pelos jornalistas. A exceção foi
> Ethevaldo Siqueira, do Estadão, que entendeu e conseguiu reproduzir minhas
> declarações à perfeição para seus leitores. Cômica foi a manchete do
> jornaleco local, que peguei no dia seguinte. Dizia: "Cientista aprova
> anistia, ampla, geral e irrestrita". A jornalista pode haver lido meus
> pensamentos, mas não reproduziu minhas palavras na entrevista.
>
> E sobre matérias técnicas de estatística, tenho vários outros exemplos de
> deturpações de minhas declarações, mesmo se dadas por escrito. As
> deutrpações foram causadas por evidente falta de entendimento do assunto
> pelos jornalistas. Bem... em estatística, área onde muitos praticantes e
> alguns "teóricos" não tem a menor ideia do método, isso não surpreende.
> Fique registrado o caveat do Carlinhos: cuidado com entrevistas!
>
> Abraços,
>
> Zé C.



-- 
Alejandro C. Frery
Maceió, AL - Brazil
http://sites.google.com/site/acfrery/
http://www.researcherid.com/rid/A-8855-2008