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Um caso
Sobre entrevistas, tenho um "causo". Bom para contar em roda de chopp...
mas vá lá.
Em 1978, recém chegado dos EUA, fui a João Pessoa, em um congresso da
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (acho que era essa a
sociedade), para receber o Prêmio Gerhard Domack, ganho por um artigo
publicado na revista da sociedade. Esse prêmio era patrocinado por uma
farmacêutica, de modo que tudo foi feito à la grande bouffe. Uma festa
e tanto! Entre tantas atividades, fui protagonista de uma entrevista
coletiva. O assunto era esquistossomose e eu temia sair mal na fotografia...
Entre mil perguntas sobre a pesquisa e sobre esquistossomose em geral,
havia uma repetida insistentemente por uma jornalista local. A pergunta
era repetida sempre do mesmo jeito: "O senhor, como cientista, é a favor
da anistia ampla, geral e irrestrita?" Eu lhe disse, mais uma de vez,
que não responderia à questão, por estar fora do tema. Mas ela
insistia... e insistia! Ao fim, lembro que lhe disse algo para
expressar: "Olhe, eu estava fora do Brasil por quatro anos, nada sei do
que está ocorrendo. Além do mais, não sou um cientista, muito menos
ainda tenho mandado dos cientistas do Brasil para falar por eles. Não
responderei a sua pergunta!" Estou seguro de haver sido taxativo.
Dessa entrevista, tenho guardados vários recortes de jornal. Tudo que
falei sobre o assunto propriamente saiu errado em quase todos os
jornais, por óbvia falta de entendimento do assunto pelos jornalistas. A
exceção foi Ethevaldo Siqueira, do Estadão, que entendeu e conseguiu
reproduzir minhas declarações à perfeição para seus leitores. Cômica foi
a manchete do jornaleco local, que peguei no dia seguinte. Dizia:
"Cientista aprova anistia, ampla, geral e irrestrita". A jornalista pode
haver lido meus pensamentos, mas não reproduziu minhas palavras na
entrevista.
E sobre matérias técnicas de estatística, tenho vários outros exemplos
de deturpações de minhas declarações, mesmo se dadas por escrito. As
deutrpações foram causadas por evidente falta de entendimento do assunto
pelos jornalistas. Bem... em estatística, área onde muitos praticantes e
alguns "teóricos" não tem a menor ideia do método, isso não surpreende.
Fique registrado o caveat do Carlinhos: cuidado com entrevistas!
Abraços,
Zé C.