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Re: [ABE-L]: NÃo resisti em trazer conflito




      Um pequeno comentÃrio:

      Muitas vezes um bom artigo na Ãrea estatÃstica deveria ser publicado em revistas de outras Ãreas para sua visibilidade ser maior. Vejam esse exemplo: Altman DG e Bland JM publicaram um artigo na revista The Statistician em 1983 (Altman DG ; Bland J (1983) Measurement in medicine - the analysis of method comparison studies. The Statistician 32, 307-317 com  fator de impacto 1,484-citado por 1578). O mesmo assunto escrito numa forma mais adequada para pesquisadores na Ãrea mÃdica foi publicado a convite na revista Lancet (Bland JM, Altman DG. (1986). Statistical methods for assessing agreement between two methods of clinical measurement. Lancet, i, 307-310  (fator de impacto  33,63 â citado por 23167).Com a publicaÃÃo na Lancet, os resultados do artigo sÃo usados por pesquisadores mÃdicos em todo mundo, melhorando a pesquisa mÃdica.

     Jorge Alberto Achcar


----- Mensagem original -----
De: cpereira@ime.usp.br
Para: abe-l@ime.usp.br
Enviadas: SÃbado, 23 de Junho de 2012 12:35:32
Assunto: [ABE-L]: NÃo resisti em trazer conflito

Caros redistas, colegas e amigos:

Achei que deveria entrar na discussÃo, pois minha vida acadÃmica estÃ
muito ligada Ãs aplicaÃÃes e o uso da estatÃstica, embora eu tenha
desenvolvido algumas ferramentas para atender certas demandas que nos
obrigam a ser criativos.

Nunca reclamei de minha classificaÃÃo como pesquisador por achar, em
parte, que o Klaus tem razÃo sobre como avaliar os trabalhos de
aplicaÃÃo.  NÃo podemos desmerecer, entretanto, o nosso pessoal que
colabora para a CIÃNCIA, participando de grupos de pesquisa de
excelÃncia ou das instituiÃÃes publicas, IBGE, MinistÃrios da
EducaÃÃo, MinistÃrio da JustiÃa entre outras.  SÃo sim trabalhos
pioneiros e que exigem muita criatividade por parte dos estatÃsticos.

Em um dos papers que participei e dos mais comentados, meu trabalho
foi eliminar toda a estatÃstica apresentada e construir um grÃfico
simples que com uma pequena conta dava para resolver todos os
problemas dos pesquisadores.  O elogio do editor foi sensacional e,
acho eu, sà a minha experiÃncia como velho estatÃstico permitiu isso.
Se ninguÃm der valor a este trabalho (mesmo com um Ãndice de impacto
alto), nÃo fiquem surpresos, pois eu mesmo darei o meu auto-valor.

Mas vou criar uma polÃmica a partir daqui.  Muitas vezes criamos ou
desenvolvemos algo inovador e depois construÃmos a nossa prÃpria 
indÃstria de papers tÃcnicos e que, sem dÃvida nenhuma sÃo relevantes,
mas nada de ciÃncia e sim de tecnologia.  Vou dar como exemplo o
trabalho excepcional de nossos estatÃsticos brasileiros.  Pegar uma
distribuiÃÃo conhecida de todos e colocar mais um parÃmetro, por
exemplo, nos permite sim criar uma indÃstria de papers.  Mas o
essencial jà foi publicado no primeiro artigo que indicava como se
poderia melhorar um modelo.  O restante à questÃo de descobrir onde
deverÃamos colocar o parÃmetro ou a transformaÃÃo para tornar a nova
distribuiÃÃo mais geral.

Qual a revista que publica tais tipos de artigos? Aquelas que se
dedicam a publicar tecnologia e que certamente nÃo seria o TAS.  Notem
que nÃo estou desmerecendo o trabalho de ninguÃm, pois isto Tb
acontece com meu grupo de pesquisas.

Temos aqui uma indÃstria de papers do FBST, temos uma indÃstria de
papers em processos de Dirichlet em riscos competitivos ou paralelos.
Mas temos certeza que o essencial do FBST foi publicado là atrÃs e
depois com um paper longo no Bayesian Analysis.  Tivemos a sorte,
entretanto, de ter um filÃsofo em nosso grupo que introduziu nosso
mÃtodo no mundo da lÃgica e vem tendo uma produÃÃo incrÃvel nesta
linha de pesquisa.

Sobre o processo de Dirichlet multivariado publicamos o essencial nas
revistas Nonparametrics e Multivariate Analysis.  Mas isso faz alguns
anos e o trabalho que um colega do grupo vem desenvolvendo à para
corrigir as besteiras que andÃvamos fazendo com as tecnicalidades por 
sermos um pouco desleixados nestes assuntos.  Este colega foi alÃm e  
colocou nosso processo no mundo dos sistemas paralelos e coerentes.

Quando falamos do TAS devemos notar que somente inovaÃÃes e formas
especiais de motivaÃÃo sÃo ali publicadas.  Assim como o Statistical
Science, nÃo vamos ver muitas tecnicalidades nessas publicaÃÃes.

Quero ainda chamar a atenÃÃo para o fato de alguÃm na rede ter dito
que sà publicou em uma revista porque tinha um Qualis alto e se
soubesse da reclassificaÃÃo mais baixa nÃo teria enviado para aquela
revista seu artigo.  Acho que esta afirmaÃÃo foi demais para mim.
Nossos papers deveriam ser consequÃncia de nossos trabalhos e nÃo o
objetivo deles.  Ter como objetivo a publicaÃÃo em uma revista
especÃfica à nÃo olhar cientificamente nosso prÃprio trabalho.

Alguns de nossos colegas vÃm publicando nos annals e posso dizer que  
gostaria muito de um dia ter um trabalho meu aceito nesse tipo de
publicaÃÃo.  Ainda nÃo cheguei là e nÃo sei se um dia terei essa
honra.  Mas como disse nÃo vou colocar isso como objetivo.  Vou
colocar como objetivo sim resolver adequadamente o trabalho de meus
colegas cientistas da medicina do Butantan ou mesmo da sociedade de
Jurimetria.  Tenho certeza que se conseguir alÃm de apresentar soluÃÃo
adequada tambÃm esta for inovadora a publicaÃÃo serà mesmo
consequÃncia de meu trabalho.

Por Ãltimo gostaria de dar os parabÃns ao Enrico que faz um trabalho
de aplicaÃÃes magnÃfico. Gostaria que tivesse a certeza que muitos de
nÃs apreciamos os trabalhos dele e, alÃm disso, os usamos no nosso dia
a dia, tanto em sala de aula como em nossas orientaÃÃes.  Ã isso que
conta na nossa vida acadÃmica multidisciplinar, o novo jargÃo da 
ciÃncia.

Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>