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Re: [ABE-L]: Discurso mais importante



O depoimento do Mojica pertence ao campo da esquerda,
que até pouco tempo não tinha o meio ambiente na sua agenda,
entretanto, a proliferação de partidos verdes em vários países democráticos
e os graves problemas ambientais tornaram inevitável o debate público.
Ao abordar a questão, os esquerdistas o fazem a partir da teoria marxista,
que condena o mercado e preconiza uma sociedade planificada,
voltada para as necessidades humanas e não para o consumo.
 
As experiências do socialismo real, no entanto, não satisfizeram
as necessidades mais básicas, nem tornaram as pessoas felizes.
Pelo contrário, precisaram erigir muros e barreiras
para que seus habitantes não fugissem do paraíso.
Além disso contaminaram o meio ambiente de todas as formas,
sendo o acidente de Chernobyl o ícone do descaso com a segurança ambiental.
 
O consumo é decorrência da demanda,
e a demanda é sempre crescente.
Isso é uma característica humana,
que o capitalismo interpretou economicamente.
Não foi por acaso que a República Popular da China
reintroduziu o papel do mercado na economia.
Negá-lo é negar as demandas das famílias.
E é exatamente isso que o camarada Mojica está propondo,
retração global da demanda.
 
Pela outra vertente, o capitalismo verde engendra soluções complexas,
que vão desde um mercado de créditos de carbono
ao desenvolvimento de tecnologias limpas,
passando por modelos mais precisos de previsão das condições ambientais.
Muitos cenários sombrios precisaram ser revistos diante de novos dados,
o que demonstra o quanto difícil é lidar com dados observados,
em um contexto que envolve os próprios observadores.
Variáveis ocultas, tanto do ponto de vista técnico, como político,
turvam a percepção do que está ocorrendo de fato.
 
O que me impressiona, no entanto,
é que nenhum dos dois lados está falando da variável
que considero determinante no momento atual,
refiro-me ao crescimento da população mundial a partir do século XIX.
Esse fenômeno demográfico se deve à crescente produção de alimentos,
ao progresso da medicina e à liberalização dos costumes.
 
Para atender à demanda dessa população crescente
produtos e serviços precisaram ser reinventados e outros inventados,
obviamente não podiam ter a mesma qualidade dos seus similares originais,
uma carne em conserva não é tão saborosa e nutritiva quanto um bife fresco,
uma caneta esferográfica não vai durar tanto quanto uma caneta tinteiro.
O camarada Mojica, por ignorância(confunde hidratante de maçâ com geléia),
ou por falsidade ideológica promete o que não vai cumprir,
bife fresco para todos e lâmpadas que durem 100.000 horas,
pela simples razão de que foi um imperativo da sociedade de massas,
e não o o contrário, o acesso a bens materiais e serviços,
que eram somente usufruídos pelas classes mais altas.
Evidentemente o modelo T produzido pela Ford,
que qualquer dos seus empregados poderia adquirir,
não ia ser equivalente aos caros modelos europeus.
 
Na década de 80, do século passado, acompanhei o debate entre
o Clube de Roma e os proscritos da Fundação Bariloche(desmontada
pelo regime militar argentino). A primeira organização reunia
pesquisadores, cientistas e professores de vários países e
previam o colapso dos recursos naturais nas décadas futuras
se os países não reduzissem suas taxas de crescimento populacional
e econômico. A Fundaçao Bariloche, de orientação esquerdista,
defendia maior igualdade social e e conômica, que
por si só reduziria do crescimento populacional desordenado e
a destruição do meio ambiente.
Como se sabe, nenhuma das duas organizações teve sucesso
em impor sua política exclusivamente.
Embora a China tenha adotado o controle populacional
e a melhoria da distribuição de renda, sem entretanto,
reduzir o crescimento, nem a poluição.
 
 
 
 
 


 
Em 27 de julho de 2012 22:34, <cpereira@ime.usp.br> escreveu:
Caros:
O presidente do Uruguay fez um discurso importante e que merece ser ouvido.
Carlinhos


http://www.youtube.com/watch?v=zsOGZKRVqHQ


Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>