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Sobre Joaquim Cardozo



Caros Redistas,


O texto abaixo eu escrevi - a partir de sítios disponíveis na internet e de observações de Fernando Cardozo (sobrinho dele) -, 
sobre o maior engenheiro civil pernambucano: Joaquim Cardozo, que agora é um notável cientista pernambucano. 
O texto fará parte da galeria virtual dos notáveis cientistas pernambucanos. Ainda é um primeiro "draft", pois terei 
que fazer inúmeras correções no português.  

Em 1975, quando conversei numa cantina da UFRJ com o grande Eng. Lobo Carneiro e disse que era de Recife, 
Lobão me enfatizou: "terra de um dos precursores dos cálculo estrutural no País, referindo-se ao Joaquim Cardozo". 

Sds, Gauss  

                           


                                                    Nosso maior engenheiro civil: Joaquim Cardozo

 

Joaquim Maria Moreira Cardozo nasceu em Recife, em 26 de agosto de 1897, sendo filho de um modesto guarda-livros. Na juventude, participou da vida boemia recifense, tendo como companheiro o poeta Ascenso Ferreira, entre outros. Formou-se em Engenheiro Civil em 1930, tornando-se especialista em cálculo estrutural. No ano seguinte, começa a trabalhar na Secretaria Estadual de Viação e Obras Públicas. Em 1934, foi um dos principais engenheiros calculistas da estrada Rio-Petrópolis.  A partir de 1936, leciona na Escola de Engenharia de Recife, sendo um dos fundadores da Escola de Belas-Artes de Recife. Em 1939, após um giro pela Europa, volta para o Recife, mas por conta de uma discórdia (motivada pelo discurso que pronunciou como paraninfo da turma de engenheiros da Escola de Engenharia da Universidade do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com o então interventor federal em Pernambuco, Agamenon Magalhães, muda-se para o Rio de Janeiro, onde passa a integrar o grupo formado pelos intelectuais como Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Pedro Nava, Augusto Meyer, Lúcio Costa.


Cardozo renovou a concepção estrutural do concreto armado e os métodos de cálculo, contribuindo assim para a evolução da engenharia civil no País. Começou neste mesmo ano de 1939, a trabalhar em conjunto com Lúcio Costa e Burle Marx. Dois anos depois, conhece Oscar Niemeyer, e fez o cálculo estrutural para o Conjunto da Pampulha, em Belho Horizonte. A partir de 1956, quando Oscar Niemeyer foi nomeado diretor do Departamento de Urbanismo e Arquitetura da Nocacap, começou sua impressionante atuação profissional como engenheiro calculista da maioria dos seus projetos arquitetônicos de formas arrojadas em Brasília. Entre esses, destacam-se: Palácio da Alvorada, Congresso Nacional, Palácio do Itamaraty, Supremo Tribunal Federal, Catedral de Brasília,Ministério do Exército, o Tribunal de Contas da União, Cine Brasília, Igreja Nossa Senhora de Fátima e o Museu de Brasília. No Rio de Janeiro, ele calculou o Monumento aos mortos da segunda Guerra Mundial e o Maracanãzinho. Em São Paulo, a Fábrica de biscoitos Duchen, que obteve o prêmio da Bienal de São Paulo, a Chácara Flora do Instituto dos Bancários, o Laboratório de Motores, as Oficinas e o túnel aerodinâmico do Instituto Tecnológico da Aeronáutica. No Recife, executou os projetos estruturais dos edifícios Bandepe e Bancipe, e de vários prédios residenciais da orla de Boa Viagem como Miguelangelo, Portinari e Valásques.

 

Conviveu com poetas modernistas, como Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, tendo publicado vários livros entre 1946 e 1975, usando como tema principalmente Recife e o Nordeste brasileiro. Ele conquistou lugar destacado entre os poetas brasileiros e sua cidade natal, está sempre presente em sua obra, funcionando muitas vezes como a própria matéria de sua poesia. Entretanto, o Nordeste não se manifesta apenas como memória ou saudosismo, como acontece com freqüência entre tantos poetas. Surge como natureza complexa e viva, como paisagem original, e do mesmo modo como contradição e miséria social. Para Cardozo, o Nordeste é uma verdadeira dimensão do espírito do poeta, um local real onde ocorre o mundo.

Seu primeiro poema modernista foi publicado pela imprensa em 1934. O primeiro livro "Poemas" foi editado em 1947, quando o poeta completava 50 anos de idade. Depois, vieram os outros livros: "Pequena Antologia Pernambucana" (1948), "Prelúdio e Elegia de Uma Despedida" (1952), "Signo Estrelado" (1960), "O Coronel Macambira" (1963), "Trivium" (1964), "Coletânea de Teatro Moderno" (O Capataz de Salema, Antônio Conselheiro e Marechal Boi de Carros, 1965), "De uma Noite de Festa" (1971), "Poesias Completas" (1971), "Os Anjos e os Demônios de Deus" (1973), o "O Interior da Matéria" (1976) e ”Um Livro Aceso e Nove Canções Sombrias (1981, póstumo). O verso calculado, preciso, trabalhado sem afetação, constitui sempre um conjunto harmonioso, de sua preocupação arquitetônica. Por outro lado, procura dar significação poética à arquitetura, deixando trabalhos teóricos importantes nessa área.


Ele parecia admitir um conhecimento sensorial das coisas, do mundo e dos homens, que não é antagônico, mas que corre paralelo ao de origens racional. Segundo notado por Antonio Houaiss, “em Joaquim Cardozo, a formulação poética só é perfeita quando passa pelo crivo da racionalidade, mas de uma racionalidade que se aceita, paralelamente, as antenas da emoção musical, plástica e, por vezes, mesmo mística da nossa herança cultural” como, por exemplo, os versos homéricos na CANÇÃO QUE VEM POR UM CAMINHO, os versos do cordel nordestino no poema VERSOS e REVERSOS, os versos da quadrinha portuguesa, a popular trova, agora limpos e novos, no poema CANTADEIRAS, os versos do GALOPE SERTANEJO na CANÇÃO de uma ESPERA SEM FIM. A música, co-irmã da poesia, é uma constante na versificação de Joaquim Cardozo, cujos versos, como observado por João Cabral de Melo Neto, eram “medidos pelas ondas”, fato, também, confirmado por Carlos Drummond de Andrade no prefácio aos POEMAS (1974) que, também, notou e anotou “o requinte formal dos poemas” de Joaquim Cardozo,” de uma tão enganadora simplicidade nos seus balanços rítmicos tradicionais”. “É isso: Joaquim Cardozo levou a vida construindo uma linguagem poética que exprimisse o conteúdo da linguagem dos homens”. Ele esteve sempre no ápice do conhecimento da sua época, seja pelo domínio de mais de uma dúzia de idiomas, vivos ou mortos, inclusive o chinês, o grego, o latim e o sânscrito, seja pela penetração mais vasta no campo do saber, talvez jamais tentada por qualquer nome brasileiro – nas áreas das ciências e da filosofia, indo dos vários setores de engenharia e da arquitetura à compreensão de múltiplos sistemas da filosofia ocidental e oriental. Para lembrá-lo o melhor é recordar a estrofe final do seu “Canto da Serra dos Órgãos”: ”Depois de mim o que restar não resta. Que restará, depois de mim, modesta, raiz das grandes cordilheiras: Andes, Pireneus, Himalaia? Restará preso e pousando no último chão apenas um vento sombrio”. 


Em 6 de setembro de 1977, tomou posse na Cadeira 39, na Academia Pernambucana e Letras. Cardozo doou sua biblioteca, com aproximadamente 7.500 títulos, à Universidade Federal de Pernambuco. Recebeu muitas homenagens, entre elas, o título de doutor honoris causa pela (UFPE). Ele morreu em Olinda, vítima de arteriosclerose, no dia 4 de novembro de 1978.