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Dois grandes retrocessos (por Sóstenes Lins)



Caros,


O texto abaixo foi escrito por um dos meus melhores amigos há 50 anos, grande

matemático. Eu o encorajei a escrevê-lo ontem por volta das 23 hs . 


Cordiais Saudações, Gauss



                                            

Às Autoridades Universitárias Federais

 

Dois grandes retrocessos:

 

Há algum tempo o processo de deterioração das condições

de trabalho nas Universidades vêm se acelerando. Cito dois fatos

que são representativos e que me incomodam profundamente.

 

Os processos de acesso aos cursos de Pós Graduação tornaram-se

um pesadelo, digno de um filme de Hitchcock  

com exigências e mais exigências de forma. Nada de conteúdo.

 

O fundamental são números. Quantidade e não qualidade.

Fiquei pasmo quando soube que as cartas de recomendação

estavam terminantemente proibidas.

 

Isto é motivo de chacota do Brasil perante o mundo. Qualquer

Universidade estrangeira tem nas cartas de recomendação

o seu principal meio de entrada para os cursos de pós-graduação

e, principalmente, para seu corpo docente. É uma forma de

respeitar a hierarquia acadêmica: a opinião de um cientista

sério sobre alguém tem de ser valorizada, como acontece

nos países desenvolvidos. Não há escapatória para um país

que vilipendia sua elite intelectual, científica, produtiva.

 

A cereja do bolo veio no dia 31 de dezembro de 2012 quando

os iluminados gestores públicos publicaram a lei que mata a Pós-Graduação

Brasileira: para entrar no Magistério Superior, agora basta terminar

a graduação. Nunca nos meus 60 anos vi uma lei tão inacreditável

e ridícula, se não fosse tão trágica e mortífera.


Que incentivo esta lei estúpida traz para a minoria que gosta de

pensar, de estudar? Que percebe, cedo em suas vidas, que o mais

importante legado que uma geração pode oferecer às suas sucessoras

são os frutos dos seus encantamentos e de suas reflexões.


Embora lentamente e sem alarde, os frutos destes encantamentos

e reflexões mudaram e continuam a mudar o mundo. Mas, não no Brasil.


Pobre Brasil que ainda não aprendeu que Universidade é

para uma elite intelectual, doa a quem doer. Conhecimento sólido é poder

e nivelar por baixo é um suicídio, deixando órfãs as próximas gerações.

 

Sóstenes Lins


Prof. Titular do CIN/UFPE.

Pesquisador I - CNPq.

Produtor de softwares industriais.

Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências.

Produtor de softwares industriais.