Concordo plenamente com o
colega, mas acho que algo que eu disse pode ter sido mal
compreendido.
Coloquemos, então, os pingos nos
is e as coisas nos lugares:
a) Raça/etnia/cor é uma
característica genética/biológica e conseqüentemente é algo cientificamente
determinável. Diferentemente de religião, preferência sexual, ideologia
política, time que torce ou sabor de pizza favorito, que são características
"sociais" (na falta de adjetivo melhor) e não podem ser cientificamente
apuradas.
b) O fato de a raça/etnia/cor de
uma pessoa poder ser estabelecida/determinada em bases científicas não significa
de forma alguma que existam diferenças significativas em termos de potencial
intelectual de uma raça/etnia/cor para outra. Diferentemente de habilidades
físicas em que já existem estudos demonstrando que certas raças/etnias/cores tem
potenciais superiores a outras. É por isso, por exemplo, que não vemos nenhum
branquelo disputando de igual para igual com Usain Bolt, Asafa Powell &
cia.
c) A questão por trás das
cotas é histórico-sociológica e não tem nada a ver com capacidades potenciais de
quem quer que seja. O argumento básico dos defensores das cotas é que os
brancos, como descendentes da aristocracia escravocrata, têm, de um modo
geral, acesso a melhores escolas, melhores faculdades e, em última
instância, melhores oportunidades que os negros, descendentes dos escravos
oprimidos e que, até hoje, de um modo geral, ocupam as camadas mais
baixas da pirâmide social brasileira.
Então, para evitar que os negros
oriundos de escolas públicas da periferia não tenham condições de competir com
os brancos oriundos dos melhores colégios particulares, criou-se o sistema de
cotas, graças ao qual um aluno branco formado num bom colégio particular pode
acabar perdendo sua vaga no ensino superior para um negro oriundo de uma EEPSG
apenas regular...
E aqui chegamos ao comentário do
Ronaldo. Meu bisavô materno-materno (i.e. pai da mãe da minha mãe) era
fazendeiro do café, tinha escravos e tudo o mais. Então, como ele "oprimiu"
(coloquei as aspas porque não necessariamente todo fazendeiro era malvado como
as novelas de época fazem parecer) os seus escravos, eu é que devo arcar com a
responsabilidade e perder a minha vaga na faculdade ou num concurso para um
bisneto daqueles escravos?
Talvez a Itália, a Alemanha e a
França não precisem criar cotas para os povos/etnias citados porque naqueles
países o ensino público tenha uma qualidade que permita aos seus alunos
competirem com os do ensino particular em igualdade de condições. Aqui no
Brasil, porém, a realidade é diferente e os donos do poder preferiram, como
sempre, ir pelo caminho mais fácil: colocar estereotipicamente nas "elites
opressoras" a culpa pelos desvios da História em vez de simplesmente trabalhar
para melhorar o ensino público de base!
Acabei escrevendo mais do que
pretendia mas acho que desatei as eventuais más interpretações...
Marcelo
----- Original Message -----
Sent: Friday, April 12, 2013 5:10
PM
Subject: Re: [ABE-L]: Cor ou Raça até no
Lattes
Prezados:
Antecipadamente
eu já peço desculpas. Mas é difícil me conter nestas horas. Não vejo porque
eu, meus filhos, meus amigos, e 99,9% dos brasileiros tenham que pagar uma
conta que não foi criada por nós.
Será
que a Itália vai criar um regime de cotas para os, germânicos, gauleses,
eslavos. Afinal foram escravos, massacrados humilhados etc., por séculos pelo
Império Romano. A França vai criar cotas para os norte-africanos?. Alemanha
para os turcos? (atualmente).
Recuso-me
a acreditar que cor de pele esteja associada ao intelecto humano. Desafio
alguém desenhar um experimento "honesto" que traga fortes evidências desta
falácia.
Ora,
Isto tudo é uma cortina de fumaça para esconder que não haverá investimento
maciço, aos moldes Coreanos do Sul, no ensino público! Afinal, escolas
públicas de qualidade tenderiam a formar seres pensantes e seres pensantes não
tenderiam a votar nestes políticos que dominam este país.
Abs. e
novamente minhas desculpas por tomar seu tempo.
De volta ao trabalho,
pois isto sim poderá, com prob. maior que zero, renovar minha bolsa de
produtividade. (pelo menos eu acredito)
abs.
Ronaldo
On 4/12/13 4:13 PM, Marcelo Rubens dos Santos do
Amaral wrote:
Irônica e sofismaticamente falando, daqui a pouco vou estar
achando que por um suposto critério científico deveremos apagar dos
registros históricos que houve escravidão ou qualquer outro tipo de
segregação afetando classes de humanos por critérios
étnico/social/religioso/
regional e que estes fatos não podem proporcionar de forma alguma
interferências intergeracionais...
Marcelo Rubens
Em 12 de abril de 2013 12:44, Marcelo L. Arruda
<mlarruda@terra.com.br> escreveu:
Desculpe, Gauss, mas se você encontrar um fio de
cabelo e levar a um laboratório genético:
1 - É possível identificar
se esse fio veio de um católico, de um judeu ou de um
muçulmano?
2 - É possível identificar
se esse fio veio de um heterossexual, de um homossexual ou de um
bissexual?
3 - É possível identificar
se esse fio veio de um branco, de um negro ou de um índio?
Obviamente, as respostas às perguntas 1 e 2 são
NÃO e para a pergunta 3 é SIM, pois pigmentação da pele e outras
características raciais estão armazenadas no DNA.
Logo, raça tem a ver com ciência, sim,
embora o Michael Jackson seja o exemplo pronto e acabado de que até a
cor da pele, a lisura do cabelo, a espessura do nariz etc. são
dinâmicas...
Marcelo
----- Original Message -----
Sent: Friday, April 12, 2013 12:26
PM
Subject: Re: [ABE-L]: Cor ou Raça
até no Lattes
Sem acentos, meu ultimo email sobre esse tema:
"religiao e orientacao ou opcao sexual sao conceitos
dinamicos".
Conheco pessoas que eram super-religiosas e hoje sao ateus ou
agnosticos
e vice-versa.
Desnecssario enfatizar o dinamismo da sexualidade do ser
humano.
Assim, raca, religiao e orientacao ou opcao sexual nao tem nada a
haver
com ciencia.
Gauss
Prezados,
entendo que o CNPq tenha adotado esse sistema para cumprir uma lei.
Como esta informação será usada depois, realmente não sei, mas também
não escondo meus receios.
Mas aproveitando o email do Prof. Fabio, coloco aqui um termo
extraído do site wikipedia (segue o link para quem tiver mais
curiosidade
http://pt.wikipedia.org/wiki/Raça): "para a
espécie humana "raça" corresponde a um conceito social, não a conceito
científico".
Em resumo, cientificamente somos de uma mesma e única espécie, a
humana, independente de cor, sexo, etnia ou as diversas opções ou
orientações que possamos ter. Infelizmente nossos governantes não
entendem assim (e muitas pessoas também), e insistem em ficar segregando
as pessoas em grupos sem muito sentido.
Atenciosamente,
Gustavo
--
Ronaldo Dias
Associate Professor
University of Campinas
www.ime.unicamp.br/~dias