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Re: [ABE-L]: para refletir



Caro Carlinhos,

Eu não posso fazer juízo de valor no momento sobre bolsas de produtividade de pesquisa 
por fazer parte do CA-MA. O mesmo pode ser dito em relação ao meu parceiro 
Migon - como representantes eleitos pela nossa comunidade para o referido CA. 

Entretanto, gostaria de enfatizar a todos que precisamos de "cerca de 100 bolsas de PQ
para atender a demanda qualificada da Estatística", quando temos apenas 60. 
Esse é o "X" da questão!

Eu já gastei muito tempo de minha vida (há mais de 20 anos) reiterando que a nossa demanda 
qualificada é muito superior à oferta e Hermano e eu estamos lutamos (mais recentemente em nome de mais 
de 1200 acadêmicos) para conseguir mais bolsas de PQ para o CA-MA junto ao próprio MCT. 

Abs,

Gauss


Em 19 de setembro de 2013 11:33, Carlos Alberto de Bragança Pereira <cpereira@ime.usp.br> escreveu:

Prezados redistas:

Vi alguns reclamando sobre a falta de discussão sobre assuntos relevantes como, por exemplo, os critérios de classificação e/ou de critérios de concessão de bolsas de pesquisa.  Há, evidentemente, muitos outros assuntos que não são discutidos na rede. Só discutimos assuntos que nos interessam e nos atingem, seja diretamente ou indiretamente como é o caso de nossos interesses políticos.  Por outro lado, nos constrange um pouco – e este é o meu caso –, falarmos de nossos próprios insucessos com o CNPq ou de nossas autoavaliações de produtividade.

  Algumas decepções eu tive com a forma que nosso comitê usa para responder nossas demandas. Negar um pedido é sempre tarefa difícil para um comitê, e claro vai sempre ocorrer quando a competição é grande.  No entanto, gasta-se muito tempo e esforço para preparar um projeto e quando vem a resposta ficamos muito chateados: “o projeto não recebeu a prioridade necessária” sem maiores delongas: isto é constrangedor e de uma falta de respeito muito grande.

Eu não tive projetos pessoais rejeitados, mas esta sentença veio para um de meus ex-alunos que certamente tem produtividade superior a outros que receberam resposta positiva do comitê.  Mas mesmo sobre o julgamento eu não posso reclamar por não conhecer as prioridades das pessoas que julgam.  Mas a falta de respeito me incomoda de verdade.  Fiz um pedido para trazer de volta um pesquisador brasileiro que atualmente vive na Europa com um currículo de respeito em sua área.   Reconhecido internacionalmente por seus pares, se tratava de cara trabalhando em uma área moderna e ainda com poucos participantes.  Recorri da decisão, informando que o que haviam dito não era adequado, pois dentro da área era muito “produtivo” internacionalmente. Veio novamente uma resposta vaga sem algum esclarecimento.  Assim, o grave não são as escolhas do comitê, mas sim a falta de explicação sobre o que acontece no julgamento.  Quando “colocamos” um representante da área já sabemos de suas preferências.

Alguns anos atrás eu recebi do presidente do CNPq a informação que, embora meu perfil científico fosse excelente, eu não tinha muitos artigos nas revistas de estatística e que meu perfil seria multidisciplinar:  Assim não fui classificado em 1A  por ter mais artigos em outras áreas do que em estatística.  Achei que era uma boa explicação, pois quem decide é mesmo o comitê de matemática.  Veio este senhor ao IME falar que hoje a multidisciplinaridade é essencial e que não há muito valor nas pessoas que constroem uma indústria de artigos focado em apenas uma linha estreita de pesquisas ou de cálculos mirabolantes sem foco na utilidade.  Tive a oportunidade de levar a cartinha dele para que as pessoas entendessem que política não é fácil.

Alguém um dia me disse “coloque aqui mais um parâmetro e vais ter uma nova distribuição”.  Outros me informam, “temos aqui os dados do médico e temos esse lindo programa para usarmos essa técnica estatística, vai surgir um artigo importante”.

Caros colegas, fazer ciência exige criatividade e criatividade só é alcançada se você não se prende a soluções já estabelecidas.  O problema da criatividade é que quando ela chega não faz parte da moda e quem dirige os comitês editoriais ou de agências, normalmente, são pessoas que “estão na moda”.  A rejeição de nossos trabalhos é quase certa independente da qualidade.  Claro isto é verdade para a tribo tupiniquim!

Já falei demais para os que reclamam de falta de discussão.  Esta é minha reflexão sobre o assunto em pauta.  Termino com o seguinte comentário sobre um excelente professor.

O Ilustre professor Newton da Costa é um matemático que produziu muita novidade em lógica.  É de reconhecimento e renome internacional.  Creio que alguém da lista pode apresentar suas criações.  No entanto mudou de departamento da Matemática para a Filosofia porque não pertencia a moda matemática da época.  Foi uma grande perda para nós do IME.  Vejam que é o único 1 A da filosofia que não é criticado no artigo do Adonai.

Saudações
Carlinhos

--
Carlos Alberto de Bragança Pereira
http://www.ime.usp.br/~cpereira
http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
Stat Department - Professor & Head
University of São Paulo