Mercadante conclui doutorado com tese sobre governo
Lula
BERNARDO MELLO FRANCO
SABINE
RIGHETTI
ENVIADOS A CAMPINAS
A duas semanas de assumir o MinistÃrio da CiÃncia e Tecnologia, o senador
Aloizio Mercadante (PT-SP) levou ontem a retÃrica do palanque para a
academia.
Ele voltou à Unicamp apÃs 12 anos para concluir o doutorado em economia
com uma tese sobre o governo Lula. Saiu com o tÃtulo, mas foi repreendido
pelos examinadores por exagerar nos elogios ao presidente.
Mercadante
à convidado e aceita CiÃncia e Tecnologia
Em tom de campanha, o petista anunciou o nascimento do "novo
desenvolvimentismo" --um modelo baseado em crescimento e distribuiÃÃo de
renda.
Com cinco livros de sua autoria sobre a mesa, ele resumiu a tese, de 519
pÃginas, em frases quase sempre na primeira pessoa do plural.
"Superamos a visÃo do Estado mÃnimo"; "NÃo nos rendemos à tradiÃÃo
populista"; "Retiramos 28 milhÃes da pobreza"; "Melhoramos muito o
atendimento na saÃde", pontificou, em momentos diferentes da
apresentaÃÃo.
Empolgado, o senador ignorou o limite de meia hora e usou o microfone por
50 minutos. Dedicou boa parte do tempo ao repertÃrio da Era FHC, com ataques
ao neoliberalismo e ao Fundo MonetÃrio Internacional.
Num flashback do horÃrio eleitoral, chegou a criticar o preÃo dos
pedÃgios em SÃo Paulo, bandeira que nÃo foi capaz de evitar sua segunda
derrota seguida na disputa pelo governo do Estado.
Coube ao ex-ministro Delfim Netto, professor titular da USP, a tarefa de
dar o primeiro freio à pregaÃÃo petista.
"Esse negÃcio de que o Fernando Henrique usou o Consenso de Washington...
nÃo usou coisa nenhuma!, disse, arrancando gargalhadas. "Ele sabia era que
30% dos problemas sÃo insolÃveis, e 70% o tempo resolve."
IrÃnico, Delfim evocou o cenÃrio internacional favorÃvel para sustentar
que o bolo lulista nÃo cresceu apenas por vontade do presidente.
"Com o Lula vocà exagera um pouco, mas à a sua funÃÃo", disse. "O nÃvel
do mar subiu e o navio subiu junto. De vez em quando, o governo pensa que
foi ele quem elevou o nÃvel do mar..."
"O Lula teve uma sorte danada. Ele sabe, e isso nÃo tira os seus
mÃritos", concordou JoÃo Manuel Cardoso de Mello (Unicamp), que reclamou de
"barbeiragens no cÃmbio" e definiu o Fome Zero como "um desastre".
à medida que o doutorando rebatia as crÃticas, a discussÃo se afastava
mais da metodologia da pesquisa, tornando-se um julgamento de prÃs e contras
do governo.
Sà Luiz Carlos Bresser Pereira (USP) arriscou um reparo à falta de
academicismo da tese: "Aloizio, vocà resolveu nÃo discutir teoria...".
Ricardo Abramovay (USP) observou que o autor "exagera muito" ao comparar
Lula aos antecessores.
"NÃo vejo problema em ser um trabalho de combate", disse. "Mas vocÃ
acredita que o paÃs estaria melhor se as telecomunicaÃÃes nÃo tivessem sido
privatizadas?"
A deixa serviu para que Mercadante retomasse o tema do pedÃgio.
A tese pareceu agradar a maior parte das 300 espectadores, que se
dividiram entre o auditÃrio lotado e um telÃo do lado de fora. Mas tambÃm
despertou algumas crÃticas.
"Achei bom, mas ele à muito militante, nÃ? Parece que a campanha nÃo
acabou...", comentou o vestibulando Mateus Guzzo, 18, que disse votar no
PSOL.
"Essa ideia de que o pesquisador tem que dissociar a paixÃo da
racionalidade à uma visÃo superada pela neurociÃncia", defendeu-se
Mercadante, na saÃda.
Reverenciada pelo senador, a economista Maria da ConceiÃÃo Tavares (UFRJ
e Unicamp) nÃo pÃde ir, mas enviou bilhete elogioso.
Nascida em Portugal, ela poderia ter corrigido o "discÃpulo e aluno
dileto" quando ele, ao exaltar a polÃtica externa de Lula, disse que "nÃo
houve indicaÃÃo de embaixador polÃtico neste governo".
Em 2003, o presidente entregou a representaÃÃo em Lisboa ao ex-deputado
Paes de Andrade (PMDB-CE), que estava sem mandato. O ex-presidente Itamar
Franco tambÃm chefiou diplomatas em Roma, antes de romper relaÃÃes com o
PT.
"Pode-se enganar uma pessoa
por muito tempo; algumas por algum tempo; mas nÃo se
consegue enganar todas por todo o
tempo." Abraham
Lincoln.