-- BEGIN included message
- Subject: Re: Palestra do Castells (longo!)
- From: Roberto Marcondes Cesar Junior <cesar@ime.usp.br>
- Date: Mon, 31 May 1999 15:36:13 -0300
Oi. Ta bem, ta certo, eu nao vi nenhuma das duas palestras... mas nao consigo deixar uma oportunidade de dar alguma opiniao :) Infelizmente, esse email vai rapidinho, so pra acrescentar alguma coisa em relacao ao que o professor Setzer disse. > "A revolução tecnológica não determina a sociedade, ela _é_ a > sociedade." Não estou totalmente de acordo, pois não se pergunta à > sociedade se ela está interessada em uma nova tecnologia, e muito menos > se apresentam a ela os efeitos positivos e negativos da novidade, para > que ela possa decidir se a quer ou não. O que acontece hoje em dia é de > um lado o impingir de produtos, convencendo-se o consumidor através de > propaganda que ele deve comprar o que não precisa por um preço mais > caro. Em segundo lugar, existe uma obsolescência forçada. Produtos que > poderiam durar mais são substituídos por novos devido a custos de > manutenção ou obsolescência forçada (não fazem tudo o que os novos > produtos fazem). Na informática, provavelmente há um acordo entre Intel > e Microsoft, de modo que esta esbanja mais recursos em cada nova versão > do soft para que a primeira possa vender processadores essenciais para > processar o excesso de recursos requeridos. O desenvolvimento tecnologico, principalmente em relacao ao desenvolvimento de "produtos tecnologicos" eh so mais uma maneira de aprofundar ainda mais o fosso entre um grupinho de pessoas que vivem bem do GRUPAO que vive muito mal. O desenvolvimento e lancamento das novas tecnologias (e.g. micros cada vez mais rapidos) so serve aas poucas pessoas que podem compra-las. Um numero cada vez menor de pessoas consegue ter acesso a isso, o que faz com que as pessoas mais favorecidas tenham mais chance do que as menos (mais ou menos como o nosso sistema de ensino primario e secundario em relacao ao acesso elitista a universidade). Um exemplo ingenuo mas emblematico eh dado pelo Freeman Dyson em "Mundos Imaginados" (Cia das Letras, 98 ou 99, nao tenho certeza): se voce anuncia um emprego na INTERNET, quem nao tem acesso aa rede (menos favorecidos, donc!) nao pode ter a oportunidade de concorrer por ele. Mas nem toda tecnologia eh ruim assim: existem tecnologias baratas que poderiam servir a um numero muito maior de pessoas. Infelizmente, essas normalmente nao dao tanto lucro, sao mais democraticas e diminuiriam o fosso social. Bref: nao serviriam ao proposito de aumentar a distancia entre ricos e pobres. Pior: talvez elas nem causassem desemprego! Isso seria um escandalo para as elites economicas mundiais! > "Os meios de comunicação não determinam a política." Um querido amigo > americano, de mais de 80 anos, ex-professor de matemática, escreveu-me > que os meios de comunicação americanos estão dominados pela direita > radical (Murdoch, Moon, - sic - etc.). Ele diz que há lá tão pouca > liberdade de imprensa quanto na antiga União Soviética. Papagaio, não > pensei que chegasse a tanto. Mas procurem algum artigo na Veja, cujos > repórteres são independentes da diretoria financeira, que seja contra a > opinião do Civitta (que, aliás, é americano). Ou no Estadão algo que > seja contrário à visão dos Mesquita. (Bom, até que eles se dão ao luxo > de deixar aparecer algumas opiniões esquerdistas de articulistas - não > de repórteres - para dar a impressão de liberdade de opinião.) Os detentores dos grandes meios de comunicacao, hoje em dia, fazem parte de grupos que tem interesse nao so em comunicacao (e.g. o grupo Folha andou fazendo parte dos consorcios para privatizacao das telecomunicacoes). Precisa dizer mais? > Durante as perguntas, ele disse algo interessante: "A competitividade > sem integração humana é auto-destrutiva." O que será que ele quis dizer > com isso? Deve haver competitividade entre grupos integrados? Ou > integrar os competidores? Para mim, o que precisa é acabar com a > competitividade, pois ela é anti-social. Concordo em genero, numero e grau. Deveriamos estar buscando sociedades baseadas em solidariedade, justica, igualdade de direitos e respeito aa liberdade individual. Eh exatamente o contrario de tudo isso o que esta acontecendo. E, como eu andei escrevendo em um outro email (mas em outro contexto), esse tipo de raciocinio torto baseado em competitividade extremada, darwinismo social, ao vencedor as batatas (e o perdedor, aos leoes) tem invadido selvagemente cada vez mais as universidades (que deveriam estar alertando outros setores sobre essas coisas). As vezes eu tenho a impressao que exige-se que eu ensine aos meus alunos como vencerem a competicao social existente por ai (algo que faz parte da "natureza humana", segundo alguns mal-intencionados e/ou ignorantes proclamam desde a proposicao da teoria darwinista). Acredito que seja minha obrigacao alertar que essa competicao social a todo custo so pode levar onde estamos testemunhando: guerra, miseria, criminalidade, tristeza, feiura, inseguranca, alienacao e assim por diante (pra nao comentar a proposito de insensibilidade, pobreza de espirito, preconceitos, feiura e jacuzisse). Atesto e dou fe. Roberto =================================================== Roberto Marcondes Cesar Junior Department of Computer Science Institute of Mathematics and Statistics - IME University of Sao Paulo - USP Rua do Matao, 1010, Sao Paulo, SP CEP 05508-900 - Brazil Fone: (011) 818 61 35 FAX: (011) 818 61 34 e-mail: cesar@ime.usp.br http://www.ime.usp.br/~cesar ===================================================
-- END included message