Capítulo 1 Semana 1

1.1 Aula 1

Conjuntos

Definição 1.1 Um conjunto é uma coleção não ordenada de objetos. Os objetos que constituem um conjunto são chamados elementos do conjunto.
Observação. aA indica que a é um elemento do conjunto A. bB indica que b não é um elemento do conjunto A. Por convenção, vamos utilizar letra minúscula para representar elementos e letra maiúscula para conjuntos.

Existem duas maneiras de descrever um conjunto:

  • Listar os elementos (quando possível);
  • Através das propriedados do conjunto.

Exemplo 1.1

  • O conjunto das vogais: V={a,e,i,o,u};

  • O conjunto dos inteiros positivos ímpares menores que 10: I={1,3,5,7,9};

  • O conjunto dos inteiros positivos menores que 100: A={1,2,3,,99}.

  • I={x | x, é inteiro, ímpar, positivo e menor que 10}= {xZ+| x é ímpar e  X<10}.

  • O conjunto de todos os números racionais positivos: Q+= {xR| x=pq, para alguns inteiros p e q}.

Notação:

  • N: conjunto dos números naturais;
  • Z: conjunto dos números inteiros;
  • Z+: conjunto dos números inteiros positivos
  • Q={pq | pZ,qZ e qZ}: conjunto dos números racionais;
  • R: conjunto dos números reais;
  • R+: conjunto dos números reais positivos;
  • : conjunto vazio, não possui nenhum elemento.
Observação. Conjuntos podem conter outros conjuntos.
Exemplo 1.2 A={N,Z,Q}.
Definição 1.2 (Subconjunto) O conjunto A é um subconjunto de B, se, e somente se, todo elemento de A também for elemento de B.

Observação. AB,sse,aAaB.

  1. para mostrar que A, é necessário encontrar um elemento x \in A, tal que x \notin B.

  2. para enfatizar que A é um subconjunto de B, mas A \ne B, escrevemos A \subset B (dizemos que A é subconjunto próprio de B).

  3. para mostrar que A = B, devemos mostrar que A \subseteq B e B \subseteq A.
Definição 1.3 (Cardinalidade) Seja \mathcal{S} um conjunto. Se \mathcal{S} tem exatamente n elementos, n \in \mathbb{Z}^{+}, dizemos que \mathcal{S} é finito e que tem cardinalidade n. Notação: |\mathcal{S}| = n.

Exemplo 1.3 A cardinalidade dos conjuntos definidos no Exemplo 1.1 é

  • |V| = 5,

  • |I| = 5,

  • |A| = 99,

  • |\mathbb{Q}| = \infty,

  • |\emptyset| = 0.

Definição 1.4 (Conjunto infinito) Um conjunto é infinito se não é finito.
Exemplo 1.4 |\mathbb{Z}| = \infty.
Exemplo 1.5 (Hotel de Hilbert) Considere um hotel hipotético com infinitos quartos, todos ocupados - cada um com um hóspede. Suponha que um novo hóspede chega e gostaria de se acomodar no hotel. Se o hotel tivesse apenas um número finito de quartos, então é claro que o requerimento não poderia ser cumprido, mas como o hotel possui um número infinito de quartos então se movermos o hóspede do quarto 1 para o quarto 2, o hóspede do quarto 2 para o quarto 3 e assim por diante (simultaneamente), movendo o hóspede do quarto N para o quarto N+1, podemos acomodar o novo hóspede no quarto 1, que agora está vago. Por um argumento análogo é possível alocar um número infinito (contável) de novos clientes: apenas mova o hóspede do quarto 1 para o quarto 2, o hóspede do quarto 2 para o quarto 4, e em geral do quarto N para o quarto 2N, assim todos os quartos de número ímpar estarão livres para os novos hóspedes. Veja mais aqui.

Assita um vídeo explicativo vídeo aqui.

Definição 1.5 (Conjunto de Potências) Dado um conjunto \mathcal{S}, o conjunto potência de \mathcal{S} é o conjunto de todos os subconjuntos de \mathcal{S}, incluindo o conjunto vazio e o próprio \mathcal{S}. Notação: \mathcal{P}(\mathcal{S}).

Exemplo 1.6 Considere \mathcal{S} = \{0,1,2\}, então

\mathcal{P}(\mathcal{S}) = \{\emptyset, \{0\}, \{1\}, \{2\}, \{0,1\}, \{0,2\}, \{1,2\}, \underbrace{\{0,1,2\}}_{\mathcal{S}} \}.

Observação. Se um conjunto tem n elementos, seu conjunto potência tem 2^n elementos (este fato será provado adiante).

Definição 1.6 (n-tupla) A n-tupla (a_1, a_2, \ldots, a_n) é a coleção ordenada que tem a_1 como primeiro elemento, a_2 como segundo elemento e a_n como n-ésimo elemento.
Observação. Duas n-tuplas (a_1, \ldots, a_n) e (b_1, \ldots, b_n) são iguais se, e somente se, a_i = b_i, \forall i \in \{1, \ldots, n\}.
Definição 1.7 (Produto Cartesiano) Sejam A e B conjuntos. O produto cartesiano entre A e B, denotado por A \times B é o conjunto dos pares ordenados (a,b) em que a \in A e b \in B. Notação: A \times B = \{(a,b): a \in A \ \text{e} \ b \in B\}.

Exemplo 1.7 Sejam A = \{1,2\} \ \text{e} \ B = \{1,2,3\}, então

A \times B = \{(1,1), (1,2), (1,3), (2,1), (2,2), (2,3)\}.
Definição 1.8 O produto cartesiano dos conjuntos A_1, A_2, \ldots, A_n, denotado por A \times A_2 \times \ldots \times A_n é o conjunto de n-tuplas ordenadas (a_1, a_2, \ldots, a_n) em que a_i \in A_i, \text{para} \ i=1,2,\ldots,n. Notação: A_1 \times A_2 \times \ldots \times A_n = \{(a_1, a_2, \ldots, a_n): a_i \in A_i, \ i=1,2,\ldots,n\}.

1.2 Aula 2

Operações entre conjuntos

Definição 1.9 (União) Sejam A e B conjuntos. A união dos conjuntos A e B, denotado por A \cup B, é formada pelos elementos que estão em A ou B, ou seja, que pertencem à pelo menos um conjunto. Notação: A \cup B = \{ x |\ x \in A \ \mbox{ou} \ x \in B\}.

Exemplo 1.8 Sejam A = \{1,3,5\} \ \text{e} \ B = \{1,2,3\}, então

A \cup B = \{(1,2,3,5)\}.
Definição 1.10 (Interseção) Sejam A e B conjuntos. A interseção dos conjuntos A e B, denotado por A \cap B, é o conjunto formado pelos elementos que pertencem ao conjunto A e ao conjunto B. Notação: A \cap B = \{ x |\ x \in A \ \mbox{e} \ x \in B\}.

Exemplo 1.9 Sejam A = \{1,3,5\} \ \text{e} \ B = \{1,2,3\}, então

A \cap B = \{(1,3)\}.
Definição 1.11 (Diferença) Sejam A e B conjuntos. A diferença dos conjuntos A e B, denotada por A \setminus B, é o conjunto formado pelos elementos que pertencem ao conjunto A, mas não pertencem ao conjunto B. Notação: A \setminus B = \{x : x \in A \ e \ x \notin B\}.
Definição 1.12 (Complemento) Seja \Omega o conjunto universal. O complemento de um conjunto A e B, denotado por \bar{A} ou A^c, é o complemento de A em relação a \Omega. Notação: A^c = \Omega \setminus A = \{x : x \notin A\}.
Diagrama de Venn que representa os conjuntos $A$ e $B$ dos exemplos anteriores.

Figura 1.1: Diagrama de Venn que representa os conjuntos A e B dos exemplos anteriores.

Identidades de conjuntos

Exemplo 1.10 Prove que \overline{A\cap B} = \overline A \cup \overline B.

Solução. A ideia é mostrar que (i) \overline{A\cap B} \subseteq \overline A \cup \overline B e, depois, (ii) \overline A \cup \overline B \subseteq \overline{A\cap B}.

  1. Vamos mostrar que se x \in \overline{A\cap B} \Rightarrow x \in \overline A \cup \overline B.

\begin{align} x \in \overline{A\cap B} &\Rightarrow x \notin A\cap B \quad \text{(def. do complemento)}\\ & \Rightarrow \neg(x \in A\cap B) \quad \text{(def. de não pertencer)}\\ & \Rightarrow \neg(x \in A) \text{ ou } \neg(x \in B)\\ & \Rightarrow x \notin A \text{ ou } x \notin B\\ & \Rightarrow x \in \overline A \cup \overline B.\\ \end{align}

Ou seja, \overline{A\cap B} \subseteq \overline A \cup \overline B.

  1. Vamos mostrar que se x \in \overline A \cup \overline B \Rightarrow x \in \overline{A\cap B}. \begin{align} x \in \overline A \cup \overline B &\Rightarrow x \in \overline A \text{ ou } x \in \overline B \quad\text{(def. da união)}\\ & \Rightarrow x \notin A \text{ ou } x \notin B\quad\text{(def. do complemento)}\\ & \Rightarrow \neg(x \in A) \text{ ou } \neg(x \in B)\\ & \Rightarrow \neg(x \in A \text{ e } x \in B) \\ & \Rightarrow x \in \overline{A\cap B}.\\ \end{align}
Ou seja, \overline A \cup \overline B \subseteq \overline{A\cap B}.

1.3 Aula 3

Uniões e interseções gerais

Considere n conjuntos A_1, A_2, \ldots, A_n:

  • sua união é \bigcup_{i=1}^{n}A_i = \{x: x \in A_i \text{ para algum $i$}\},
  • sua interseção é \bigcap_{i=1}^{n}A_i = \{x: x \in A_i \text{ para todo $i$}\}.

Exemplo 1.11 Para i=1,2,\ldots, seja A_i=\{i, i+1, i+2, \ldots\}, temos

  • \bigcup_{i=1}^{n}A_i = \bigcup_{i=1}^{n}\{i, i+1, i+2, \ldots\} = \{1,2,3,\ldots\}=\mathbb{Z}^+,

  • \bigcap_{i=1}^{n}A_i = \bigcap_{i=1}^{n}\{i, i+1, i+2, \ldots\} = \{n,n+1,n+2,\ldots\}=A_n.

Observação. Podemos extender a notação anterior para um número enumerável de conjuntos, assim

  • A_1 \cup A_2 \cup \ldots \cup A_n \cup \ldots = \bigcup_{i=1}^{\infty}A_i,

  • A_1 \cap A_2 \cap \ldots \cap A_n \cap \ldots = \bigcap_{i=1}^{\infty}A_i,

Além disso, podemos generalizar a indexação do conjunto de índices. Considere novamente os conjuntos A_1, A_2, \ldots e seja I um conjunto, então

  • \bigcup_{i\in I}A_i = \{x: \text{ existe } i\in I \text{ tal que } x \in A_i\},
  • \bigcap_{i\in I}A_i = \{x: x \in A_i \text{ para todo $i \in I$}\}.

Exemplo 1.12 Seja A_i = \{1,2,\ldots, i\}, i=1,2,3, \ldots, então

  • \bigcup_{i=1}^{\infty}A_i = \bigcup_{i=1}^{\infty}\{1,2,\ldots, i\}=\{1,2,3,\ldots\}=\mathbb{Z}^+,

  • \bigcap_{i=1}^{\infty}A_i = \bigcap_{i=1}^{\infty}\{1,2,\ldots, i\}=\{1\}.

Definição 1.13 (Partição) Seja A um conjunto não vazio. Uma partição de A é uma familia de subconjuntos não vazios A_1, A_2, \ldots, A_n tais que \bigcup_{i=1}^{n}A_i=A e A_i \cap A_j = \emptyset se i \neq j.

Representação de conjuntos na linguagem R

Se você não tem conhecimento prévio de R, veja o Apêndice A. A linguagem R é bastante útil para manipulação de dados. Podemos fazer todas as operações de conjuntos usando funções definidas na linguagem:

  • função union(A, B): A \cup B;
  • função intersect(A, B): A \cap B;
  • função setdiff(A, B): A \setminus B;

Sejam A = \{1,2,3,4,5\}, B=\{4,5,6,7\}. A operação A \cup B então é obtida pelo comando

## [1] 1 2 3 4 5 6 7

A operação A \cap B é obtida através comando

## [1] 4 5

Finalmente, a operação A \setminus B pode ser feita usando

## [1] 1 2 3

A utilização dessas funções em conjunto pode ser feita para obter operações mais complexas.

Somatórios e produtórios

Somas como a_k + a_{k+1} + \cdots + a_m podem ser escritas em forma compacta usando o símbolo somatório \big(\sum\big): \sum_{i=k}^{i=m}a_i=\sum_{i=k}^{m}a_i = a_k + a_{k+1} + \cdots + a_m.

Exemplo 1.13 \sum_{j=-2}^{3}j^2 = (-2)^2 + (-1)^2 + 0^2 + 1^2 + 2^2 + 3^2=19.

Teorema 1.1 Seja n um inteiro qualquer, c um real qualquer e a_1, \ldots, a_n, b_1, \ldots, b_n duas sequências de números. Então

  1. \sum_{i=1}^{n} c = nc,
  2. \sum_{i=1}^{n} ca_i = c\big(\sum_{i=1}^{n}a_i\big),
  3. \sum_{i=1}^{n} (a_i + b_i) = \sum_{i=1}^{n}a_i + \sum_{i=1}^{n}b_i,
  4. \sum_{i=1}^{p}a_i + \sum_{i=p+1}^{n}a_i = \sum_{i=1}^{n}a_i,
  5. \sum_{i=0}^{n} a_{p-i}=\sum_{i=p-n}^{p} a_{i}.
Prova. A cargo do leitor.

O produto a_k\cdot a_{k+1}\cdots a_m é denotado por \prod_{i=k}^{m}a_i.

Exemplo 1.14 O fatorial n! é definido por n!=n(n-1)(n-2)\cdots 2\cdot 1, e 0!=1. Usando a notação de produtório, temos \prod_{k=1}^{n}k = n!.

Teorema 1.2 Seja n um inteiro qualquer, c um real qualquer e a_1, \ldots, a_n, b_1, \ldots, b_n duas sequências de números. Então

  1. \prod_{i=1}^{n}a_i b_i = \big(\prod_{i=1}^{n}a_i\big)\big(\prod_{i=1}^{n}b_i\big).
  2. \prod_{i=1}^{n} c = c^n.
  3. \prod_{i=1}^{n} ca_i = c^n\prod_{i=1}^{n}a_i.
  4. \prod_{i=1}^{n} a_i^2 = \big(\prod_{i=1}^{n}a_i\big)^2, em geral, \prod_{i=1}^{n} a_i^c = \big(\prod_{i=1}^{n}a_i\big)^c.
Prova. A cargo do leitor.

Exemplo 1.15 a. \begin{align} \prod_{i=1}^{3} i(i+1) &= (1\cdot 2)(2\cdot 3)(3\cdot 4) \\ &= (1\cdot 2\cdot 3)(2\cdot 3\cdot 4)\\ &= \bigg(\prod_{i=1}^{3}i\bigg)\bigg(\prod_{i=1}^{3}(i+1)\bigg). \end{align}

  1. \prod_{i=1}^{3} 3i = (3\cdot 1)(3\cdot 2)(3\cdot 3) = 3^3\prod_{i=1}^{3}i.

  2. \prod_{i=1}^{4}(i+1)^2 = 2^2\cdot 3^2\cdot 4^2\cdot 5^2 = (2\cdot 3\cdot 4\cdot 5)^2 = \big(\prod_{i=1}^{4}(i+1)\big)^2.

Somatórios e produtórios na linguagem R

Considere a soma \sum_{j=-2}^{3}j^2 apresentada no Exemplo 1.13. Duas formas de representá-la em R podem ser vistas abaixo, utilizando a função sum.

## [1] 19
## [1] 19

Caso tenha dúvidas em relação ao operador :, veja a Seção A.4.1.1.

Podemos utilizar a função prod para calcular produtórios. Considere o produtório \prod_{i=1}^{3} 3i apresentado no Exemplo 1.15. Veja como obtê-lo através de dois comandos no R:

## [1] 162
## [1] 162

Princípio de indução matemática

Este princípio é uma ferramenta útil para provar resultados envolvendo números inteiros.

Primeira forma do Princípio de Indução Matemática

Seja P(n) uma propriedade relativa aos inteiros. Se

  • P(n) é verdadeira para n=1, e

  • P(k) é verdadeira e implica que P(k+1) é verdadeira,

então P(n) é verdadeira pra todo n \geq 1.

Para aplicar a primeira forma do Princípio de Indução Matemática (PIM), devemos seguir os passos seguintes

  1. Verificar se P(n) é verdadeira para n=1 (passo inicial);

  2. Assumir P(k) verdadeira (hipótese de indução) e provar que P(k+1) é verdadeira;

  3. Se 1) e 2) valem, concluir que P(n) é válida para qualquer n \geq 1.

Exemplo 1.16 Mostre que a soma dos cubos de três inteiros positivos consecutivos é um múltiplo de 9.
Observação. Lembre-se que (a+b)^3 = a^3+3a^2b + 3ab^2 + b^3.

Solução. Vamos usar o PIM.

  1. Passo inicial: para n=1 \begin{align} 1^3 + (1+1)^3 + (1+2)^3 &= 1 + 8 + 27\\ &= 36 \\ &= 9 \cdot 4. \end{align}

  2. Hipótese de indução: para n=k, k^3 + (k+1)^3 + (k+2)^3 = 9L, em que L é um inteiro. Devemos mostrar que (k+1)^3 + [(k+1) + 1]^3 + [(k+1)+2]^3 = 9M, para algum inteiro M. \begin{align} (k+1)^3 + [(k+1) + 1]^3 + [(k+1)+2]^3 &= (k+1)^3 + (k+2)^3 + (k+3)^3\\ &= (k+1)^3 + (k+2)^3 + (k^3 + 3k^2 3 + 3k9 + 27)\\ &= \underbrace{(k+1)^3 + (k+2)^3 + k^3}_{9L} + 9K^2 + 27k + 27\\ &= 9L + 9k^2 + 27k + 27\\ &= 9(L + k^2 + 3k + 3)\\ &= 9M, \end{align} em que M = L + 3k^2 + 3k + 3.

Exemplo 1.17 Conjecture uma fórmula para a soma dos n primeiros inteiros positivos ímpares e use indução para estabelecer a conjectura.

Solução. As primeiras cinco somas são tais que \begin{align} 1 &= 1^2 \\ 1 + 3 = 4 &= 2^2\\ 1 + 3 + 5 = 9 &= 3^2\\ 1 + 3 + 5 + 7 = 16 &= 4^2\\ 1 + 3 + 5 + 7 + 9 = 25 &= 5^2. \end{align}

Portanto, a conjectura é \sum_{i=1}^{n}(2i-1)=n^2. Vamos usar o princípio de indução matemática para prová-la.

  1. Passo inicial: n=1 \sum_{i=1}^{1}(2i-1) = 1 = 1^2.

  2. Hipótese de indução: supor que vale para n=k. Considere a soma para n=k+1 \begin{align} \sum_{i=1}^{k+1}(2i-1) &= \sum_{i=1}^{k}(2i-1) + [2(k+1)-1]\\ &= k^2 + 2k + 1 \\ &= (k+1)^2. \end{align}

Exemplo 1.18 Prove, usando indução, que para qualquer n natural, \prod_{i=1}^{n}a_i^m = \bigg(\prod_{i=1}^{n}a_i\bigg)^m.

Solução. 1. Passo inicial: \prod_{i=1}^{1}a_i^m = a_1^m = \bigg(\prod_{i=1}^{1}a_i\bigg)^m.

  1. Hipótese de indução: supor que vale para n=k. \prod_{i=1}^{k}a_i^m = \bigg(\prod_{i=1}^{k}a_i\bigg)^m. Assim, \begin{align} \prod_{i=1}^{k+1}a_i^m &= \bigg(\prod_{i=1}^{k}a_i^m\bigg) \bigg(\prod_{i=k+1}^{k+1}a_i^m\bigg) \\ &=\bigg(\prod_{i=1}^{k}a_i\bigg)^m a_{k+1}^{m} \\ &= \bigg[\bigg(\prod_{i=1}^{k}a_i\bigg)a_{k+1}\bigg]^m\\ &= \bigg(\prod_{i=1}^{k+1}a_i\bigg)^m. \end{align}
Observação. A primeira forma do princípio de indução matemática é útil em casos em que o n-ésimo termo da sequência pode ser calculado a partir de n e do antecessor imediato na sequência. Em situações em que a sequência é definida de maneira recursiva (depende de dois ou mais termos anteriores), é conveniente utilizar a segunda forma do princípio da indução.

1.4 Aula 4

Segunda forma do princípio de Indução Matemática

Seja P(n) uma propriedade relativa aos inteiros. Se

  1. P(n) é verdadeira para n=1 e
  2. P(n) é verdadeira para 1\leq n \leq k e implica que P(k+1) é verdadeira, então P(n) é verdadeira para todo inteiro n \geq 1.
Exemplo 1.19 Definimos recursivamente, para todo n a função \mu(n), por \begin{align} \mu(1) &= 1\\ \mu(2) &= 5\\ \mu(n) &= \mu(n-1) + 2\mu(n-2), \forall \ n>2. \end{align} Prove, usando indução, que \mu(n) = 2^n + (-1)^n.

Solução.

  1. Temos que 2^1 + (-1)^1 = 1 = \mu(1) e 2^2+(-1)^2=5= \mu(2), portanto p(1) e p(2) são verdadeiras.

  2. Supor que, para todo inteiro n tal que 2 < n \leq k a equação \mu(n) = \mu(n-1) + 2\mu(n-2) é válida. Devemos provar que a equação é válida para n=k+1. Assim,

\begin{align} \mu(k+1) &= \mu(k) + 2\mu(k-1)\\ &= 2^k + (-1)^k + 2[2^{k-1} + (-1)^{k-1}]\\ &= 2\cdot 2^k + (-1)^k + 2(-1)^{k-1}\\ &= 2^{k+1} + (-1)^{k-1}[(-1)+2]\\ &= 2^{k+1} + (-1)^{k-1}[1] \qquad{\text{(note que $(-1)^{k-1}=(-1)^{k+1}$})}\\ &= 2^{k+1} + (-1)^{k+1}. \end{align}

Dessa forma, com P(1), P(2), \ldots, P(k) são válidas, então P(k+1) também é.

Exemplo 1.20 (Número de subconjuntos de um conjunto finito) Prove que se \mathcal{S} é um conjunto finito com n elementos, em que n é inteiro não negativo, então, \mathcal{S} tem 2^n subconjuntos.

Solução.

  1. Temos que P(0) é verdadeiro, i.e., o conjunto vazio tem 2^0=1 subconjunto.

  2. Supor verdadeiro para n=k, ou seja, todo conjunto com k elementos tem 2^k subconjuntos. Vamos mostrar que vale para n=k+1. Seja \mathcal{T} um conjunto com k+1 elementos. Então, podemos escrever \mathcal{T} = \mathcal{S}\cup\{a\}, em que a \in \mathcal{T} e \mathcal{S}=\mathcal{T}\setminus\{a\}, assim, |\mathcal{S}|=k. Os subconjuntos de \mathcal{T} podem ser obtidos da seguinte forma: para cada subconjunto \mathcal{X} de \mathcal{S}, existem dois subconjuntos de \mathcal{T}, a saber, \mathcal{X} e \mathcal{X}\cup \{a\}. Veja na figura 1.2. Essa abordagem inclui todos os subconjuntos de \mathcal{T}, e são todos distintos. Vamos agora usar a hipótese de indução. \mathcal{S} tem 2^k subconjuntos, pois tem k elementos. Também sabemos que existem 2 subconjuntos de \mathcal{T} para cada subconjunto de \mathcal{S}. Então, temos 2\cdot 2^k = 2^{k+1} subconjuntos de \mathcal{T}.

Decomposição do conjunto.

Figura 1.2: Decomposição do conjunto.

1.5 Aula 5

Princípio aditivo e multiplicativo

Definição 1.14 (Princípio aditivo) Se A e B são dois conjuntos disjuntos (A \cap B = \emptyset) com p e q elementos, respectivamente, então A \cup B possui p + q elementos.
Exemplo 1.21 Suponha que tenham entrado em cartaz 3 filmes e 2 peças de teatro, e que Marcelo tenha dinheiro para assistir apenas 1 evento. Quantos são os programas que Marcelo pode escolher fazer?
Solução. Defina A = \{x \vert x \text{ é filme}\} = \{F_1, F_2, F_3\} e B = \{y \vert y \text{ é teatro}\} = \{T_1, T_2\}. Então, A \cup B = \{x \vert x \text{ é filme ou peça}\}. \vert A \vert = 3 e \vert B \vert = 2, logo \vert A \cup B \vert = 5.
Definição 1.15 (Princípio multiplicativo) Se um evento A pode ocorrer de m maneiras diferentes, outro evento B pode ocorrer de n maneiras diferentes, então o número de maneiras de ocorrer o evento A seguido de B é m\times n. Em conjuntos, se |A|=m e |B|=n, então |A\times B| = m \times n.
Exemplo 1.22 No exemplo anterior, se Marcelo tiver dinheiro para assitir a um filme e a uma peça de teatro, quantos sas os programas que ele pode escolher fazer?
Solução. |A|=3 e |B|=2. Também, |A\cap B| = \emptyset. Então, |A \times B| = 6.

Extensão do princípio aditivo

Se A_1, A_2, \ldots, A_n são conjuntos, disjuntos 2 a 2, e se A_i possui a_i elementos, então a união \bigcup_{i=1}^{n}A_i possui \sum_{i=1}^{n}a_i elementos.

Extensão do princípio multiplicativo

Se um evento A_i pode ocorrer de m_i maneiras diferentes, i = 1,2,\ldots, n, então esses n eventos podem ocorrer, em sucessão, de m_1 \times m_2 \times \cdots \times m_n maneiras diferentes.

Em linguagem de conjuntos, se A_1, A_2, \ldots, A_n são conjuntos finitos com |A_i|=m_i, i = 1,2,\ldots, n, então, se A_i \cap A_j = \emptyset, i \neq j, |A_1 \cup A_2 \cup \cdots \cup A_n| = \sum_{i=1}^{n}|A_i|, |A_1 \times A_2 \times \cdots \times A_n| = \prod_{i=1}^{n}|A_i|.

Aplicações dos Princípios Aditivo e Multiplicativo

Exemplo 1.23 Um amigo mostrou-me 5 livros diferentes de matematica, 7 de física e 10 de química e pediu-me para escolher dois livros com a condição de que eles não fossem da mesma matéria. De quantas maneiras posso escolhê-los?

Solução. Posso fazer as seguintes escolhas:

\left.\begin{array}{ll} \text{a)}& \text{Matemática e física: } 5 \times 7 = 35 \text{ maneiras;} \\ \text{b)}& \text{Matemática e química: } 5 \times 10 = 50 \text{ maneiras;} \\ \text{c)}& \text{Física e química: } 7 \times 10 = 70 \text{ maneiras.} \end{array}\right\} \text{(princípio multiplicativo)}

Como minhas escolhas só podem ocorrer dentre uma das possibilidades a), b) ou c), então, pelo princípio aditivo, 35 + 50 + 70 = 155 é o número de maneiras de fazer essas escolhas.
Exemplo 1.24 Quantos são os números de 9 dígitos que podemos formar com todos os dígitos 1, 1, 1, 1, 1, 1, 1, 2, 3?
Solução. Se, primeiramente, colocarmos todoos os dígitos 1´s, deixando um espaço entre eles, teremos \_1\_1\_1\_1\_1\_1\_1\_.8 espaçoes nos quais podem ser colocador os dígitos 2 e 3. Se colocarmos o 2 primeiro, uma entre as 8 possibilidades é \_1\_2\_1\_1\_1\_1\_1\_1\_. Agora há 9 espaços onde o dígito 3 pode ser colocado. Portanto, 8 \times 9 = 72 são os números formados com 9 dígitos, sendo sete 1’s, um 2 e um 3.
Exemplo 1.25 Há 12 mulheres e 10 homens, 5 deles (3 mulheres e 2 homens) são irmãos e os restantes não possuem parentesco. Quantos são os casamentos heterossexuais possíveis?

Solução.

  • Considerando as 3 mulheres que possuem irmãos (2), ha 3\times 8=24 casamentos possíveis;
  • Considerando as 9 mulheres que não possuem irmãos, há 9\times 10=90 casamentos possíveis;

portanto, pelo princípio aditivo, há 24+90 = 114 casamentos heterosexuais possíveis.

Permutação

Definição 1.16 (Permutação) Uma permutação de n objetos distintos é qualquer agrupamento ordenado desses objetos, de modo que, se denominarmos P_n o número das permutações simples dos n objetos, então P_n = n(n-1)(n-2)\cdots 1 = n!.
Exemplo 1.26 Considerando os digitos 1, 2, 3, 4 e 5, quantos números de 2 algarismos distintos podem ser formados?
Solução. Existem duas posições a serem preenchidas [\text{Pos}_1][\text{Pos}_2]. A posição [\text{Pos}_1] pode ser preenchida de 5 maneiras diferentes, restando, portanto, 4 dígitos que podem ocupar a posição [\text{Pos}_2]. Então há 5\times 4 = 20 números de 2 algarismos distintos que podem ser formados com os 5 digitos disponíveis.