[Prévia] [Próxima] [Prévia por assunto] [Próxima por assunto]
[Índice cronológico]
[Índice de assunto]
Re: [ABE-L]: Unwin e Shermer
- Subject: Re: [ABE-L]: Unwin e Shermer
- From: "Jorge Alberto Achcar" <achcar@fmrp.usp.br>
- Date: Sat, 15 Sep 2007 19:59:34 -0200
Prezados colegas,
Após receber uma quantidade enorme de e-mails da lista da ABE de ilustres
colegas sobre um tema que certamente fascina (existência de Deus) o ser
humano, vou humildemente apresentar um comentário.A probabilidade é uma
ferramenta poderosa para identificar casos de paternidade, casos de
fraudes (quem não se lembra de um político que ao justificar a fortuna não
justificada alegou ter ganho dezenas de vezes na loteria) e assim por
diante.Porque não calcularmos as probabilidades de eventos raros
associados á nossa história no planeta terra? Como vivemos num pequeno
ponto na imensidão do Universo, alguns fatos que estão sendo comprovados
especialmente pelos astrônomos nos últimos anos, nos deixam mais curiosos
sobre esse tema.Por exemplo, qual é a probabilidade de dois asteróides
colidirem como bolas de bilhar a uma razoável distancia da terra (ver
artigo abaixo publicado no jornal O Estado de São Paulo) e os restos dessa
colisão terem eliminado os dinossauros que viveram na terra por 190
milhões de anos e daí abrir caminho para a evolução do homem ? Os
dinossauros foram produtos da teoria da evolução, mas certamente a sua
existência impedia o desenvolvimento de outras espécies.Sem essa colisão,
não teríamos o desenvolvimento via evolução (Darwin) dos mamíferos e
conseqüentemente o ser humano.Estamos aqui meramente por um capricho de
duas bolas de bilhar? Será que isso não ocorre freqüentemente na imensidão
do Universo? Talvez a comunidade cientifica (em especial os estatísticos
e os probabilistas) poderão dar importantes contribuições para essas
questões.
Abraço a todos.
Artigo do jornal ?O Estado de São Paulo? de 13 de setembro de 2007
Colisão além de Marte implicada na extinção dos dinossauros
Destruição de um asteróide há 160 milhões de anos teria lançado rocha
espacial no caminho da Terra
SÃO PAULO - O asteróide gigante que causou a extinção dos dinossauros
iniciou sua viagem rumo à Terra 100 milhões de anos antes de colidir com
nosso planeta, e a milhões de quilômetros daqui. Como num bilhar cósmico,
o que colocou o asteróide a caminho foi o impacto de outro corpo. A
"biografia" da rocha espacial que mudou o curso da vida terrestre e abriu
caminho para que os mamíferos dominassem o planeta foi delineada por uma
equipe de astrônomos americanos e checos, e aparece na edição desta semana
da revista Nature. O rastreamento da rocha de 10 km de diâmetro que abriu
a cratera de Chicxulub no México, há 65 milhões de anos, desencadeando uma
série de eventos que teria contribuído para, ou mesmo causado, a extinção
em massa dos dinossauros começa no cinturão de asteróides, entre Marte e
Júpiter.A equipe liderada por William Bottke tentava determinar o evento
que teria dado origem a um grupo, ou "família" de asteróides, a
Baptistina, batizada com o nome de seu maior representante, o asteróide
298 Baptistina, de 40 km de diâmetro.
Cálculos sugeriram que a família teria surgido a partir da desintegração
de um asteróide muito maior, de 170 km de diâmetro, há 160 milhões de
anos. Simulações mostraram, porém, que nem todos os "filhotes" do
Baptistina original teriam ficado no cinturão junto dos demais irmãos.
"Tentamos duplicar, do melhor modo possível, as condições que existiram
imediatamente após o evento que formou a família", explica Bottke.
"Rodamos diversas simulações de computador usando diferentes
famílias-modelo, e comparamos os resultados com as observações".
Irmãos desgarrados
Entre as observações levadas em conta, estavam evidências de que o fluxo
de asteróides com um quilômetro ou mais de diâmetro que se chocam com a
Terra, ou com a Lua, praticamente dobrou ao longo dos últimos 100 milhões
de anos.
Os irmãos desgarrados do Baptistina poderiam explicar esse dado: se as
conclusões de Bottke estiverem corretas, não só a Terra e a Lua, mas Marte
e Vênus também estão vivendo os momentos finais de uma chuva de asteróides
que começou há 150 milhões de anos e atingiu o auge há 100 milhões.
Mas, se a desintegração do Baptistina original se deu há 160 milhões de
anos, por que o impacto de Chicxulub demorou tanto a ocorrer? Por que o
asteróide passou tanto tempo a caminho? "As forças que atuam nos
asteróides são minúsculas", diz Bottke.
O primeiro impulso é gerado pela radiação que o asteróide emite ao espaço
depois de ser aquecido pelo Sol, por exemplo. "Esta é uma força muito
pequena, e pode levar dezenas de milhões de anos para que um asteróide de
um quilômetro ou mais se desloque numa distância significativa".
Depois disso, o asteróide pode cair numa região onde a gravidade de Marte
ou Júpiter consegue arrancá-lo do cinturão, jogando-o numa rota que cruze
a órbita de um planeta como a Terra. Mesmo aí, podem se passar dezenas de
milhões de anos antes que os dois corpos, planeta e asteróide, se
encontrem no mesmo ponto do espaço ao mesmo tempo.
Lua e Vênus
Além das simulações de computador para reconstituir a desintegração do
Baptistina original e os rumos possíveis tomados pelos fragmentos, a
equipe de Bottke se vale de uma análise estatística e de composição
química para identificar a rocha de Chicxulub com um desses asteróides. O
grau de semelhança entre os vestígios do meteorito mexicano e os
remanescentes da família Baptistina coloca, segundo o artigo na Nature, a
chance dessa identidade ser exata em mais de 90%.
A Terra e os dinossauros não foram as únicas vítimas dos fragmentos do
Baptistina: Bottke atribui a formação da cratera lunar Tycho - com 85 km
de diâmetro, surgida há 109 milhões de anos - e de pelo menos uma das
quatro maiores crateras de Vênus à mesma chuva de rochas espaciais.
Essas descobertas não afetam os cálculos de risco de a Terra ser atingida
por outro evento catastrófico no futuro próximo, diz Bottke. "A população
atual de objetos próximos da Terra não é reabastecida muito depressa pelo
cinturação de asteróides, ao menos não na escala de vida de um ser
humano", diz ele. "Estimamos que um asteróide do cinturão principal com
mais de 100 km se rompa uma vez a cada 200 milhões de anos".
A astrônoma Daniela Lazzaro, do Observatório Nacional, e que encabeça o
projeto brasileiro Impacton, de busca por asteróides que possam
representar ameaça para a Terra, diz que o artigo de Bottke e colegas é
bastante convincente, mas que é preciso levar em conta que ainda há vários
fatores desconhecidos envolvidos.
"Eles juntaram algumas peças do quebra-cabeças, mas restam ainda muitos
espaços vazios", diz. "O trabalho tem um forte apoio nos dados que se
conhecem hoje em dia, mas ainda é apenas uma hipótese".
Jorge A Achcar - Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto - FMRP-USP
http://www.fmrp.usp.br/