[Prévia] [Próxima] [Prévia por assunto] [Próxima por assunto]
[Índice cronológico] [Índice de assunto]

Re: [ABE-L]: Unwin e Shermer



Prezados colegas, 

Após receber uma quantidade enorme de e-mails da lista da ABE de ilustres 
colegas  sobre um tema que certamente fascina (existência de Deus) o ser 
humano, vou humildemente apresentar um comentário.A probabilidade é uma 
ferramenta poderosa para identificar casos de paternidade, casos de 
fraudes (quem não se lembra de um político que ao justificar a fortuna não 
justificada alegou ter ganho dezenas de vezes na loteria) e assim por 
diante.Porque não calcularmos as probabilidades de eventos raros 
associados á nossa história no planeta terra? Como vivemos  num pequeno 
ponto na imensidão do Universo, alguns fatos que estão sendo comprovados 
especialmente pelos astrônomos nos últimos anos, nos deixam mais curiosos 
sobre esse tema.Por exemplo, qual é a probabilidade de dois asteróides 
colidirem como bolas de bilhar a uma razoável distancia da terra (ver 
artigo abaixo publicado no jornal O Estado de São Paulo) e os restos dessa 
colisão terem eliminado os dinossauros que viveram na terra por 190 
milhões de anos e daí abrir caminho para a evolução do homem ? Os 
dinossauros foram produtos da teoria da evolução, mas certamente a sua 
existência impedia o desenvolvimento de outras espécies.Sem essa colisão, 
não teríamos o desenvolvimento via evolução (Darwin) dos mamíferos e 
conseqüentemente o ser humano.Estamos aqui meramente por um capricho de 
duas bolas de bilhar? Será que isso não ocorre freqüentemente na imensidão 
do Universo? Talvez  a comunidade cientifica (em especial os estatísticos 
e os probabilistas) poderão dar importantes contribuições para essas 
questões. 

  Abraço a todos. 

Artigo do jornal ?O Estado de São Paulo? de 13 de setembro de 2007 

Colisão além de Marte implicada na extinção dos dinossauros 
Destruição de um asteróide há 160 milhões de anos teria lançado rocha 
espacial no caminho da Terra 

SÃO PAULO - O asteróide gigante que causou a extinção dos dinossauros 
iniciou sua viagem rumo à Terra 100 milhões de anos antes de colidir com 
nosso planeta, e a milhões de quilômetros daqui. Como num bilhar cósmico, 
o que colocou o asteróide a caminho foi o impacto de outro corpo. A 
"biografia" da rocha espacial que mudou o curso da vida terrestre e abriu 
caminho para que os mamíferos dominassem o planeta foi delineada por uma 
equipe de astrônomos americanos e checos, e aparece na edição desta semana 
da revista Nature. O rastreamento da rocha de 10 km de diâmetro que abriu 
a cratera de Chicxulub no México, há 65 milhões de anos, desencadeando uma 
série de eventos que teria contribuído para, ou mesmo causado, a extinção 
em massa dos dinossauros começa no cinturão de asteróides, entre Marte e 
Júpiter.A equipe liderada por William Bottke tentava determinar o evento 
que teria dado origem a um grupo, ou "família" de asteróides, a 
Baptistina, batizada com o nome de seu maior representante, o asteróide 
298 Baptistina, de 40 km de diâmetro. 
Cálculos sugeriram que a família teria surgido a partir da desintegração 
de um asteróide muito maior, de 170 km de diâmetro, há 160 milhões de 
anos. Simulações mostraram, porém, que nem todos os "filhotes" do 
Baptistina original teriam ficado no cinturão junto dos demais irmãos. 
"Tentamos duplicar, do melhor modo possível, as condições que existiram 
imediatamente após o evento que formou a família", explica Bottke. 
"Rodamos diversas simulações de computador usando diferentes 
famílias-modelo, e comparamos os resultados com as observações". 

Irmãos desgarrados 

Entre as observações levadas em conta, estavam evidências de que o fluxo 
de asteróides com um quilômetro ou mais de diâmetro que se chocam com a 
Terra, ou com a Lua, praticamente dobrou ao longo dos últimos 100 milhões 
de anos. 
Os irmãos desgarrados do Baptistina  poderiam explicar esse dado: se as 
conclusões de Bottke estiverem corretas, não só a Terra e a Lua, mas Marte 
e Vênus também estão vivendo os momentos finais de uma chuva de asteróides 
que começou há 150 milhões de anos e atingiu o auge há 100 milhões. 
Mas, se a desintegração do Baptistina original se deu há 160 milhões de 
anos, por que o impacto de Chicxulub demorou tanto a ocorrer? Por que o 
asteróide passou tanto tempo a caminho? "As forças que atuam nos 
asteróides são minúsculas", diz Bottke. 
O primeiro impulso é gerado pela radiação que o asteróide emite ao espaço 
depois de ser aquecido pelo Sol, por exemplo. "Esta é uma força muito 
pequena, e pode levar dezenas de milhões de anos para que um asteróide de 
um quilômetro ou mais se desloque numa distância significativa". 
Depois disso, o asteróide pode cair numa região onde a gravidade de Marte 
ou Júpiter consegue arrancá-lo do cinturão, jogando-o numa rota que cruze 
a órbita de um planeta como a Terra. Mesmo aí, podem se passar dezenas de 
milhões de anos antes que os dois corpos, planeta e asteróide, se 
encontrem no mesmo ponto do espaço ao mesmo tempo. 

Lua e Vênus 

Além das simulações de computador para reconstituir a desintegração do 
Baptistina original e os rumos possíveis tomados pelos fragmentos, a 
equipe de Bottke se vale de uma análise estatística e de composição 
química para identificar a rocha de Chicxulub com um desses asteróides. O 
grau de semelhança entre os vestígios do meteorito mexicano e os 
remanescentes da família Baptistina coloca, segundo o artigo na Nature, a 
chance dessa identidade ser exata em mais de 90%. 
A Terra e os dinossauros não foram as únicas vítimas dos fragmentos do 
Baptistina: Bottke atribui a formação da cratera lunar Tycho - com 85 km 
de diâmetro, surgida há 109 milhões de anos - e de pelo menos uma das 
quatro maiores crateras de Vênus à mesma chuva de rochas espaciais. 
Essas descobertas não afetam os cálculos de risco de a Terra ser atingida 
por outro evento catastrófico no futuro próximo, diz Bottke. "A população 
atual de objetos próximos da Terra não é reabastecida muito depressa pelo 
cinturação de asteróides, ao menos não na escala de vida de um ser 
humano", diz ele. "Estimamos que um asteróide do cinturão principal com 
mais de 100 km se rompa uma vez a cada 200 milhões de anos". 
A astrônoma Daniela Lazzaro, do Observatório Nacional, e que encabeça o 
projeto brasileiro Impacton, de busca por asteróides que possam 
representar ameaça para a Terra, diz que o artigo de Bottke e colegas é 
bastante convincente, mas que é preciso levar em conta que ainda há vários 
fatores desconhecidos envolvidos. 
"Eles juntaram algumas peças do quebra-cabeças, mas restam ainda muitos 
espaços vazios", diz. "O trabalho tem um forte apoio nos dados que se 
conhecem hoje em dia, mas ainda é apenas uma hipótese". 

Jorge A Achcar - Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto - FMRP-USP
http://www.fmrp.usp.br/