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Re: [ABE-L]: Século XXI
- Subject: Re: [ABE-L]: Século XXI
- From: "Luis Paulo Vieira Braga" <lpbraga@im.ufrj.br>
- Date: Fri, 21 Sep 2007 13:24:32 -0300
Prezado Renato e demais colegas,
A imagem que você passou de Feyerabend é a de um ignorante furioso anti
progresso. Feyerabend não é contra a estatística, ou muito menos a física.
Seus estudos sobre a evolução das teorias físicas são clássicos e não seriam
possíveis se ele não conhecesse em profundidade a metodologia científica. No
entanto ele critica tanto o racionalismo , o empirismo e o inducionismo,
como sendo o motor da evolução da ciência. Para ele os grandes momentos de
mudança de paradigma na ciência ocorreram apesar deles. Uma de suas maiores
preocupações é a dogmatização sutil e profunda que decorre do aparato
científico institucionalizado, que sufoca novas percepções. Ao contrapor a
astrologia, a feitiçaria e a acupuntura ao método científico, Feyerabend nos
obriga a rever todos os fundamentos e hábitos estabelecidos. Ao longo deste
permanente processo a verdade, as previsões, etc... serão os efeitos
colaterais e não o contrário, como pensamos fazer.
On Fri, 21 Sep 2007 11:21:45 -0300, Renato Vicente wrote
> Caros,
>
> Acho extremamente interessante a ligação entre Estatistica e
> Filosofia da Ciencia levantada já por vários membros desta lista. O
> período histórico de proposição dos procedimentos clássicos me
> parece relevante, visto que o final do século 19 e início do 20 é
> marcado pelo ápice do chamado positivismo lógico que é marcado pela
> rejeição da possibilidade de indução e, por consequencia, do
> enfoque bayesiano.
>
> No entanto, acho arriscado seguir a trilha de Feyerabend cujas
> conclusões vão muito mais longe do que a aceitação de metodologias
> complementares com pesos semelhantes. O mesmo Feyerabend afirma:
>
> "Equal weight should be given to competing avenues of knowledge such
> as astrology, acupuncture and withcraft"
>
> Ou seja, isso é a negação da possibilidade de utilizar evidências
> para decidir no que acreditar. Feyerabend é o inimigo número um da
> estatística, para ele, o que sabemos é apenas mais um fenômeno
> sociológico (e somente sociológico). Isso é deletério para todos
> nós físicos e estatísticos (ou fisico-estatisticos).
>
> Saudações
> Renato
>
> Citando Luis Paulo Vieira Braga <lpbraga@im.ufrj.br>:
>
> > A proliferação de teorias é benéfica para a ciência, ao passo que a
> > uniformidade prejudica seu poder crítico. A uniformidade também ameaça o
> > livre desenvolvimento do indivíduo.
> > Contra o método, P.Feyerabend,Ed. UNESP, 2007.
> >
> > A ciência não é nem uma tradição isolada nem a melhor tradição que há,
> > exceto para aqueles que se acostumaram com sua presença, seus benefícios
e
> > suas desvantagens. Em uma democracia, deveria ser separada do Estado,
> > exatamente como as igrejas ora estão dele separadas.
> > Idem.
> >
> >
> > Os métodos estatísticos constituem uma dentre as muitas alternativas
> > científicas para lidar com a incerteza. Métodos matemáticos, como Lógica
> > Fuzzy, ou computacionais, como Redes Neurais têm sido utilizados com
mais ou
> > menos êxito dependendo da classe de problemas.
> >
> > Como se sabe o paradigma bayesiano precedeu historicamente o paradigma
> > frequencista, Fisher não se opunha ao método de Bayes mas ao seu uso
> > inadequado ? prioris baseadas em opiniões e não em evidências
científicas ?
> > neste caso preferia a alternativa do teste de significância para
rejeitar
> > uma hipótese que estivesse em desacordo com os fatos observados. Neyman e
> > Pearson desenvolveram a metodologia do testes de hipóteses a partir das
> > idéias de Fisher. No entanto a utilização inadequada desta metodologia
> > alimentou as controvérsias entre as duas escolas. A mais antiga sendo
> > questionada pela uso de prioris subjetivas, e a mais nova pela
dissimulação
> > de opções subjetivas, como , por exemplo, a suposição de infinitos
ensaios
> > para um experimento. Um detalhado, porém, acessível relato deste debate
pode
> > ser encontrado no capítulo 7, do livro Scientific Method, de H.G. Gauch,
> > Cambridge Univ. Press, 2003.
> >
> > Parte da controvérsia pode ser explicada por um desentendimento dos
> > objetivos de cada método. Para os bayesianos a questão é determinar a
> > probabilidade de que uma hipótese seja verdadeira dadas observações e um
> > conhecimento a priori além do experimento conduzido. Já para os
> > frequencistas a questão é quão confiável é o resultado de uma inferência
> > em virtude da rejeição ou aceitação de uma hipótese nula ou alternativa,
> > respectivamente. A formulação de Neyman e Pearson estava em consonância
com
> > o principio da falseabilidade de Popper, formulado na mesma época, embora
> > não se tenha registo de que tenha havido contacto entre eles. Segundo
este
> > principio o conhecimento científico pode ser testado pela negação ao
invés
> > da comprovação. Se resiste às tentativas de negação, então isto é um
indício
> > favorável à sua veracidade.
> >
> > Ao contrário das opiniões restritivas aos debates recentes nesta lista,
cito
> > mais uma vez Feyerabend que vai além da teoria da falseabilidade de
Popper ?
> > Para lutar contra o dogmatismo, é imperativo promover teorias
inaceitáveis
> > para muitos, multiplicadas elas terão a função de descobrir fatos que
> > autorizem a aceitabilidade das teorias originais.
> >
> > Este é o verdadeiro espírito da ciência no século XXI e não o negócio
> > público ou privado em que foi transformado.
> >
> >
> >
> >
Prof. Luis Paulo
C.P. 2386
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