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adendo



Caros redistas:

Em adendo a ótima análise do Cribari, faço alguns comentários.  

Devo ser dos bolsistas mais velhos do CNPq.  Não só em idade, mas em tempo da
relação.  Virei pesquisador do CNPq, por pedido do Professor Chain, em 1981. 
Naquela época não éramos bolsistas, pois não tínhamos bolsa.  Eram somente
obrigações, relatórios de seis em seis meses.  Mas, logo implementaram a bolsa e
eu como pesquisador estava dentro do processo.  Desde aquela época não estive
fora do sistema, exceto pelo prazo de dois anos, quando visitei Berkeley. 
Quanto ao meu auto-julgamento, achei que poderia ter tido promoções mais
rápidas, mas, ao olhar os currículos dos colegas, pensei haver razões sim para
esperar um pouco.  

Hoje sou 1B e solicitei na última renovação uma promoção para 1A, a qual foi
rejeitada.  Mas, devo dizer que em todas as vezes que fiz estas solicitações,
incluindo esta última, recebi mensagens explicando o indeferimento do pedido. 
Pasmem, só não concordei com uma delas!  Mas esperei pelo tempo ?certo?.  Na
mensagem recente, a explicação foi a de que eu tinha me dedicado mais as
aplicações em outras áreas do que à minha própria, a inferência estatística. 
Isto é um fato que não posso negar.  

Evidentemente que ficamos chateados quando recebemos indeferimentos de nossos
pedidos.  Mas pensando com calma, como poderíamos avaliar a contribuição efetiva
de trabalho científico estatístico em publicações de outras áreas? Será que foi
apenas um mero exercício de curso básico, já usual na área de demanda?  Ou será
que foi um modelo de misturas criado para o trabalho do colega da outra área? 
Assim, redistas, eu compreendi que não é tarefa fácil, para um avaliador, saber
o que é, ou não é, contribuição científica efetiva.  Eu mesmo posso dizer que
algumas das mossas publicações são de verdade coisas simples e corriqueiras,
talvez até criativas, mas certamente não contribuições efetivas para o meu
campo, a estatística, ou mesmo para o campo de demanda.  Posso dizer, e acredito
nisso, que algumas das minhas contribuições aos colegas de outras áreas foram
sim de valor estatístico, criativas e novas.  Contudo, contando essas com as
puramente de estatística poderiam não produzir um caso de promoção.  Talvez no
passado, quem sabe eu me indignasse pensando ser merecedor.  

Acima fiz uma auto-avaliação de minha produção e o objetivo é dizer que os
colegas probabilistas e estatísticos que participaram dos comitês fizeram um bom
trabalho, pois não nos esqueceram.  Vi colegas probabilistas atrás de
estatísticos para completarem o currículo.  Vi colegas estatísticos correndo
atrás de probabilistas para incluir novos artigos em revisão.  Certamente nenhum
dos que lá estiveram imaginariam poder cometer injustiça.  Imagino eu o trabalho
que é fazer uma avaliação de colegas queridos e de outros não tão queridos.  O
pior é o fato de realizarem esse trabalho e quando deferem o pedido não recebem,
e nem devem, uma palavra amiga.  Mas certamente, no indeferimento alguns
inimigos podem ser conquistados.  Em nome do colega nosso que perdeu a bolsa no
momento alguém colocou a culpa no comitê, como não tendo estatístico.  Quantos
já perderam no passado nas mãos do comitê com estatístico.  Penso eu, por
admirar seus trabalhos, terem sido injustos alguns indeferimentos. Não acho
justo as críticas nesse momento, simplesmente por ser nosso representante
probabilista ou estatístico.  

Quando fui presidente da ABE, o meu pleito era conquistar mais uma vaga no
comitê.  A idéia era ter um probabilista e um estatístico.  Conversamos, a ABE e
a SBMAC, para um novo comitê conjunto ou o aumento dos membros do atual comitê.
 Não fomos muito concordantes em nossas conversas.  Os matemáticos aplicados
queriam na época quatro representantes.  As explicações eram referentes às áreas
que cobriam.  Pelo nosso lado queríamos que fôssemos representantes da
probabilidade e da estatística e eles achavam que deveriam ter quatro
representantes da matemática aplicada sem menção à área.   Logo em seguida, a
situação brasileira não estava muito a favor da ciência e ai encerramos nossas
conversas.  No entanto, me agradam os pleitos para conseguirmos mais um
representante.  Mas certamente, com as opiniões equivocadas de prováveis
conselheiros, estou no momento contra a criação do comitê de estatística.  

O pagamento por decidirmos produzir acadêmica e cientificamente é um afago ao
nosso EGO.  Decidimos, em certo momento, pertencermos, sermos ouvido, sermos
relevante.  Meu irmão irá dizer que sou ingrato, pois, tudo que temos foram
nossas universidades que nos proporcionaram.  Mesmo assim, depois de um tempo
fomos convidados a mudar de classe tendo um emprego de relevância social.  Não
aceitamos pelo ganho humano dentro da universidade.  Não há lucro superior ao
simples convívio universitário, seja com alunos, seja com colegas, seja com
dirigentes. Mas o nosso EGO também nos acompanhava.  Como é bom ver um artigo
publicado!  Imagine a minha satisfação ao receber uma mensagem de Pat Althan
comentando um de nossos artigos na GMR, uma revista brasileira.  Imaginem a
diretora de um centro de ecologia da GB me pedindo artigos que ela não tinha em
sua biblioteca.  AFAGO no EGO! Isso é o nosso pagamento.  (Vejam Tapa na Pantera
no YouTube.)

Claro que existem caras, provavelmente, muito mais capazes do que nós em nossos
inícios.  Alguns deles líderes de nossa comunidade.  Não vou dar nomes, pois
todos os conhecem e respeitam.  Essas pessoas decidiram por outros caminhos,
caminhos às vezes de muito sucesso.  O que quero dizer é que a ABE, onde todos
nos confraternizamos, não pode ser a parte nossa de decisão em ciência.  Pode, e
deve, ajudar a promover nossas discussões para então levarmos adiante nosso pleito.

Para finalizar, devo corrigir alguém que disse que apenas o Bussab se dispôs a
ser presidente da ABE.  O Professor Franciso Louzada Neto também se dispôs.

Saudações

Carlinhos

Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>