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Re: [ABE-L]: Pontos sobre os Nove Pontos do Renato



Caros,

Eu gostaria de ficar uns dias sem usar a rede da ABE para
não ficar muito cansativo com as minhas intervenções, mas
como o Francisco me fez algumas perguntas, sinto-me obrigado
a respondê-las e/ou comentar seus pontos na ordem em que apareceram.

i) O que eu disse "Um comitê inicial de Probabilidade e Estatística (CA-PE) cujos membros sejam referendados pelas Pós-Graduações em Estatística, pelos bolsistas de produtividade de pesquisa que atuam em Probabilidade e Estatística do CA-ME e de outros comitês, pelas suas associações científicas, etc., poderá facilmente julgar as pesquisas de seus pares",
se refere ao procedimento normal e natural, mutatis
mutandis dos outros CAs. Talvez a frase não esteja bem
colocada ou, então, o Francisco não entendeu direito.

Eu acho que sei que os membros dos CAs são escolhas do
Conselho Diretor (CD) do CNPq, mas o CNPq faz uma
consulta preliminar aos Cursos de Pós-Graduação, às
Associações Científicas e aos Pesquisadores para montar
um grupo maior de pesquisadores, e depois selecionar
entre esses, não é assim? Se mudou, sinto dizer que eu
estou realmente por fora, pois era assim que funcionava
no passado.

Já fui solicitado várias vezes para dar votos até em áreas da matemática. Claro que a decisão final é do CD. Eu não estou
propondo nada de novo (quem sou eu para fazê-lo?).
O processo é o mesmo.

ii) Sua afirmação: "As chances de um novo CA para Probabilidade e Estatística são muito remotas".

Eu seria menos pessimista e diria "são remotas". Continuamos
na fase de elucubrações. Nem sei se a maioria dos estatísticos
é favorável a isso. Também, muito menos, não sei a opinião
dos probabilistas. Como outros colegas, dei apenas minha
modesta opinião num debate que já dura bastante tempo na
rede sem convergência. Sugeri um CA-PE próprio com 4 membros, sendo dois da Probabilidade e dois da Estatística. No meu entender, esse CA-PE seria bom para as áreas de
Probabilidade e Estatística.

iii) Quando você diz que não há uma verdadeira união dos estatísticos para criar um CA próprio, acredito que pode
ser que você esteja realmente certo. Mas a união poderá acontecer quando o debate for intensificado.

iv) Sua afirmação: "Nessa discussão não estamos fazendo esforço para incluir os pesquisadores da área de Probabilidade. Acho importante que eles tenham voz no debate".

Concordo. O debate tem sido feito na rede da ABE e
acredito que vários probabilistas têm acesso a mesma.
Outros talvez não tenham interesse nesse debate.
Cada um tem o direito de se pronunciar ou de se omitir.
Mas o debate deve continuar em outros locais, como foi minha proposta de uma sessão especial no SINAPE. O que foi dito
por várias pessoas na rede, pode ser facilmente acessado e, assim, questionado, apoiado e refutado. Eu não vejo problema nisso.

Eu não posso solicitar que as pessoas se posicionem mais
na rede do que eu fiz. Não gosto de dá murro em ponta de
faca.

v) Sua afirmação: "Se houver de fato uma mesa redonda
no próximo SINAPE sobre o tema, acho essencial que ela
conte com a presença de um probabilista, de preferência
um pesquisador 1A ou 1B da área (A. Galves, Pablo Ferrari, Claudio Landim, Maria Eulália, Luiz Renato Fontes e Chang Dorea são excelentes nomes)".

Concordo. Todos os nomes que você citou são grandes pesquisadores e líderes na área de probabilidade. Acho
que deve haver na mesa redonda perfeitamente simétrica:
número de probabilistas=número de estatísticos, da mesma
forma que ponderei num possível CA-PE.


vi) Sua afirmação: "Temo que as expectativas estejam se aproximando do irrealismo"

Oxalá você não tenha razão. Se não der para criar um
CA-PE a curto prazo, paciência, foi uma simples tentativa. Talvez meus bisnetos acadêmicos tenham mais energia do
que eu, pois já estou ficando meio velho para isso.

Uma boa noite para você e para todos,

Gauss Cordeiro





> Caro Gauss,
>
> Obrigado pelas colocações. Elas ajudam no debate.
>
> > R. Um comitê inicial de Probabilidade e Estatística (CA-PE) cujos membros sejam referendados pelas Pós-Graduações em Estatística, pelos bolsistas de produtividade
> > de pesquisa que atuam em Probabilidade e Estatística
> > do CA-ME e de outros comitês, pelas suas associações científicas, etc., poderá facilmente julgar as pesquisas
> > de seus pares.
>
> Você quer dizer que o CNPq deixará que os membros do novo CA de
> Probabilidade e Estatística sejam referendados pelas pós-graduações? Por
> associações científicas? Você acha isso viável? Creio que isso não
> ocorre em nenhum CA do CNPq. Por que você acha que aconteceria no CA de
> Probabilidade e Estatística?
>
> Minhas opiniões:
>
> 1) As chances de um novo CA para Probabilidade e Estatística são muito
> remotas. Para tanto, precisaríamos de muita união da parte dos atuais
> bolsistas de produtividade em pesquisa da área e pelo menos um par de
> anos de batalha. Não vejo essa união. É uma pena que a ABE não tenha
> contribuído com o debate colocando na rede o resultado de uma pesquisa
> que fez sobre o assunto há alguns anos. Isso mostraria um quadro
> desanimador para quem quer um CA para a área. Pode ser que algumas
> opiniões tenham mudado, mas é infactível imaginar que tenham mudado tão
> massiva e dramaticamente.
>
> 2) Nessa discussão não estamos fazendo esforço para incluir os
> pesquisadores da área de Probabilidade. Acho importante que eles tenham
> voz no debate. Creio que eles não desejarão deixar o CA-MA, pois
> sentem-se mais confortáveis sendo julgados num ambiente onde os
> critérios já são por demais conhecidos e são meritórios. Acho que a
> possibilidade de haver um movimento conjunto das duas áreas se torna
> mais remota na medida em que não nos esforçamos para incluí-los no
> debate. E acho que fica muito difícil a criação de CA só para a
> Estatística, sem a Probabilidade. Se houver de fato uma mesa redonda no
> próximo SINAPE sobre o tema, acho essencial que ela conte com a presença
> de um probabilista, de preferência um pesquisador 1A ou 1B da área (A.
> Galves, Pablo Ferrari, Claudio Landim, Maria Eulália, Luiz Renato Fontes
> e Chang Dorea são excelentes nomes).
>
> 3) Se um dia tivermos o nosso CA no CNPq, ele funcionará como todos os
> outros: a escolha de seus membros caberá ao CD, o resultado da consulta
> aos pesquisadores nível 1A será olhado mas não haverá compromisso algum
> de seguir tal resultado (que sequer é divulgado), os julgamentos deverão
> seguir critérios bem definidos, etc. Em suma, a maior mudança será a de
> escala.
>
> Temo que as expectativas estejam se aproximando do irrealismo.
>
> Um abraço para você.
>
> FC
>
>
> > O trabalho que já foi feito pelo CA da
> > Matemática deve ser recuperado e, aos poucos, os novos
> > membros do comitê irão ajustando as coisas. Eu não vejo
> > problema nisso. Claro (que como bem enfatizou o Renato),
> > o critério de avaliação dos pesquisadores deverá passar
> > pelas suas publicações em periódicos teóricos e/ou aplicados.
> >
> > Nos anos 70 não havia quase pós-gradução em estatística no 
> > País e a Pesquisa Operacional reinava e atraía os
> > matemáticos e estatísticos.  Nos dias de hoje, a situação
> > é completamente outra, temos um grande espaço de destaque nacional bem delimitado pelas pós-graduações, eventos e associações científicas, inúmeros periódicos no exterior e
> > no País, etc.
> >
> > 3. A pesquisa estatística deve estar representada em papers publicados em revistas de pesquisa estatística. Se um pesquisador publica essencialmente em revistas de
> > saúde publica ou de computação (digamos), ele deveria buscar
> > sua bolsa nos comitês dessas áreas, não no comitê de Estatística.
> >
> > R. Concordo. Entretanto, tem gente que publica nessas
> > revistas mas, também, em excelentes periódicos de
> > Estatística Aplicada. Conheço vários que certamente
> > preferirão ficar nos seus própios comitês, pois atuam lá
> > e acham muito pesado os requisitos adotados na avaliação
> > do CA-ME. Eles deveriam ser convocados e reconhecidos no possível CA-PE.
> >
> > Acredito que se um novo CA-PE for englobar apenas os
> > atuais pesquisadares do CA-ME não será aprovado no CNPq. Precisamos regimentar para nosso lado os pesquisadores de Estatística que atuam em outros comitês. Não sei como fazer
> > isso agora mas podemos pensar. Infelizmente, alguns desses
> > bons pesquisadores, não participam de eventos da ABE.
> >
> > 4. A pesquisa aplicada frutífera é aquela que gera papers
> > em revistas de estatística. Eu acho que as revistas de estatística dão preferência a temas antigos, pouco relevantes
> > e demoram muito a catch up com as áreas científicas mais dinâmicas. Mas isto é um problema internacional de nossa área.
> >
> > R. Concordo integralmente.
> >
> > 5. Papers publicados em outras áreas devem ter **algum** peso mas não podem ter o mesmo peso dos papers publicados em revistas fundamentalmente de estatística. Quem trabalha em interface, quem publica em revistas de outras áreas, vai ter de trabalhar dobrado.  Falo isto com tranquilidade, pois publico bastante em revistas de outras áreas e acho isto importante para mim, para meus alunos, para meu trabalho de estatistico, etc. Como dar este peso?. Mas não posso concordar se um pesquisador que tenha 10 artigos em revistas de excelente qualidade de saúde publica (ou computação  ou engenharia) tenha uma bolsa de PQ no comitê de estatística enquanto outro pesquisador com 4 artigos em revistas de estatística, talvez nem tão prestigiosas
> > quanto as outras, não a tenha .
> >
> > R. Concordo com você.  Publicar em outras áreas é muito importante para a Estatística e esse, também, é o nosso papel.  O CA-PE terá que enfrentar esse desafio. O atual CA-ME não
> > tem este problema, pois quem está publicando muito em áreas aplicadas submetem seus projetos de pesquisa em outros comitês. Mas um novo CA-PE deverá ter mais bolsas de produtividade e
> > mais recursos no longo prazo e, assim, este problema deverá ser minimizado no tempo.
> >
> > 6. Existem MUITAS instancias que valorizam o trabalho aplicado do estatístico e esses pequisadores aplicados recebem benefícios dessas instancias. Por exemplo, pesquisadores
> > interdisciplinares tem mais acesso a recursos financeiros,
> > a participação em projetos de outras áreas, a consultoria
> > bem pagas, etc.
> >
> > R. O CA-PE deve centralizar pesquisadores que estejam publicando em periódicos científicos (teóricos e aplicados) dessas
> > duas áreas. Aqueles pesquisadores que fazem rotineiramente consultoria têm outros mecanismos próprios e geralmente dispensam R$ 1000/mês da bolsa.
> >
> > 7. Revistas de Estatística são muito restritas? Eu acho que não, existem muitas, talvez demais. Muitas EXIGEM que o trabalho tenha uma aplicação associada, algumas exigem até mesmo o conjunto de dados usado na analise, bem como o código da
> > analise.
> >
> > R. Concordo integralmente e acrescento: "publicar é um
> > processo chato, árduo e difícil" e todos nós conheçemos pesquisadores excelentes que não querem publicar, pois
> > isso dá um tremendo trabalho.
> >
> > 8. A questão é como avaliar o trabalho de um pesquisador em  estatística. Não vejo outra maneira a não ser avaliando os papers publicados em revistas de estatística. Outros  papers entram como parte acessória, mas não como o foco principal.
> >
> > R. Concordo.
> >
> > 9. DEPOIS de chegarmos a uma opinião partilhada por uma maioria sobre estes pontos de como avaliar a pesquisa estatística, poderemos então fazer um trabalho de estatístico: verificar se existe evidencia de que temos um numero grande de pesquisadores injustamente fora do sistema, ou em outros comites. Se temos, haverá capacidade política de obter seus apoios?
> >
> > R. Esse dever de casa terá que ser feito. Devemos estudar e tentar verificar as possibilidades. Tem muita gente boa que só faz pesquisa em Estatística e atuam em outras associações científicas, fora das tradicionais ABE e RBRAS.
> >
> > Finalmente, eu gostaria de dizer que vários cursos de excelente nível da Matemática estão tendo muito pouca demanda e isso pesará nas futuras avaliações, sobretudo, na CAPES. Claro
> > que o IMPA é uma exceção, pois sempre atrairá alunos estrangeiros face à sua reputação internacional.
> >
> > A demanda da Estatística tem derivada positiva e se criarmos
> > um CA-PE agora, isso trará efeitos multiplicadores para
> > as futuras gerações. Não estou pensando nos pesquisadores atuais, mas naqueles estatíticos das futuras gerações.
> >
> > Cordiais Saudações,
> > Gauss
> >
> >
> --
> Francisco Cribari-Neto               voice: +55-81-21267425
> Departamento de Estatistica          fax:   +55-81-21268422
> Universidade Federal de Pernambuco   e-mail: cribari@de.ufpe.br
> Recife/PE, 50740-540, Brazil         http://www.de.ufpe.br/~cribari
>
> "Dear friend, theory is all grey and the golden tree of life is green."
>                                                         --Goethe
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