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Re: [ABE-L]: Quem somos nós?



Aproveitando o e-mail do prof. Julio:

Primeiramente, parabéns ao professor Julio pelo novo cargo.

Em relação ao prof. Carlinhos:

> (...) Eu por mim posso dizer que sou
> um professor ruim em certas ocasiões, mas em outras tenho certeza que sou
> excelente. Como sei isso? É porque fico feliz com certas das minhas aulas e
> muito infeliz com outras. No semestre passado teve um dia que pedi desculpas a
> minha turma pela aula anterior. (...)

Eu estava era aluno dessa disciplina ministrada pelo professor Carlinhos e achei o pedido de desculpas bastante curioso pois a aula que o prof. Carlinhos classificou como ruim é melhor que muitos dos professores que tive a oportunidade de conhecer... Ele certamente é um dos grandes nomes da estatística brasileira e sua contribuição para o desenvolvimento da estatística no Brasil (tanto em pesquisa quanto em atividades didáticas), torna sua classificação no CNPq (1B) um absurdo (em minha opinião, absurdo muito maior que o da atual discussão da lista)...

Abraços,
Victor



Em 2 de fevereiro de 2010 10:33, Julio Stern <jmstern@hotmail.com> escreveu:
 
Caro Carlinhos,
e demais redistas:
 
>Já na pesquisa não avalio minha participação como excelente.
>Uso minhas atividades de extensão para construir minha carreira de pesquisador:
>tenho produzido na área exclusiva da estatística menos, talvez, do que desejável.
>Certa vez, solicitei reclassificação ao CNPq, sou A2 faz algum tempo.
>A resposta que me foi dada foi muito interessante, pois a conclusão foi a de
>que, embora tenha produzido cientificamente de forma considerável, minha maior
>produção estava fora da estatística. Essa é mesmo a minha auto-avaliação,
>nada tive a contestar – acabo de ter minha bolsa renovada em nível A2. 

Voce talvez nada conteste, mas seu grupo de pesquisa contesta sim!
Quanto a "usar'' a resolucao de problemas "reais" para alavancar
a producao em estatistica, voce esta em muito boa conpanhia,
de Laplace a de Finetti, passando pelo semi-Bayesiano Fisher,
todo estatistico importante envolveu-se na solucao de problemas reais.
Digo mais:
Toda a Estatistica Relevante esta ligada a solucao de problemas reais!
 
Lembro-me que uma vez escrevemos um artiguinho introduzindo o
modelo beta-Poisson (em vez do modelo padrao gamma-Poisson).
Como a priori nao eh conjugada, dava um pouco mais de trabalho,
mas no contexto dos diversos modelos envolvidos fazia todo o
sentido do mundo, vide  
http://www.ime.usp.br/~jstern/papers/papersJS/jsserra1.pdf
 
Pois bem. O modelo era novo (o quanto a gente saiba).
Se tivessemos usado "dados simulados", certamente poderiamos
ter publicado o artigo em alguma revisa "de Estatistica".
Mas os dados eram "reais"...
(Voce mesmo ja havia dado uma solucao "clasica" para este
estudo. Isto sim, justifica a punicao de deixa-lo como 1B :-)
Assim, havia a possibilidade de publica-lo na SERRA
(Stochastic Environmental Research and Risk Assessment)
onde ele seria lido por muito mais gente.
 
Lembro-me que discutimos oq fazer:
Cientificamente, era melhor publica-lo no SERRA.
Para a "carreira" era melhor publica-lo em uma
revista "de estatistica", pois ai o artigo seria contabilizado,
ou contabilizado por inteiro, ou sem levar demerito por estar
em area correlata, ou qq coisa do genero.
 
Nao vou agora, de improviso, tentar fazer uma longa digrecao
sobre politica cientifica, mas digo isto:
A sistematica corrente do CNPq induz uma politica de
mini-feudos, cada qual competindo com o mini-feudo do lado,
induzindo ao isolamento, ao invez de cooperacao.
Pode ate ficar mais facil na hora de estabelecer metricas
numericas e justificar decisoes politicas...
Facilita a vida dos burocratas,
sacrificando a ciencia, principalmente quando
esta tem carater general e interdisciplinar
(A proposito, generalidade e inter-disciplinaridade
sao caracteristicas BOAS, Positivas, acreditem!!!)  
 
 
Saudacoes academicas,
---Julio (Stern)
 
 
 
  
 
 
 
 
> Date: Tue, 2 Feb 2010 09:23:19 -0200
> From: cpereira@ime.usp.br
> To: abe-l@ime.usp.br
> Subject: [ABE-L]: Quem somos nós?
>
> Caros redistas:
>
> Creio que nossas discussões, tirando algum mal entendido, estão sendo úteis para
> todos ou mesmo alguns, se eu não estiver enganado. Ao colocar as nossas idéias
> no “papel” estamos mostrando quem realmente somos e como agimos na nossa vida
> universitária. Dessa forma, vejo que precisamos ter coragem para escrever para
> um grupo seleto como o nosso. Parabéns a nós mesmos!
> Tenho aprendido muito com os argumentos do Luis, pois ao não concordar com
> alguns (apenas alguns) pontos, estes me obrigam a refletir sobre a razão dessa
> discordância e a lógica atrás de nossos raciocínios. No entanto estou vendo que
> estamos chegando a um ponto onde não estamos caminhando para frente. Precisamos
> dar uma pausa na divulgação de nossas “teorias” e pararmos um pouco para
> pensarmos na nossa “prática”.
>
> Quero primeiramente chamar a atenção para a característica de professores
> universitários como nós. Somos mesmo um pouco pedantes e às vezes prepotentes.
> Vou dar um exemplo do que quero dizer. Certo amigo, brilhante matemático,
> acostumado a reclamar da nossa situação como professores universitários, não
> cansava de dar exemplos sobre a vida fora da universidade. Certa ocasião,
> falando de um indivíduo, ícone de nossa sociedade na área de marketing, tentou
> me mostrar a escolha ruim que fizemos na vida como professores universitários.
> Falou então de quão rico o cara era e, logicamente, comparou seus ganhos com o
> daquele ex-colega. Contou-me então como o cara colava nele pedindo ajuda em
> matemática, física e química. No entanto ele, o marketeiro, vivia como um
> nababo enquanto nosso amigo sofria as agruras da vida universitária. Minha
> pergunta foi simples: Mas todos os alunos, seus colegas, foram desse porte?
> Todos tiveram sucesso? Respondeu-me então: claro que não, pois aquele seria o
> único de sua ex-turma com esse tipo de sucesso na vida. Minha derradeira
> pergunta foi: Porque você só se compara com este indivíduo e não com os outros?
> Se você não tivesse vindo para a universidade seria mesmo do nível deste ou dos
> outros? Qual a probabilidade de você estar perto do sucesso e claro do
> fracasso? Terminamos o papo ali naquele ponto.
>
> Muitos de nós dizemos estar ocupados com tarefas cotidianas da nossa
> universidade. Caso contrário, artigos, dormindo na gaveta, já estariam
> submetidos e logicamente publicados. Meu amigo e Guru Professor Frota Pessoa
> diria que este é o claro argumento da incompetência. Se realmente os artigos
> fossem submetidos, seriam mesmo publicados? A tarefa de escrever é mesmo dura e
> difícil! A satisfação de ver um artigo escrito, no entanto, é enorme. Ontem,
> por exemplo, trabalhei a tarde toda em um artigo de uma colega da fisioterapia.
> Uma coisa muito simples, mas ao final foi uma grande satisfação ver o artigo
> terminado com nossas idéias no papel. Para aumentar a satisfação com nosso
> produto, recebi o telefonema de uma colega do Butantã dizendo que mais um artigo
> de nosso grupo tinha sido aceito em Mutation Research (revista Qualis A em todas
> as áreas da CAPES, exceto lógico,...).
>
> Eis o que eu queria dizer: Chegamos num ponto onde precisamos parar para
> reflexão e dizer claramente o que somos, para que viemos e o quanto fazemos. No
> momento que há a generalização – todo pesquisador nível A é um professor ruim –
> é sinal de ressentimento e talvez amargura. Sabemos todos que há bons e mal
> professores, sendo estes pesquisadores ou não. Eu por mim posso dizer que sou
> um professor ruim em certas ocasiões, mas em outras tenho certeza que sou
> excelente. Como sei isso? É porque fico feliz com certas das minhas aulas e
> muito infeliz com outras. No semestre passado teve um dia que pedi desculpas a
> minha turma pela aula anterior. Penso muito no que faço e no que posso causar a
> outras pessoas, sendo elas amigos, adversários e principalmente alunos. Só sei
> que classifico uma boa aula quando gosto e uma ruim quando não gosto.
> Certamente não saberia aqui definir para um jovem como seria dar uma boa aula.
> Tenho alguns colegas que quando dão aula produzem um quadro-negro maravilhoso;
> digno de uma foto. Há outros professores cujo quadro-negro é um caos.
> Entretanto, teríamos alunos que iriam preferir o primeiro tipo de aula e outros
> que detestariam o primeiro com preferência para o segundo tipo.
> Pelo exposto acima, gostaria de desafiar o colega LPVB: É um bom professor? Como
> você definiria um bom professor? Qualitativamente, como você se classificaria?
> Dentre as atividades para as quais fomos contratados – ensino, pesquisa,
> administração e extensão – qual a que o colega exerce melhor? E qual a pior? O
> colega poderia ordenar essas atividades pela preferência e pela qualidade?
>
> Do meu lado eu poderia dizer que participo de todas as atividades de minha
> universidade. Atualmente sou chefe de departamento e já fui diretor do IME.
> Creio que me consideraria um sofrível chefe ou diretor. Quanto à extensão, das
> minhas atividades, é a que considero de maior qualidade. Embora tenha sido
> paraninfo por duas vezes, penso ser ensino uma atividade que pratico de forma
> sofrível: Nunca consegui escrever um texto adequado para meus alunos. Como
> orientador de teses e dissertações tenho cumprido meu papel com número razoável
> de alunos. Já na pesquisa não avalio minha participação como excelente. Uso
> minhas atividades de extensão para construir minha carreira de pesquisador:
> tenho produzido na área exclusiva da estatística menos, talvez, do que
> desejável. Mas essa é mesmo minha escolha, pois é assim que trabalho com
> alegria. Certa vez, solicitei reclassificação ao CNPq, sou A2 faz algum tempo.
> A resposta que me foi dada foi muito interessante, pois a conclusão foi a de
> que, embora tenha produzido cientificamente de forma considerável, minha maior
> produção estava fora da estatística. Essa é mesmo a minha auto-avaliação, nada
> tive a contestar – acabo de ter minha bolsa renovada em nível A2.
>
> Como disse anteriormente, somos mesmo prepotentes, pois como pode ser notado,
> nunca me avaliei de forma totalmente negativa. Assim caro colega, seria de
> extrema utilidade, já que foram produzidas críticas contundentes, apresentar o
> que você consideraria como uma participação universitária de valor e como você
> se classificaria dessa forma.
>
> Na verdade o que quero saber é como seria a real valorização do ensino. Claro,
> também gostaríamos de ter a forma de se valorizar as outras atividades:
> extensão, administração e pesquisa.
>
> Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>


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