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Re: [ABE-L]: Quem somos nós?




Caro Victor,

Pegando uma carona no seu ponto, eu também, acho injusto o
Carlinhos e outros colegas (não citarei os nomes, pois são
vários e poderei esquecer alguém) serem 1B. Aliás, eu desconheço
a diferença entre 1A e 1B e mesmo se existe alguma diferença.

Parece que existe um problema burocratico de percentuais fixados
por faixa pelo CNPq e a entrada de pesquisadores 1B para 1A depende
(de alguma forma) da mortalidade (não necessáriamente física)
do sistema dos últimos.

O que eu gostaria de dizer é que a bolsa de produtividade deveria
valer pelo menos 5 vezes o valor atual. Esse é meu ponto principal
e persistirei nesta tecla para todo o sempre. Eu encaminhei há
cerca de seis meses uma carta à Presidência do CNPq sugerindo um
estudo desse ponto mas não obtive resposta.

Um bom médico de uma grande capital do País ganha por consulta
(média de R$ 400,00/consulta) num dia - com um número esperado
de 10 consultas/dia -, quatro vezes o que um pesquisador científico
recebe num mês de bolsa. Em tempo: esses médicos têm salários
de professores pelo menos 40hs. Nada contra eles.

Cordiais Saudações,

Gauss




Quoting Victor Fossaluza <victor.ime@gmail.com>:

Aproveitando o e-mail do prof. Julio:

Primeiramente, parabéns ao professor Julio pelo novo cargo.

Em relação ao prof. Carlinhos:

(...) Eu por mim posso dizer que sou
um professor ruim em certas ocasiões, mas em outras tenho certeza que sou
excelente. Como sei isso? É porque fico feliz com certas das minhas aulas
e
muito infeliz com outras. No semestre passado teve um dia que pedi
desculpas a
minha turma pela aula anterior. (...)

Eu estava era aluno dessa disciplina ministrada pelo professor Carlinhos e
achei o pedido de desculpas bastante curioso pois a aula que o prof.
Carlinhos classificou como ruim é melhor que muitos dos professores que tive
a oportunidade de conhecer... Ele certamente é um dos grandes nomes da
estatística brasileira e sua contribuição para o desenvolvimento da
estatística no Brasil (tanto em pesquisa quanto em atividades didáticas),
torna sua classificação no CNPq (1B) um absurdo (em minha opinião, absurdo
muito maior que o da atual discussão da lista)...

Abraços,
Victor



Em 2 de fevereiro de 2010 10:33, Julio Stern <jmstern@hotmail.com> escreveu:


Caro Carlinhos,
e demais redistas:

>Já na pesquisa não avalio minha participação como excelente.
>Uso minhas atividades de extensão para construir minha carreira de
pesquisador:
>tenho produzido na área exclusiva da estatística menos, talvez, do que
desejável.
>Certa vez, solicitei reclassificação ao CNPq, sou A2 faz algum tempo.
>A resposta que me foi dada foi muito interessante, pois a conclusão foi a
de
>que, embora tenha produzido cientificamente de forma considerável, minha
maior
>produção estava fora da estatística. Essa é mesmo a minha auto-avaliação,
>nada tive a contestar - acabo de ter minha bolsa renovada em nível A2.

Voce talvez nada conteste, mas seu grupo de pesquisa contesta sim!
Quanto a "usar'' a resolucao de problemas "reais" para alavancar
a producao em estatistica, voce esta em muito boa conpanhia,
de Laplace a de Finetti, passando pelo semi-Bayesiano Fisher,
todo estatistico importante envolveu-se na solucao de problemas reais.
Digo mais:
Toda a Estatistica Relevante esta ligada a solucao de problemas reais!

Lembro-me que uma vez escrevemos um artiguinho introduzindo o
modelo beta-Poisson (em vez do modelo padrao gamma-Poisson).
Como a priori nao eh conjugada, dava um pouco mais de trabalho,
mas no contexto dos diversos modelos envolvidos fazia todo o
sentido do mundo, vide
http://www.ime.usp.br/~jstern/papers/papersJS/jsserra1.pdf

Pois bem. O modelo era novo (o quanto a gente saiba).
Se tivessemos usado "dados simulados", certamente poderiamos
ter publicado o artigo em alguma revisa "de Estatistica".
Mas os dados eram "reais"...
(Voce mesmo ja havia dado uma solucao "clasica" para este
estudo. Isto sim, justifica a punicao de deixa-lo como 1B :-)
Assim, havia a possibilidade de publica-lo na SERRA
(Stochastic Environmental Research and Risk Assessment)
onde ele seria lido por muito mais gente.

Lembro-me que discutimos oq fazer:
Cientificamente, era melhor publica-lo no SERRA.
Para a "carreira" era melhor publica-lo em uma
revista "de estatistica", pois ai o artigo seria contabilizado,
ou contabilizado por inteiro, ou sem levar demerito por estar
em area correlata, ou qq coisa do genero.

Nao vou agora, de improviso, tentar fazer uma longa digrecao
sobre politica cientifica, mas digo isto:
A sistematica corrente do CNPq induz uma politica de
mini-feudos, cada qual competindo com o mini-feudo do lado,
induzindo ao isolamento, ao invez de cooperacao.
Pode ate ficar mais facil na hora de estabelecer metricas
numericas e justificar decisoes politicas...
Facilita a vida dos burocratas,
sacrificando a ciencia, principalmente quando
esta tem carater general e interdisciplinar
(A proposito, generalidade e inter-disciplinaridade
sao caracteristicas BOAS, Positivas, acreditem!!!)


Saudacoes academicas,
---Julio (Stern)








> Date: Tue, 2 Feb 2010 09:23:19 -0200
> From: cpereira@ime.usp.br
> To: abe-l@ime.usp.br
> Subject: [ABE-L]: Quem somos nós?
>
> Caros redistas:
>
> Creio que nossas discussões, tirando algum mal entendido, estão sendo
úteis para
> todos ou mesmo alguns, se eu não estiver enganado. Ao colocar as nossas
idéias
> no "papel" estamos mostrando quem realmente somos e como agimos na nossa
vida
> universitária. Dessa forma, vejo que precisamos ter coragem para escrever
para
> um grupo seleto como o nosso. Parabéns a nós mesmos!
> Tenho aprendido muito com os argumentos do Luis, pois ao não concordar
com
> alguns (apenas alguns) pontos, estes me obrigam a refletir sobre a razão
dessa
> discordância e a lógica atrás de nossos raciocínios. No entanto estou
vendo que
> estamos chegando a um ponto onde não estamos caminhando para frente.
Precisamos
> dar uma pausa na divulgação de nossas "teorias" e pararmos um pouco para
> pensarmos na nossa "prática".
>
> Quero primeiramente chamar a atenção para a característica de professores
> universitários como nós. Somos mesmo um pouco pedantes e às vezes
prepotentes.
> Vou dar um exemplo do que quero dizer. Certo amigo, brilhante matemático,
> acostumado a reclamar da nossa situação como professores universitários,
não
> cansava de dar exemplos sobre a vida fora da universidade. Certa ocasião,
> falando de um indivíduo, ícone de nossa sociedade na área de marketing,
tentou
> me mostrar a escolha ruim que fizemos na vida como professores
universitários.
> Falou então de quão rico o cara era e, logicamente, comparou seus ganhos
com o
> daquele ex-colega. Contou-me então como o cara colava nele pedindo ajuda
em
> matemática, física e química. No entanto ele, o marketeiro, vivia como um
> nababo enquanto nosso amigo sofria as agruras da vida universitária.
Minha
> pergunta foi simples: Mas todos os alunos, seus colegas, foram desse
porte?
> Todos tiveram sucesso? Respondeu-me então: claro que não, pois aquele
seria o
> único de sua ex-turma com esse tipo de sucesso na vida. Minha derradeira
> pergunta foi: Porque você só se compara com este indivíduo e não com os
outros?
> Se você não tivesse vindo para a universidade seria mesmo do nível deste
ou dos
> outros? Qual a probabilidade de você estar perto do sucesso e claro do
> fracasso? Terminamos o papo ali naquele ponto.
>
> Muitos de nós dizemos estar ocupados com tarefas cotidianas da nossa
> universidade. Caso contrário, artigos, dormindo na gaveta, já estariam
> submetidos e logicamente publicados. Meu amigo e Guru Professor Frota
Pessoa
> diria que este é o claro argumento da incompetência. Se realmente os
artigos
> fossem submetidos, seriam mesmo publicados? A tarefa de escrever é mesmo
dura e
> difícil! A satisfação de ver um artigo escrito, no entanto, é enorme.
Ontem,
> por exemplo, trabalhei a tarde toda em um artigo de uma colega da
fisioterapia.
> Uma coisa muito simples, mas ao final foi uma grande satisfação ver o
artigo
> terminado com nossas idéias no papel. Para aumentar a satisfação com
nosso
> produto, recebi o telefonema de uma colega do Butantã dizendo que mais um
artigo
> de nosso grupo tinha sido aceito em Mutation Research (revista Qualis A
em todas
> as áreas da CAPES, exceto lógico,...).
>
> Eis o que eu queria dizer: Chegamos num ponto onde precisamos parar para
> reflexão e dizer claramente o que somos, para que viemos e o quanto
fazemos. No
> momento que há a generalização - todo pesquisador nível A é um professor
ruim -
> é sinal de ressentimento e talvez amargura. Sabemos todos que há bons e
mal
> professores, sendo estes pesquisadores ou não. Eu por mim posso dizer que
sou
> um professor ruim em certas ocasiões, mas em outras tenho certeza que sou
> excelente. Como sei isso? É porque fico feliz com certas das minhas aulas
e
> muito infeliz com outras. No semestre passado teve um dia que pedi
desculpas a
> minha turma pela aula anterior. Penso muito no que faço e no que posso
causar a
> outras pessoas, sendo elas amigos, adversários e principalmente alunos.
Só sei
> que classifico uma boa aula quando gosto e uma ruim quando não gosto.
> Certamente não saberia aqui definir para um jovem como seria dar uma boa
aula.
> Tenho alguns colegas que quando dão aula produzem um quadro-negro
maravilhoso;
> digno de uma foto. Há outros professores cujo quadro-negro é um caos.
> Entretanto, teríamos alunos que iriam preferir o primeiro tipo de aula e
outros
> que detestariam o primeiro com preferência para o segundo tipo.
> Pelo exposto acima, gostaria de desafiar o colega LPVB: É um bom
professor? Como
> você definiria um bom professor? Qualitativamente, como você se
classificaria?
> Dentre as atividades para as quais fomos contratados - ensino, pesquisa,
> administração e extensão - qual a que o colega exerce melhor? E qual a
pior? O
> colega poderia ordenar essas atividades pela preferência e pela
qualidade?
>
> Do meu lado eu poderia dizer que participo de todas as atividades de
minha
> universidade. Atualmente sou chefe de departamento e já fui diretor do
IME.
> Creio que me consideraria um sofrível chefe ou diretor. Quanto à
extensão, das
> minhas atividades, é a que considero de maior qualidade. Embora tenha
sido
> paraninfo por duas vezes, penso ser ensino uma atividade que pratico de
forma
> sofrível: Nunca consegui escrever um texto adequado para meus alunos.
Como
> orientador de teses e dissertações tenho cumprido meu papel com número
razoável
> de alunos. Já na pesquisa não avalio minha participação como excelente.
Uso
> minhas atividades de extensão para construir minha carreira de
pesquisador:
> tenho produzido na área exclusiva da estatística menos, talvez, do que
> desejável. Mas essa é mesmo minha escolha, pois é assim que trabalho com
> alegria. Certa vez, solicitei reclassificação ao CNPq, sou A2 faz algum
tempo.
> A resposta que me foi dada foi muito interessante, pois a conclusão foi a
de
> que, embora tenha produzido cientificamente de forma considerável, minha
maior
> produção estava fora da estatística. Essa é mesmo a minha auto-avaliação,
nada
> tive a contestar - acabo de ter minha bolsa renovada em nível A2.
>
> Como disse anteriormente, somos mesmo prepotentes, pois como pode ser
notado,
> nunca me avaliei de forma totalmente negativa. Assim caro colega, seria
de
> extrema utilidade, já que foram produzidas críticas contundentes,
apresentar o
> que você consideraria como uma participação universitária de valor e como
você
> se classificaria dessa forma.
>
> Na verdade o que quero saber é como seria a real valorização do ensino.
Claro,
> também gostaríamos de ter a forma de se valorizar as outras atividades:
> extensão, administração e pesquisa.
>
> Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>

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