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Re: Res: RES: [ABE-L]: fé e religião



Caro Gauss, 

É certo que a conversão de Pascal causou mudanças profundas em sua vida, mas não que abandonou a ciência por conta de milagres, visões ou saúde fragilizada (o que teve praticamente a vida inteira). 
Há registros de que em 1654 ele teve uma experiência mística e em março de 1656 presenciou um milagre de um espinho da coroa de cristo (acredite quem puder) que curou o olho de uma criança numa espécie de convento em Paris chamado Port-Royal.
No entanto, em 1658 ele envia uma carta a um abade discutindo alguns problemas como a espiral em torno de um cone e no mesmo ano envia uma carta dirigida a outros geômetras em que propôe 6 problemas matemáticos. Além disso, ele escreveu alguns livros didáticos de matemática para as crianças que estudavam em Port Royal. Portanto não é verdade que ele abandonou a ciência por conta de uma visão ou da saúde.

Essas informações podem ser consultadas em um livro muito interessante chamado Blaise Pascal ou o gênio francês do autor Jacques Attali da editora EDUSC.

Abraços, 
Tiago Mendonça


2010/4/15 gausscordeiro <gausscordeiro@uol.com.br>

Caros Redistas,

 

Para complementar o email do Roger, conta-se que Pascal abandonou a ciencia

e se dedicou a teologia, por conta de uma visao divina e da saude fragilizada.

Maiores detalhes em

http://en.wikipedia.org/wiki/Blaise_Pascal

 

Cordiais Saudacoes,

 

Gauss

 

 

"O maior antro de corrupção no Brasil é o Senado Federal" (G. M. Cordeiro).


 



Em 15/04/2010 18:28, Roger William Câmara Silva < rogerwcs@yahoo.com.br > escreveu:
Concordo com você Keila.
Eu, como todos aqui, tenho muitas ocupações durante o dia (Último ano de doutorado), mas é impressionante como este tema é polêmico e nos chama atenção. Acabamos tirando um tempinho para ler as mensagens a aproveitar para dar um pitaco. À propósito sou cristão protestante e frequento assiduamente uma das igrejas que formam a Igreja Presbiteriana do Brasil. Não vou apresenta-la agora por que já o fiz anteriormente.
Por mais ridículo que eu possa paracer agora, vou me arriscar a dizer o seguinte: Por mais convincentes (não estou dizendo que o são) que possam parecer os argumentos dos ateus, deítas, etc... que manifestam sua opinião aqui, diga-se de passagem que estes tem todo o direito de o fazer, estes mesmos argumentos nunca, jamais convenceriam um cristão, como eu por exemplo, de que estou perdendo meu tempo crendo e seguindo a um Deus, que eu acredito ser único e soberano sobre tudo e todos.
Por outro lado, acredito também que nenhum de vocês (ateus, deístas, etc...) seriam convencidos por mim de absolutamente nada.
Então, qual é o ponto dessa discussão? Expor opiniões até que alguém se ofenda, ou opiniões que até mesmo ferem o sentimento e a intenção de alguem agradecer a Deus por ter feito um trabalho de tese ou seja lá o que for?
Alguns quase se arriscam a dizer que a intercessão entre o conjunto "religiosos" e o conjunto "cientistas" é vazio. Vamos com calma!
Estou muito longe de ser um grande cientista, mas posso dizer que acho a Matemática a ciência mais bela entre todas as outras, sem a menor sombra de dúvida. Trabalho em minha tese com muito afinco todos os dias, amo o que faço, me surpreendo todos os dias com o que pode ser feito com a Matemática. E sou Cristão! Qual o problema?
Acredito que alguns, os quais negam ser religiosos a todo custo, acabam fazendo da ciência o seu deus e contradizem a si mesmos.
Queria terminar dizendo 2 coisas:
1) Gostaria de saber qual cientista, por melhor e mais premiado que seja, poderia provar a inexistência de Deus.
2) Para descontração e reflexão, este é um trecho do livro "O andar do bêbado", escrito por Leonard Mlodinow.
"O argumento de Pascal era o seguinte: partamos do pressuposto de que não sabemos se Deus existe ou não e , portanto, designemos uma probabilidade de 50% para cada suposição. Como devemos ponderar essas probabilidades ao decidirmos se devemos ou não levar uma vida pia? Se agirmos piamente e Deus existir, argumentou Pascal, nosso ganho - a felicidade eterna - será infinito. Se, por outro lado, Deus não existir, nossa perda, ou retorno negativo, será pequena - os sacrifícios da piedade. Para ponderar esses possíveis ganhos e perdas, propôs Pascal, multiplicarmos a probabilidade de cada resultado possível por suas consequências e depois ao somarmos, formando uma espécie de consequência média ou esperada. Em outras palavras, a esperança matemática do retorno obtido por nós com a piedade é meio infinito (nosso ganho se Deus existir) menos a metade de um número pequeno (nossa perda se Deus não existir). Pascal entendia suficientemente o infinito para sab er que a resposta a esse cálculo é infinita, e assim, o retorno esperado sobre a piedade é infinitamente positivo. Toda pessoa razoável, concluiu Pascal, deveria portanto seguir as leis de Deus."
Roger William


De: Leandro Rêgo
Para: abe-Lista
Enviadas: Quinta-feira, 15 de Abril de 2010 9:46:30
Assunto: Re: RES: [ABE-L]: fé e religião

Caros,

Já que estão sendo sugeridos vários textos, eu recomendo A Encíclica
Fé e Razão, sobre as relações entre Fé e Razão, escrita pelo Papa João
Paulo II. A mesma inicia com a seguinte frase:

"A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas
pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade.
Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a
verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que,
conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si< br />próprio."


Para quem quiser ler a Encíclica completa, ela está disponível em:
http://www.vatican.va/edocs/POR0064/_INDEX.HTM

Como dito, considero fé e razão (ou ciência) como complementares e não
antagônicos. (Do mesmo modo, que, na minha opinião, métodos
frequentistas e Bayesianos são complementares, cada um sendo mais
apropriado para resolução de algum tipo de problema.)

Abraços,
Leandro


2010/4/14 Francisco Cribari <cribari@gmail.com>:
> Cara Danielle e colegas,
>
> Não me surpreende que discussões desse naipe venham à superfície. Primeiro,
> acho que muitos têm uma curiosidade natural sobre assuntos relativos a
> religiões e crenças em sobrenatural idades, e fundamentalmente porque eles

> tocam a mais incômoda de todas as realidades: nossa finitude.
>
> Segundo, o panorama social contemporâneo parece ser marcadamente distinto
> daquele que vigorava até cerca de uma década ou mesmo meia década. Até então
> havia uma espécie de monólogo na medida em que religiosos se pronunciavam
> nas esferas pública e social e ateus e agnósticos silenciavam. Isso mudou.
> Como disse o Drauzio Varella, muitos ateus saíram do armário e demandaram
> seu igual direito de expressão. Por que não o teriam? Hoje vemos pessoas
> como ele e o Tony Bellotto (para ficar em apenas dois exemplos) fazendo
> pronunciamentos públicos. Acho que muitos religiosos não entenderam essa
> mudança ou não conseguiram aceitá-la. Anseiam por um retorno aos tempos em
> que o equilíbrio implicava o silêncio absoluto por parte dos descrentes.
>
> Terceiro, cotidiamente lemos notícias emanadas das cercanias das religiões
> organizadas que nos causam alguma dose de indignação. Elas vão de atentados
> terroristas a assassinatos de médicos que realizam abortos legalmente,
> passando por castração de mulheres, morte por apedrejamento de adúlteras,
> conclamação à violência contra homossexuais, extorsão de fiéis, pregações
> papais contra o uso de preservativos na África, pedofilia em bancas de
> igrejas, proteção a padres pedófilos por cardeais e bispos e a lista segue.
> Tome por exemplo a discriminação contra homossexuais. Nos EUA, há o
> movimento God Hates Fags ("Deus Odeia Bichas") que às vezes chega a promover
> violência física em nome de versos bíblicos. Pois bem, a página
> http://www.godhatesfags.com é a página de uma Igreja Batista Cristã.
> Naturalmente, isso causa indignação em muitos.
>
> A indignação termina conduzindo a algumas expressões públicas e,
> consequentemente, ao diálogo e ao debate. Ao se fazer críticas ácidas e, por
> vezes, irônicas a fatos como os elencados acima não se embutem
> generalizações. Exemplo. Quando criticamos a existência de pedófilos nas
> bancas católicas e, acima de tudo, a proteção institucional que a Igreja
> Católica lhes oferta não afirmamos ou insinuamos que todos os padres são
> pedófilos. Isso deve ficar claro.
>
> Quarto, somos (na maioria) cientistas e sabemos que há cientistas religiosos
> e também aqueles que são descrentes. Constatamos isso cotidianamente. O
> curioso é que a distribuição muda quando nos movemos para a "elite" dos
> cientistas. Por exemplo, pesquisa feita na National Academy of Sci ences dos

> EUA, que congrega a elite dos cientistas daquele país, constatou que 93% dos
> membros não acredita em Deus (ou deuses). No caso da Royal Society (Reino
> Unido) o quantitativo é de 97%. Ou seja, no topo da pirâmide prevalece a
> descrença (exceções como o Francis Collins notadas, é claro).
>
> Quinto, isso nos leva a perguntar: por quê? E assim chegamos à questão
> relativa à possível incompatibilidade entre ciência e religião. No meu
> entender, a fonte preponderante da incompatibilidade reside no fato de que
> as religiões (ou ao menos a grande maioria) são movidas pela FÉ e fé
> significa crença sem evidências. Ou seja, crê-se ao arrepio de lastro
> evidencial ou na esteira de lastro evidencial tênue e não sujeito a
> verificações independentes e a questionamentos críticos. Na seara
> científica, por outro lado, a propulsão der iva de CONHECIMENTO, que siginica

> crença à base de evidências. E, adicione-se, sujeita a constantes revisões à
> luz dos fatos. Por exemplo, ache uma ossada de um coelho datada do período
> Pré-Cambriano e a Teoria da Evolução por Seleção Natural de Darwin estará
> rejeitada. O que, por outro lado, seria necessário, em termos evidenciais,
> para se rejeitar o criacionismo? Ou a assertiva de que Maomé subiu ao céu
> montado num jumento?
>
> O melhor pronunciamento que conheço sobre o conflito entre fé e ciência foi
> feito pelo Sam Harris e está disponível (em inglês) em
>
> http://fora.tv/2007/07/04/Clash_Between_Faith_and_Reason
>
> Recomendo-o fortemente a quem tiver domínio da língua inglesa.
>
> Estou lendo o livro "Godless: How an Evangelical Preacher Became One of
> America's Leading Atheists" de autoria do Dan Barker. Ele relata que uma
> coisa que lhe chamava a atenção quando era pastor era o comportamento
> acrítico de suas plateias. Ninguém fazia questionamentos, ninguém perguntava
> por evidências, ninguém usava contestação crítica, ninguém perguntava como
> ele tinha conhecimento de suas assertivas. Agora pergunto: O ambiente
> científico é assim? Certamente não. Aliás, o progresso científico depende
> fortemente do questionamento crítico, da verificação independente, da
> avaliação de evidências. Noto ainda que vemos constantemente cientistas
> dizendo: "Não sei." Tais palavras se tornam mais escassas à medida em que
> nos afastamos dos bancos da ciência. Mais uma diferença marcante.
> Experimente perguntar a uma astrônomo e a um pastor, padre ou rabino sobre a
> orig em do Universo. Qual deles dirá "não sabemos", dando, assim, a resposta

> honesta?
>
> Sexto, uma fonte adicional de diálogo são as incursões no campo da razão
> feitas por religiosos. Por exemplo, há "provas" da existência de Deus por
> todos os lados, que vão desde argumentos filosóficos e matemáticos a
> argumentações bayesianas (!!). Aqui, recomendo o livro do John Allen Paulos:
> "Irreligion: a Mathematician Explains Why the Arguments for God Just Don't
> Add Up".
>
> Sétimo, outro emanador de diálogos e discussões reside no fato de que muitos
> religiosos acreditam que somente a religião pode conduzir a comportamentos
> morais. Quem vive nos EUA sente esse discurso mais de perto. Nada poderia
> ser mais falso. Uma boa referência é o recente livro do Phil Zuckerman:
> "Society without God: What the Least Religious Nations Can Tell Us About< br />> Contentment". O autor, que é professor de sociologia, viveu por quase dois

> anos nos dois países em que menos se crê em Deus: Dinamarca e Suécia. Ele
> conta sua experiência, apresenta muitas entrevistas que fez e desfila
> estatísticas. Fica claro que tutano religioso não é necessário para moral
> individual ou mesmo para saúde social.
>
> Aproveito essa (longa) mensagem para notar que no campo da descrença há
> aqueles que se professam ateus (não acreditam na existência do deus
> abraâmico ou de outros deuses e divindades) e aqueles que se dizem
> agnósticos. Pessoalmente, acho o agnosticismo um tanto seletivo, pois só é
> direcionado ao deus judaico-cristão e não aos demais deuses (Thor, deuses
> hindus, Mithra etc.). Tipicamente quem se diz agnóstico em relação ao deus
> abraâmico se professa simultaneamente ateu em relação a Thor, Zeus ou
> Mithra. Essa é, todavia, uma opinião muito pessoal.
>
> Por fim, o mais importante é que haja respeito ao direito alheio de
> expressar suas visões, sejam elas de cunho religioso ou de teor humanista,
> inclusive quando pontualmente carregadas de críticas -- ácidas ou não -- a
> discursos e pregações religiosos. Aqui e ali alguns sentir-se-ão incomodados
> e até mesmo moderadamente ofendidos. Todavia, há que se lembrar a máxima:
> sentirmo-nos ocasionalmente ofendidos é o preço que pagamos por transitar em
> ambientes plurais.
>
> Abraços descrentes, plurais e frequentistas a todos e todas.
>
> FC
>
> --
> Francisco Cribari-Neto, cribari@gmail.com,
> http:/ /sites.google.com/site/cribari
>