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Re: Res: RES: [ABE-L]: fà e religiÃo



Caros Redistas,

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Para complementar o email do Roger, conta-se que Pascal abandonou a ciencia

e se dedicou a teologia, por conta de uma visao divina e da saude fragilizada.

Maiores detalhes em

http://en.wikipedia.org/wiki/Blaise_Pascal

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Cordiais Saudacoes,

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Gauss

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"O maior antro de corrupÃÃo no Brasil à o Senado Federal" (G. M. Cordeiro).


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Em 15/04/2010 18:28, Roger William CÃmara Silva < rogerwcs@yahoo.com.br > escreveu:
Concordo com vocà Keila.
Eu, como todos aqui, tenhoÂmuitas ocupaÃÃes durante o dia (Ãltimo ano de doutorado), mas à impressionante como esteÂtemaÂà polÃmico e nos chamaÂatenÃÃo. Acabamos tirando um tempinho para ler as mensagens a aproveitar para dar um pitaco. à propÃsito sou cristÃo protestante e frequento assiduamente uma das igrejas que formam a Igreja Presbiteriana do Brasil. NÃo vou apresenta-la agora por que jà o fiz anteriormente.
Por mais ridÃculo que eu possa paracer agora, vou me arriscar a dizer o seguinte:ÂPor mais convincentes (nÃo estou dizendo que o sÃo) que possam parecer os argumentos dos ateus, deÃtas, etc... queÂmanifestam sua opiniÃo aqui, diga-se de passagem que estes temÂtodo o direito de o fazer, estes mesmos argumentos nunca, jamais convenceriam um cristÃo, como eu por exemplo, de que estou perdendo meu tempo crendo e seguindo a um Deus, que eu acredito ser ÃnicoÂe soberano sobre tudo e todos.
Por outro lado, acreditoÂtambÃm que nenhum de vocÃs (ateus, deÃstas, etc...) seriam convencidos por mim de absolutamente nada.
EntÃo, qual à o ponto dessa discussÃo?ÂExpor opiniÃes atà que alguÃm se ofenda, ou opiniÃes que atà mesmoÂferem o sentimento e a intenÃÃo de alguem agradecer a Deus por ter feito um trabalho de tese ou seja là o que for?
Alguns quase se arriscam a dizer que a intercessÃo entre o conjunto "religiosos" e o conjunto "cientistas" Ã vazio. Vamos com calma!
Estou muito longe de ser um grande cientista, mas posso dizer que acho a MatemÃtica a ciÃncia mais belaÂentre todas as outras, sem a menor sombra de dÃvida. Trabalho em minha tese com muito afinco todos os dias, amo o que faÃo, me surpreendo todos os dias com o que pode ser feito com a MatemÃtica. E sou CristÃo! Qual o problema?
Acredito que alguns, os quais negam ser religiosos a todo custo, acabam fazendo daÂciÃncia o seu deus e contradizem a si mesmos.
Queria terminarÂdizendo 2 coisas:
1)ÂGostaria de saber qual cientista, por melhor e mais premiado que seja,Âpoderia provar a inexistÃncia de Deus.
2) Para descontraÃÃo e reflexÃo, este à um trecho do livro "O andar do bÃbado", escrito por Leonard Mlodinow.
"O argumento de Pascal era o seguinte: partamos do pressuposto de que nÃo sabemos se Deus existe ou nÃo e , portanto, designemos uma probabilidade de 50% para cada suposiÃÃo. Como devemos ponderar essas probabilidades ao decidirmos se devemos ou nÃo levar uma vida pia? Se agirmos piamente e Deus existir, argumentou Pascal, nosso ganho - a felicidade eterna - serà infinito. Se, por outro lado, Deus nÃo existir, nossa perda, ou retorno negativo, serà pequena - os sacrifÃcios da piedade. Para ponderar esses possÃveis ganhos e perdas, propÃs Pascal, multiplicarmos a probabilidade de cada resultado possÃvel por suas consequÃncias e depois ao somarmos, formando uma espÃcie de consequÃncia mÃdia ou esperada. Em outras palavras, a esperanÃa matemÃtica do retorno obtido por nÃs com a piedade à meio infinito (nosso ganho se Deus existir) menos a metade de um nÃmero pequeno (nossa perda se Deus nÃo existir). Pascal entendia suficientemente o infinito para sab er que a resposta a esse cÃlculo à infinita, e assim, o retorno esperado sobre a piedade à infinitamente positivo. Toda pessoa razoÃvel, concluiu Pascal, deveria portanto seguir as leis de Deus."
Roger William


De: Leandro RÃgo
Para: abe-Lista
Enviadas: Quinta-feira, 15 de Abril de 2010 9:46:30
Assunto: Re: RES: [ABE-L]: fà e religiÃo

Caros,

JÃ que estÃo sendo sugeridos vÃrios textos, eu recomendo A EncÃclica
FÃ e RazÃo, sobre as relaÃÃes entre FÃ e RazÃo, escrita pelo Papa JoÃo
Paulo II. A mesma inicia com a seguinte frase:

"A fà e a razÃo (fides et ratio) constituem como que as duas asas
pelas quais o espÃrito humano se eleva para a contemplaÃÃo da verdade.
Foi Deus quem colocou no coraÃÃo do homem o desejo de conhecer a
verdade e, em Ãltima anÃlise, de O conhecer a Ele, para que,
conhecendo-O e amando-O, possa chegar tambÃm à verdade plena sobre si< br />prÃprio."

Para quem quiser ler a EncÃclica completa, ela està disponÃvel em:
http://www.vatican.va/edocs/POR0064/_INDEX.HTM

Como dito, considero fà e razÃo (ou ciÃncia) como complementares e nÃo
antagÃnicos. (Do mesmo modo, que, na minha opiniÃo, mÃtodos
frequentistas e Bayesianos sÃo complementares, cada um sendo mais
apropriado para resoluÃÃo de algum tipo de problema.)

AbraÃos,
Leandro


2010/4/14 Francisco Cribari <cribari@gmail.com>:
> Cara Danielle e colegas,
>
> NÃo me surpreende que discussÃes desse naipe venham à superfÃcie. Primeiro,
> acho que muitos tÃm uma curiosidade natural sobre assuntos relativos a
> religiÃes e crenÃas em sobrenatural idades, e fundamentalmente porque eles
> tocam a mais incÃmoda de todas as realidades: nossa finitude.
>
> Segundo, o panorama social contemporÃneo parece ser marcadamente distinto
> daquele que vigorava atà cerca de uma dÃcada ou mesmo meia dÃcada. Atà entÃo
> havia uma espÃcie de monÃlogo na medida em que religiosos se pronunciavam
> nas esferas pÃblica e social e ateus e agnÃsticos silenciavam. Isso mudou.
> Como disse o Drauzio Varella, muitos ateus saÃram do armÃrio e demandaram
> seu igual direito de expressÃo. Por que nÃo o teriam? Hoje vemos pessoas
> como ele e o Tony Bellotto (para ficar em apenas dois exemplos) fazendo
> pronunciamentos pÃblicos. Acho que muitos religiosos nÃo entenderam essa
> mudanÃa ou nÃo conseguiram aceitÃ-la. Anseiam por um retorno aos tempos em
> que o equilÃbrio implicava o silÃncio absoluto por parte dos descrentes.
>
> Terceiro, cotidiamente lemos notÃcias emanadas das cercanias das religiÃes
> organizadas que nos causam alguma dose de indignaÃÃo. Elas vÃo de atentados
> terroristas a assassinatos de mÃdicos que realizam abortos legalmente,
> passando por castraÃÃo de mulheres, morte por apedrejamento de adÃlteras,
> conclamaÃÃo à violÃncia contra homossexuais, extorsÃo de fiÃis, pregaÃÃes
> papais contra o uso de preservativos na Ãfrica, pedofilia em bancas de
> igrejas, proteÃÃo a padres pedÃfilos por cardeais e bispos e a lista segue.
> Tome por exemplo a discriminaÃÃo contra homossexuais. Nos EUA, hà o
> movimento God Hates Fags ("Deus Odeia Bichas") que Ãs vezes chega a promover
> violÃncia fÃsica em nome de versos bÃblicos. Pois bem, a pÃgina
> http://www.godhatesfags.com à a pÃgina de uma Igreja Batista CristÃ.
> Naturalmente, isso causa indignaÃÃo em muitos.
>
> A indignaÃÃo termina conduzindo a algumas expressÃes pÃblicas e,
> consequentemente, ao diÃlogo e ao debate. Ao se fazer crÃticas Ãcidas e, por
> vezes, irÃnicas a fatos como os elencados acima nÃo se embutem
> generalizaÃÃes. Exemplo. Quando criticamos a existÃncia de pedÃfilos nas
> bancas catÃlicas e, acima de tudo, a proteÃÃo institucional que a Igreja
> CatÃlica lhes oferta nÃo afirmamos ou insinuamos que todos os padres sÃo
> pedÃfilos. Isso deve ficar claro.
>
> Quarto, somos (na maioria) cientistas e sabemos que hà cientistas religiosos
> e tambÃm aqueles que sÃo descrentes. Constatamos isso cotidianamente. O
> curioso à que a distribuiÃÃo muda quando nos movemos para a "elite" dos
> cientistas. Por exemplo, pesquisa feita na National Academy of Sci ences dos
> EUA, que congrega a elite dos cientistas daquele paÃs, constatou que 93% dos
> membros nÃo acredita em Deus (ou deuses). No caso da Royal Society (Reino
> Unido) o quantitativo à de 97%. Ou seja, no topo da pirÃmide prevalece a
> descrenÃa (exceÃÃes como o Francis Collins notadas, Ã claro).
>
> Quinto, isso nos leva a perguntar: por quÃ? E assim chegamos à questÃo
> relativa à possÃvel incompatibilidade entre ciÃncia e religiÃo. No meu
> entender, a fonte preponderante da incompatibilidade reside no fato de que
> as religiÃes (ou ao menos a grande maioria) sÃo movidas pela FÃ e fÃ
> significa crenÃa sem evidÃncias. Ou seja, crÃ-se ao arrepio de lastro
> evidencial ou na esteira de lastro evidencial tÃnue e nÃo sujeito a
> verificaÃÃes independentes e a questionamentos crÃticos. Na seara
> cientÃfica, por outro lado, a propulsÃo der iva de CONHECIMENTO, que siginica
> crenÃa à base de evidÃncias. E, adicione-se, sujeita a constantes revisÃes Ã
> luz dos fatos. Por exemplo, ache uma ossada de um coelho datada do perÃodo
> PrÃ-Cambriano e a Teoria da EvoluÃÃo por SeleÃÃo Natural de Darwin estarÃ
> rejeitada. O que, por outro lado, seria necessÃrio, em termos evidenciais,
> para se rejeitar o criacionismo? Ou a assertiva de que Maomà subiu ao cÃu
> montado num jumento?
>
> O melhor pronunciamento que conheÃo sobre o conflito entre fà e ciÃncia foi
> feito pelo Sam Harris e està disponÃvel (em inglÃs) em
>
> http://fora.tv/2007/07/04/Clash_Between_Faith_and_Reason
>
> Recomendo-o fortemente a quem tiver domÃnio da lÃngua inglesa.
>
> Estou lendo o livro "Godless: How an Evangelical Preacher Became One of
> America's Leading Atheists" de autoria do Dan Barker. Ele relata que uma
> coisa que lhe chamava a atenÃÃo quando era pastor era o comportamento
> acrÃtico de suas plateias. NinguÃm fazia questionamentos, ninguÃm perguntava
> por evidÃncias, ninguÃm usava contestaÃÃo crÃtica, ninguÃm perguntava como
> ele tinha conhecimento de suas assertivas. Agora pergunto: O ambiente
> cientÃfico à assim? Certamente nÃo. AliÃs, o progresso cientÃfico depende
> fortemente do questionamento crÃtico, da verificaÃÃo independente, da
> avaliaÃÃo de evidÃncias. Noto ainda que vemos constantemente cientistas
> dizendo: "NÃo sei." Tais palavras se tornam mais escassas à medida em que
> nos afastamos dos bancos da ciÃncia. Mais uma diferenÃa marcante.
> Experimente perguntar a uma astrÃnomo e a um pastor, padre ou rabino sobre a
> orig em do Universo. Qual deles dirà "nÃo sabemos", dando, assim, a resposta
> honesta?
>
> Sexto, uma fonte adicional de diÃlogo sÃo as incursÃes no campo da razÃo
> feitas por religiosos. Por exemplo, hà "provas" da existÃncia de Deus por
> todos os lados, que vÃo desde argumentos filosÃficos e matemÃticos a
> argumentaÃÃes bayesianas (!!). Aqui, recomendo o livro do John Allen Paulos:
> "Irreligion: a Mathematician Explains Why the Arguments for God Just Don't
> Add Up".
>
> SÃtimo, outro emanador de diÃlogos e discussÃes reside no fato de que muitos
> religiosos acreditam que somente a religiÃo pode conduzir a comportamentos
> morais. Quem vive nos EUA sente esse discurso mais de perto. Nada poderia
> ser mais falso. Uma boa referÃncia à o recente livro do Phil Zuckerman:
> "Society without God: What the Least Religious Nations Can Tell Us About< br />> Contentment". O autor, que à professor de sociologia, viveu por quase dois
> anos nos dois paÃses em que menos se crà em Deus: Dinamarca e SuÃcia. Ele
> conta sua experiÃncia, apresenta muitas entrevistas que fez e desfila
> estatÃsticas. Fica claro que tutano religioso nÃo à necessÃrio para moral
> individual ou mesmo para saÃde social.
>
> Aproveito essa (longa) mensagem para notar que no campo da descrenÃa hÃ
> aqueles que se professam ateus (nÃo acreditam na existÃncia do deus
> abraÃmico ou de outros deuses e divindades) e aqueles que se dizem
> agnÃsticos. Pessoalmente, acho o agnosticismo um tanto seletivo, pois sà Ã
> direcionado ao deus judaico-cristÃo e nÃo aos demais deuses (Thor, deuses
> hindus, Mithra etc.). Tipicamente quem se diz agnÃstico em relaÃÃo ao deus
> abraÃmico se professa simultaneamente ateu em relaÃÃo a Thor, Zeus ou
> Mithra. Essa Ã, todavia, uma opiniÃo muito pessoal.
>
> Por fim, o mais importante à que haja respeito ao direito alheio de
> expressar suas visÃes, sejam elas de cunho religioso ou de teor humanista,
> inclusive quando pontualmente carregadas de crÃticas -- Ãcidas ou nÃo -- a
> discursos e pregaÃÃes religiosos. Aqui e ali alguns sentir-se-Ão incomodados
> e atà mesmo moderadamente ofendidos. Todavia, hà que se lembrar a mÃxima:
> sentirmo-nos ocasionalmente ofendidos à o preÃo que pagamos por transitar em
> ambientes plurais.
>
> AbraÃos descrentes, plurais e frequentistas a todos e todas.
>
> FC
>
> --
> Francisco Cribari-Neto, cribari@gmail.com,
> http:/ /sites.google.com/site/cribari
>