[Prévia] [Próxima] [Prévia por assunto] [Próxima por assunto]
[Índice cronológico] [Índice de assunto]

Res: [ABE-L]: Um paradoxo!



Prezados professores Gauss e Cribari,

Gostei muito dos comentÃrios sobre a criminalidade que està tomando conta do nosso paÃs.

Na semana passada, fiquei impressionado ao ver um programa de reportagens policiais em Recife intitulado "Ronda Geral". No programa, vi uma reportagem onde dois criminosos (presos em flagrante cometendo assaltos) estavam na maior felicidade, achando bom pq iriam comeÃar a comer Ãs custas do governo, e tinham a certeza de que iam voltar Ãs ruas para que "a casa de quem os colocou ali comeÃar a cair".

Bandido deixou de ter medo da lei faz muito tempo. MudanÃas URGENTES sÃo necessÃrias, e os artigos mencionados pelo professor Cribari sÃo interessantes por evidenciar fatores que podem reduzir e muito a criminalidade. Pena que para se praticar aÃÃes como as mencionadas nos artigos à preciso primeiramente criar uma nova constituiÃÃo. Eu acredito na mudanÃa, à o que posso fazer como cidadÃo, que pago meus impostos acreditando que um dia (quem sabe) servirÃo para de fato resolver esta situaÃÃo tÃo complicada para o cidadÃo de bem. Atà quando mais "Alcides" terÃo que morrer para que algo seja feito?

Um abraÃo para todos.

HemÃlio F. C. CoÃlho




De: Francisco Cribari <cribari@gmail.com>
Para: gausscordeiro <gausscordeiro@uol.com.br>
Cc: abe-l@ime.usp.br; conceicao sampaio <mcss@unb.br>
Enviadas: Quarta-feira, 21 de Abril de 2010 14:07:05
Assunto: Re: [ABE-L]: Um paradoxo!

Caro Gauss, 

Hà uma ampla literatura acerca dos efeitos da pena de morte sobre a criminalidade. O artigo seminal à o do Garry Becker:

Gary S. Becker, "Crime and Punishment: An Economic Approach," Journal of Political Economy, Vol. 76, No. 2 (1968), pp. 169-217.

Uma referÃncia mais recente à

Hashem Dezhbakhsh, Paul H. Rubin, and Joanna M. Shepherd, "Does Capital Punishment Have a Deterrent Effect? New Evidence from Postmoratorium Panel Data," American Law and Economics Review, Vol. 5, No. 2 (2003), pp. 344-376.

Os autores encontram que cada execuÃÃo conduz, em mÃdia, a uma reduÃÃo de 18 assassinatos. Um resultado semelhante està no artigo

Paul R. Zimmerman, "State Executions, Deterrence, and the Incidence of Murder," Journal of Applied Economics, Vol. 7, No. 1 (2004), pp. 163-193.

Aqui, cada execuÃÃo salva, em mÃdia, 14 pessoas de assassinatos futuros. 

HÃ outros estudos interessantes. 

Uma questÃo igualmente polÃmica (e de elevada combustividade) Ã: A legalizaÃÃo do aborto conduz a uma reduÃÃo na criminalidade? Hà uma ampla literatura sobre o tema. Um artigo importante à o do Donohue e Levitt: 

Donohue, J.J.; Levitt, S.D. (2001). The impact of legalized abortion on crime. Quarterly Journal of Economics, 116(2), pp. 379-420. 

A resposta dos autores Ã: sim, a legalizaÃÃo do aborto conduz a uma reduÃÃo na criminalidade. Nos EUA, a queda da criminalidade comeÃou a ocorrer 18 anos apÃs a legalizaÃÃo do aborto. O abstract do artigo:

We offer evidence that legalized abortion has contributed significantly to recent crime reductions.
Crime began to fall roughly 18 years after abortion legalization. The 5 states that allowed abortion in
1970 experienced declines earlier than the rest of the nation, which legalized in 1973 with Roe v.
Wade. States with high abortion rates in the 1970s and 1980s experienced greater crime reductions in
the 1990s. In high abortion states, only arrests of those born after abortion legalization fall relative to
low abortion states. Legalized abortion appears to account for as much as 50 percent of the recent
drop in crime.

Hà vÃrios estudos subsequentes que merecem atenÃÃo. Uma boa referÃncia à

Levitt, S.D. (2004). Understanding why crime fell in the 1990s: Four factors that explain the decline and six that do not. Journal of Economic Perspectives, 18(1), pp.163-190. 

AbraÃos empÃricos, 

FC



2010/4/21 gausscordeiro <gausscordeiro@uol.com.br>

Caros Redistas,

 

 

Estamos confinados num mundo de crimes hediondos, principalmente no Brasil,

criminosos canibais, pedofilia, seitas demonÃacas, roubos dos governantes,

sem falar na criminalidade nas ruas, onde os assaltos à mÃo armada se

sucedem em todos os Estados do PaÃs.

 

Recentemente, a sociedade pernambucana ficou revoltada com a morte

trÃgica do estudante pobre da UFPE - Alcides do Nascimento Lins -, filho de

uma carroceira, assassinado por traficantes por engano que o confundiram

com usuÃrio de drogas. O Alcides ganhou fama nacional por ter sido o primeiro

colocado no vestibular da UFPE entre os alunos da rede pÃblica.

 

Alguns procuram justificar a criminalidade a partir do conceito de que a culpa cabe

mais à sociedade do que ao criminoso. Outros, no extremo oposto, acreditam que

a violÃncia sà pode ser combatida em dobro.

 

NÃo me sinto bem em ambos os casos. No 1Â caso, nÃo me sentiria bem durante um assalto,

alÃm de entregar tudo ao bandido, ainda pedir-lhe desculpas. Por outro lado, repugna-me alguÃm

comprar uma arma e sair por aà matando bandido. Deve haver um enfoque intermediÃrio entre

essas duas teses:a tese âsocialâ e a tese âmoralâ. Fosse verdadeira 1Â, a Ãndia (do nosso guru C. R. Rao)

onde a misÃria à maior do que nosso PaÃs, seria uma naÃÃo com maior criminalidade do que

o Brasil, o que nÃo Ã. No oposto, nÃo deveria haver criminalidade em Los Angeles, uma das

metrÃpoles mais ricas do planeta, nem em Lenigrado, onde nÃo existe desigualdade social.

 

Por outro lado, existe, tambÃm, criminalidade nos paÃses em que vigora a pena de morte.

A pergunta crucial Ã: se nÃo existisse a pena de morte nesses paÃses, a criminalidade nÃo seria

muito maior. Acredito que sim.

 

Eis o paradoxo: o Brasil à o paÃs do mundo ocidental que tem o maior Ãndice de religiosidade

e o maior Ãndice de criminalidade.

 

Bom feriado a todos.

 

Gauss

 

 

 

"O maior antro de corrupÃÃo no Brasil à o Senado Federal" (G. M. Cordeiro).


 




--
Francisco Cribari-Neto, cribari@gmail.com, http://sites.google.com/site/cribari