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Re: [ABE-L]: Um paradoxo!



Caro Gauss, 

Há uma ampla literatura acerca dos efeitos da pena de morte sobre a criminalidade. O artigo seminal é o do Garry Becker:

Gary S. Becker, "Crime and Punishment: An Economic Approach," Journal of Political Economy, Vol. 76, No. 2 (1968), pp. 169-217.

Uma referência mais recente é 

Hashem Dezhbakhsh, Paul H. Rubin, and Joanna M. Shepherd, "Does Capital Punishment Have a Deterrent Effect? New Evidence from Postmoratorium Panel Data," American Law and Economics Review, Vol. 5, No. 2 (2003), pp. 344-376.

Os autores encontram que cada execução conduz, em média, a uma redução de 18 assassinatos. Um resultado semelhante está no artigo

Paul R. Zimmerman, "State Executions, Deterrence, and the Incidence of Murder," Journal of Applied Economics, Vol. 7, No. 1 (2004), pp. 163-193.

Aqui, cada execução salva, em média, 14 pessoas de assassinatos futuros. 

Há outros estudos interessantes. 

Uma questão igualmente polêmica (e de elevada combustividade) é: A legalização do aborto conduz a uma redução na criminalidade? Há uma ampla literatura sobre o tema. Um artigo importante é o do Donohue e Levitt: 

Donohue, J.J.; Levitt, S.D. (2001). The impact of legalized abortion on crime. Quarterly Journal of Economics, 116(2), pp. 379-420. 

A resposta dos autores é: sim, a legalização do aborto conduz a uma redução na criminalidade. Nos EUA, a queda da criminalidade começou a ocorrer 18 anos após a legalização do aborto. O abstract do artigo:

We offer evidence that legalized abortion has contributed significantly to recent crime reductions.
Crime began to fall roughly 18 years after abortion legalization. The 5 states that allowed abortion in
1970 experienced declines earlier than the rest of the nation, which legalized in 1973 with Roe v.
Wade. States with high abortion rates in the 1970s and 1980s experienced greater crime reductions in
the 1990s. In high abortion states, only arrests of those born after abortion legalization fall relative to
low abortion states. Legalized abortion appears to account for as much as 50 percent of the recent
drop in crime.

Há vários estudos subsequentes que merecem atenção. Uma boa referência é 

Levitt, S.D. (2004). Understanding why crime fell in the 1990s: Four factors that explain the decline and six that do not. Journal of Economic Perspectives, 18(1), pp.163-190. 

Abraços empíricos, 

FC



2010/4/21 gausscordeiro <gausscordeiro@uol.com.br>

Caros Redistas,

 

 

Estamos confinados num mundo de crimes hediondos, principalmente no Brasil,

criminosos canibais, pedofilia, seitas demoníacas, roubos dos governantes,

sem falar na criminalidade nas ruas, onde os assaltos à mão armada se

sucedem em todos os Estados do País.

 

Recentemente, a sociedade pernambucana ficou revoltada com a morte

trágica do estudante pobre da UFPE - Alcides do Nascimento Lins -, filho de

uma carroceira, assassinado por traficantes por engano que o confundiram

com usuário de drogas. O Alcides ganhou fama nacional por ter sido o primeiro

colocado no vestibular da UFPE entre os alunos da rede pública.

 

Alguns procuram justificar a criminalidade a partir do conceito de que a culpa cabe

mais à sociedade do que ao criminoso. Outros, no extremo oposto, acreditam que

a violência só pode ser combatida em dobro.

 

Não me sinto bem em ambos os casos. No 1º caso, não me sentiria bem durante um assalto,

além de entregar tudo ao bandido, ainda pedir-lhe desculpas. Por outro lado, repugna-me alguém

comprar uma arma e sair por aí matando bandido. Deve haver um enfoque intermediário entre

essas duas teses:a tese “social” e a tese “moral”. Fosse verdadeira 1ª, a Índia (do nosso guru C. R. Rao)

onde a miséria é maior do que nosso País, seria uma nação com maior criminalidade do que

o Brasil, o que não é. No oposto, não deveria haver criminalidade em Los Angeles, uma das

metrópoles mais ricas do planeta, nem em Lenigrado, onde não existe desigualdade social.

 

Por outro lado, existe, também, criminalidade nos países em que vigora a pena de morte.

A pergunta crucial é: se não existisse a pena de morte nesses países, a criminalidade não seria

muito maior. Acredito que sim.

 

Eis o paradoxo: o Brasil é o país do mundo ocidental que tem o maior índice de religiosidade

e o maior índice de criminalidade.

 

Bom feriado a todos.

 

Gauss

 

 

 

"O maior antro de corrupção no Brasil é o Senado Federal" (G. M. Cordeiro).


 




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Francisco Cribari-Neto, cribari@gmail.com, http://sites.google.com/site/cribari