[Prévia] [Próxima] [Prévia por assunto] [Próxima por assunto]
[Índice cronológico] [Índice de assunto]

Re: [ABE-L]: Um paradoxo!



Caro Francisco,

Â

Grato pelas referencias dos artigos que parecem bem interessantes.

Voce estah bem a par do tema. Essas estatisticas (dos EUA) de que

cada execuÃÃo salva, em mÃdia, entre 14 e 18 pessoas de assassinatos

futuros, parece bem realista. No Brasil, se fosse implantada a pena

de morte, acredito que o decaimento poderia ser bem maior.

Â

Quando eu era garoto tinha um delegado em Recife que conseguiu

reduzir a taxa de criminalidade com a seguinte estrategia. Conta-se

que ele pegava de 10 a 20 detentos que tinham cometidos crimes graves

e levada para o alto mar. Fazia um sorteio e jogava alguns do barco para os

tubaroes fazerem a festa. Trazia os demais para contarem a estoria

no presidio.

Â

Um abraco,

Â

Gauss

Â

"O maior antro de corrupÃÃo no Brasil à o Senado Federal" (G. M. Cordeiro).


Â



Em 21/04/2010 14:07, Francisco Cribari < cribari@gmail.com > escreveu:
Caro Gauss,
Hà uma ampla literatura acerca dos efeitos da pena de morte sobre a criminalidade. O artigo seminal à o do Garry Becker:
Gary S. Becker, "Crime and Punishment: An Economic Approach," Journal of Political Economy, Vol. 76, No. 2 (1968), pp. 169-217.
Uma referÃncia mais recente Ã
Hashem Dezhbakhsh, Paul H. Rubin, and Joanna M. Shepherd, "Does Capital Punishment Have a Deterrent Effect? New Evidence from Postmoratorium Panel Data," American Law and Economics Review, Vol. 5, No. 2 (2003), pp. 344-376.
Os autores encontram que cada execuÃÃo conduz, em mÃdia, a uma reduÃÃo de 18 assassinatos. Um resultado semelhante està no artigo
Paul R. Zimmerman, "State Executions, Deterrence, and the Incidence of Murder," Journal of Applied Economics, Vol. 7, No. 1 (2004), pp. 163-193.
Aqui, cada execuÃÃo salva, em mÃdia, 14 pessoas de assassinatos futuros.
HÃ outros estudos interessantes.
Uma questÃo igualmente polÃmica (e de elevada combustividade) Ã: A legalizaÃÃo do aborto conduz a uma reduÃÃo na criminalidade? Hà uma ampla literatura sobre o tema. Um artigo importante à o do Donohue e Levitt:
Donohue, J.J.; Levitt, S.D. (2001). The impact of legalized abortion on crime. Quarterly Journal of Economics, 116(2), pp. 379-420.
A resposta dos autores Ã: sim, a legalizaÃÃo do aborto conduz a uma reduÃÃo na criminalidade. Nos EUA, a queda da criminalidade comeÃou a ocorrer 18 anos apÃs a legalizaÃÃo do aborto. O abstract do artigo:
We offer evidence that legalized abortion has contributed significantly to recent crime reductions.
Crime began to fall roughly 18 years after abortion legalization. The 5 states that allowed abortion in
1970 experienced declines earlier than the rest of the nation, which legalized in 1973 with Roe v.
Wade. States with high abortion rates in the 1970s and 1980s experienced greater crime reductions in
the 1990s. In high abortion states, only arrests of those born after abortion legalization fall relative to
low abortion states. Legalized abortion appears to account for as much as 50 percent of the recent
drop in crime.
HÃ vÃrios estudos subsequentes que merecem atenÃÃo. Uma boa referÃncia Ã
Levitt, S.D. (2004).ÂUnderstanding why crime fell in the 1990s: Four factors that explain the decline and six that do not. Journal of Economic Perspectives, 18(1), pp.163-190.
AbraÃos empÃricos,
FC


2010/4/21 gausscordeiro <gausscordeiro@uol.com.br>

Â

Caros Redistas,

Â

Â

Estamos confinados num mundo de crimes hediondos, principalmente no Brasil,

criminosos canibais, pedofilia, seitas demonÃacas, roubos dos governantes,

sem falar na criminalidade nas ruas, onde os assaltos à mÃo armada se

sucedem em todos os Estados do PaÃs.

Â

Recentemente, a sociedade pernambucana ficou revoltada com a morte

trÃgica do estudante pobre da UFPE - Alcides do Nascimento Lins -, filho de

uma carroceira, assassinado por traficantes por engano que o confundiram

com usuÃrio de drogas. O Alcides ganhou fama nacional por ter sido o primeiro

colocado no vestibular da UFPE entre os alunos da rede pÃblica.

Â

Alguns procuram justificar a criminalidade a partir do conceito de que a culpa cabe

mais à sociedade do que ao criminoso. Outros, no extremo oposto, acreditam que

a violÃncia sà pode ser combatida em dobro.

Â

NÃo me sinto bem em ambos os casos. No 1Â caso, nÃo me sentiria bem durante um assalto,

alÃm de entregar tudo ao bandido, ainda pedir-lhe desculpas. Por outro lado, repugna-me alguÃm

comprar uma arma e sair por aà matando bandido. Deve haver um enfoque intermediÃrio entre

essas duas teses:a tese âsocialâ e a tese âmoralâ. Fosse verdadeira 1Â, a Ãndia (do nosso guru C. R. Rao)

onde a misÃria à maior do que nosso PaÃs, seria uma naÃÃo com maior criminalidade do que

o Brasil, o que nÃo Ã. No oposto, nÃo deveria haver criminalidade em Los Angeles, uma das

metrÃpoles mais ricas do planeta, nem em Lenigrado, onde nÃo existe desigualdade social.

Â

Por outro lado, existe, tambÃm, criminalidade nos paÃses em que vigora a pena de morte.

A pergunta crucial Ã: se nÃo existisse a pena de morte nesses paÃses, a criminalidade nÃo seria

muito maior. Acredito que sim.

Â

Eis o paradoxo: o Brasil à o paÃs do mundo ocidental que tem o maior Ãndice de religiosidade

e o maior Ãndice de criminalidade.

Â

Bom feriado a todos.

Â

Gauss

Â

Â

Â

Â

"O maior antro de corrupÃÃo no Brasil à o Senado Federal" (G. M. Cordeiro).


Â




--
Francisco Cribari-Neto, cribari@gmail.com, http://sites.google.com/site/cribari