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Re: Reportagem da VEJA



Caro Francisco,

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Sem acentos, muito boa a Reportagem da Veja.ÂO Brasil precisa de mais jovens

tralentosos nao soh na matematica mas em outras areas das ciencias exatas para

impulsionarem maisÂa nossa tecnologia.

Abs,

Gauss

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"O maior antro de corrupÃÃo no Brasil à o Senado Federal" (G. M. Cordeiro).


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Em 15/05/2010 06:36, Francisco Cribari < cribari@gmail.com > escreveu:
VEJA, ediÃÃo 2165, 19 de maio de 2010

EducaÃÃo

Meninos prodÃgios

A histÃria de um grupo de jovens com talento fora do comum
para a matemÃtica mostra como o estÃmulo precoce produz
resultados extraordinÃrios


Roberta de Abreu Lima

Oscar Cabral
TrajetÃria-relÃmpago
Ricardo, Renan e Alex (da esq. para a dir.): direto da escola para o mestrado

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A biografia dos estudantes que aparecem na foto acima contÃm um fato rarÃssimo que os faz destoar completamente da mÃdia: eles alcanÃaram o feito de saltar do ensino mÃdio direto para a pÃs-graduaÃÃo em matemÃtica â sem jamais ter pisado numa faculdade. O grupo pertence ao Instituto Nacional de MatemÃtica Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro, um dos melhores centros de pesquisa do mundo na Ãrea, de acordo com os rankings internacionais. Pois atà mesmo ali, um celeiro de cÃrebros, a precocidade do trio chama atenÃÃo. Aos 18 anos, o catarinense Renan Finder jà cursa o mestrado em matemÃtica pura e cultiva o hÃbito de gravar na memÃria os problemas que, sà por diversÃo, soluciona mentalmente nas horas vagas. O estudante resume o pensamento comum ao grupo dos prodÃgios: "Desde que me entendo por gente, penso o mundo como um matemÃtico". Recrutados pelo Impa em olimpÃadas dedicadas à disciplina, nas quais colecionaram m edalhas, esses estudantes compÃem um caso emblemÃtico de como rastrear e lapidar talentos bem cedo pode trazer resultados excepcionais. Com todos os estÃmulos necessÃrios, eles nÃo apenas potencializaram suas aptidÃes como se conectaram a alguns dos melhores polos de pesquisa do mundo â algo decisivo para sua carreira. Avalia o doutor em matemÃtica Seme Gebara: "Cultivar o talento dos jovens à crucial para o desenvolvimento de qualquer paÃs â mas trata-se ainda de uma exceÃÃo no Brasil".

Hà evidÃncias cientÃficas de que os estÃmulos providos desde muito cedo Ãqueles de talento especial para a matemÃtica tÃm efeitos poderosos. Isso porque em nenhuma outra etapa da vida eles estÃo tÃo propensos a ser criativos com os nÃmeros. Explica o especialista alemÃo Martin GrÃtschel, da Universidade TÃcnica de Berlim: "Os estudos mostram que, atà cerca dos 20 anos, os jovens ainda nÃo mecanizaram os caminhos para solucionar os problemas, o que deixa o cÃrebro mais livre para o exercÃcio da criatividade â fundamental para avanÃar nesse campo". A teoria pode ajudar a entender por que tantos gÃnios da matemÃtica afloraram ainda na adolescÃncia. Foi com apenas 16 anos que o francÃs Blaise Pascal (1623-1662) criou seus primeiros teoremas na Ãrea da geo-metria. O americano John Nash, por sua vez, escreveu sua tese sobre a teoria dos jogos, aquela que lhe renderia o PrÃmio Nobel de Economia em 1994, aos 21 anos.

Najlah Feanny/Corbis/Latin Stock
Genialidade precoce
O americano John Nash: ele ganhou
o Nobel pela tese sobre a teoria
dos jogos que escreveu aos 21 anos


A histÃria dos jovens prodÃgios do Impa reforÃa ainda a ideia de como um ambiente favorÃvel ao aprendizado pode ser decisivo. Em casa, todos eles receberam incentivos para que o gosto pelas equaÃÃes se perpetuasse. "Desde pequeno, meu pai adorava me colocar diante de desafios matemÃticos", lembra o paulista Ricardo Turolla, 21 anos, que na 8 sÃrie do ensino fundamental jà havia resolvido 100% dos exercÃcios dos livros do 3 ano do ensino mÃdio. Foi uma questÃo de tempo para que o pai de Ricardo, um engenheiro elÃtrico, acabasse ultrapassado pelo filho â hoje cursando o doutorado na Ãrea de sistemas dinÃmicos, cujas aplicaÃÃes vÃo da previsÃo do tempo Ãs cotaÃÃes da bolsa de valores. Como esperado, o grupo tambÃm passou por boas escolas de ensino particular, onde encontraram professores que conseguiram mantÃ-los interessados, apesar do abismo que os separava do restante da turma. O fato de terem participado de um a sÃrie de olimpÃadas de matemÃtica â competiÃÃes que tÃm revelado talentos como o do pernambucano JoÃo Lucas Gambarra, 15 anos (veja o quadro abaixo) â tambÃm foi relevante. Diz o carioca Alex Correa, 23 anos e um doutorado recÃm-concluÃdo: "Um ambiente tÃo competitivo à desafiador à inteligÃncia. Depois de uma olimpÃada, eu jà pensava em me preparar para a seguinte". Sim, todos estudam madrugada adentro. Por exigÃncia do MinistÃrio da EducaÃÃo (MEC), tambÃm comeÃaram a cursar a faculdade, prÃ-requisito para que o tÃtulo de doutor seja vÃlido no Brasil.

Como outros de sua geraÃÃo, os trÃs jovens do Impa gostam de videogame, cinema, internet e festas com amigos. O que os distingue à justamente a adoraÃÃo pela matemÃtica â disciplina que a maioria dos estudantes no Brasil nÃo sà detesta como ignora. Numa comparaÃÃo com alunos de 57 paÃses, conduzida pela OCDE (organizaÃÃo que reÃne os mais desenvolvidos), os brasileiros patinaram na 54 posiÃÃo, à frente apenas da Turquia, Catar e QuirguistÃo. A razÃo central para o flagrante atraso em relaÃÃo aos demais paÃses diz respeito ao baixo nÃvel dos professores. Para se ter uma ideia, apenas 4% dos docentes do ensino fundamental se especializaram na Ãrea. Entre os que tÃm o diploma, a situaÃÃo nÃo melhora muito: em exame aplicado pelo MEC aos recÃm-formados, menos de um terÃo das questÃes foi respondido corretamente. Estamos a anos-luz, portanto, daquilo que o matemÃtico americano John Allen Paulos, autor do livro Innumeracy (em portuguÃs, "analfamatismo"), verificou ser mais eficaz para o ensino da matÃria: "O desafio à apresentÃ-la como uma fantÃstica ferramenta para enxergar o mundo em que vivemos".

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O campeÃo de Quixaba

Josue da Mata
ColeÃÃo de medalhas
O destaque olÃmpico JoÃo Gambarra:
seus livros jà sÃo os do doutorado


No 2 ano do ensino mÃdio, o pernambucano JoÃo Lucas Gambarra, 15 anos, gosta de dedicar o tempo livre a atividades que causam estranheza aos colegas â todas relacionadas à matemÃtica. Atualmente, ele se divide entre a leitura de um calhamaÃo sobre anÃlise combinatÃria (indicado para alunos de doutorado) e a participaÃÃo diÃria num fÃrum em que gente de todas as idades discute a resoluÃÃo de problemas na internet. Frequentemente, o adolescente chega à resposta antes de todo mundo. Medalhista em cinco olimpÃadas de matemÃtica consecutivas entre escolas pÃblicas, competiÃÃo da qual participa desde os 10 anos, JoÃo Lucas tem uma trajetÃria distinta da maioria dos estudantes que sobressaem pelo talento. Filho de uma historiadora e de um professor do ensino fundamental, ele nunca teve condiÃÃes financeiras para estudar em escola particular, tampouco para comprar todos os livros que o interessavam. Cientes de sua aptidà o fora do comum, no entanto, os pais fizeram de tudo para incentivÃ-lo. Moradores do municÃpio de Princesa Isabel, no interior da ParaÃba, eles decidiram matricular JoÃo Lucas numa escola pÃblica da cidade vizinha, Quixaba, esta em Pernambuco â justamente pela notÃria excelÃncia. Entre os 7 000 habitantes de lÃ, os feitos olÃmpicos do menino o alÃaram à condiÃÃo de celebridade. "Desde pequeno, matemÃtica para mim sempre foi pura diversÃo", diz ele, que està em dÃvida entre a carreira de engenheiro e a de analista de sistemas.







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Francisco Cribari-Neto, cribari@gmail.com, http://sites.google.com/site/cribari