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Deu na Folha Online (TRI)



Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/saber/827418-helio-schwartsman-justica-ainda-nao-entendeu-o-que-e-o-enem.shtml

08/11/2010 - 18h23

Héo Schwartsman: Justiçainda nãentendeu o que é Enem

HÉIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Os chamados operadores do direito (advogados, juís, promotores, procuradores etc.) ainda nãentenderam bem o que é Enem. Se tivessem compreendido, nãteriam pedido -- e nem concedido -- a suspensãdo exame, por desnecessáa.

Éfato que, pelo segundo ano consecutivo, os organizadores da prova cometeram erros. Isso depõontra a capacidade gerencial do Ministéo da Educaç (MEC) e dos consóos que confeccionam os testes, mas nãafeta os modelos matemácos que sustentam a Teoria de Resposta ao Item (TRI), na qual o Enem se baseia.

Desenvolvida nos anos 50 e 60, a TRI torna possíis testes mais refinados, que permitem comparar alunos submetidos a provas diferentes e a performance de uma mesma instituiç ao longo dos anos. Assim, em vez de anular os exames de mais de 3 milhõde estudantes, basta que o MEC ofereçgratuitamente aos cerca de 20 mil alunos que podem ter sido prejudicados a oportunidade de fazer uma nova prova nas próas semanas.

Embora seja "apenas uma teoria" a TRI ésada háédas com bastante sucesso em provas jáonsagradas como o SAT (o Enem dos EUA) e o Pisa (usado para comparar sistemas de ensino de diferentes país). A ideia central da TRI em sua versãmais simplificada éue cada questãou item possui duas caracteríicas especialmente relevantes: o grau de dificuldade e o de discriminaç.

Se a pergunta for fál, seráespondida por quase todos os que estãmais preparados e por parte dos que se mostram menos preparados; se for difíl, seráespondida somente por alguns dos mais háis. Já discriminaç traduz a eficáa com que o item distingue entre os mais e os menos competentes.

O que a TRI faz éeunir esses dois parâtros em um modelo matemáco que permite atribuir a cada candidato uma pontuaç que leva em conta nãsó acertos como tambéo grau de dificuldade de cada questãe a coerêia nas respostas.

Com isso, nem todos os estudantes recebem os mesmos pontos pelos mesmos acertos. Um aluno que acertar uma questãdifíl, sem ter resolvido um nú razoál de outras mais fáis, receberáor aquele acerto uma pontuaç menor do que o aluno que tenha demonstrado coerêia ao longo de toda a prova.

Evidentemente, o sistema precisa ser calibrado tanto para o grau de dificuldade como para o de discriminaç de cada item. Uma sée de testes com alunos de diferentes níis permite a formaç de grandes bancos de questõ de modo que, em princío, nãhaveria grandes problemas para elaborar em poucos dias uma prova extra para os prejudicados.

Na verdade, tanto a fraude de 2009 como as falhas organizacionais deste ano poderiam ter sido evitadas se o MEC tivesse avanço mais nas possibilidades abertas pela TRI. Nãháazã por exemplo, para fazer um megaexame que envolva váos milhõde alunos --com todas as dificuldades logíicas daíecorrentes. Seria muito mais razoál organizar sete ou oito provas por ano, como, aliá ocorre com o SAT norte-americano.

O mesmo vale para a seguranç Nada impede que o MEC elabore váas dezenas de diferentes modelos de prova. Nãestamos aqui falando das mesmas questõdispostas em outra ordem, mas de exames compostos por perguntas diferentes. Se existe apenas uma chance em 50 ou 60 de um candidato a fraudador comprar a prova certa, violaçs de sigilo praticamente perdem valor de mercado.

Pode-se ir ainda mais longe e imaginar uma situaç onde cada examinando resolva seu teste diretamente num computador. Neste caso, o sistema poderia, a partir do banco de questõ que idealmente conta com milhõde perguntas, gerar uma prova especíca para cada candidato.

E isso érovavelmente o mais perto que se pode chegar de um exame àrova de fraude.

O verdadeiro teste do MEC vai ser convencer os juís de que a TRI funciona.

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Francisco Cribari-Neto, cribari@gmail.com, http://sites.google.com/site/cribari