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Re: [ABE-L]: Deu na Folha: Estatístico do Estado vende dado sigiloso



De fato, Kahn não é estatístico, no sentido que se dá aqui.

Quero, todavia, levantar um ponto. E sem defender Kahn, nem atacando por eventual deslize profissional. O ponto é: que direito tem a administração pública de esconder dados da população? Uma democracia só funciona com igualdade de acesso à informação.

Vejam um exemplo, tirado deste mesmo problema: acho que tenho direito a conhecer os dados de ocorrências policiais, em detalhe. Pois, com isso, poderia me orientar sobre locais onde morar, onde NÃO passar. Posso saber pontos perigosos de uma via pública - um trecho mais sujeito a acidentes, e coisas assim.

Lembro-me de uma epidemia que ocorreu em São Paulo, no tempo da ditadura. Ela foi escamoteada do conhecimento da população, por meio de censura nos jornais. Disseram os do (des)governo que isso foi feito para não alarmar a população. Nós, contrários, achamos que foi feito para não desmoralizar o (des)governo.

Ora, diabos, por que um funcionário público pode ter acesso privativo a dados estatísticos, dados obtidos com nossos recursos e que seriam muito benvindos em mãos de analistas eventualmente mais hábeis?

Ah, precisamos de um Assange aqui. Aliás, bem diferente do que se veiculou que fez o Sr Kahn, o qual teria vendido os dados a uns poucos privilegiados (continuando assim, e da pior maneira, privilegiando alguns, em detrimento da divulgação ampla, geral e irrestrita).

Democracia já. Habeas data para todos!!!!

Abs

Zé Carvalho


Jose F. de Carvalho
Statistika Consultoria
+55-19-3236-7537




Tue, 1 Mar 2011 15:04:35 -0300 , Doris Fontes escreveu:

Muito infeliz o título da matéria, pois o sr. Kahn é graduado em Ciências Sociais e tem Mestrado e Doutorado em Ciências Políticas, nada a ver com estatística. Mas, só porque coordena um depto que lida com dados, é chamado de "estatístico". Enviei hoje logo cedinho um pedido de correção da matéria explicando que o cara NÃO É estatístico.

Muitos são contra a definição legal de estatístico (por n motivos), mas segundo a lei N. 4739 de 1965, Estatístico é aquele que possui um Diploma de Curso Superior em Estatística. Além disso, para exercer a profissão de estatístico, existe o registro no seu Conselho Regional de Estatística competente. Existe também um código de ética profissional que inclui a guarda sigilosa de dados.

Abraços,
Doris



Segue o texto todo:

Estatístico do Estado vende dado sigiloso 

Túlio Kahn, coordenador da Secretaria da Segurança de SP, disponibiliza informações criminais por meio de sua empresa

Ele já forneceu dados como furtos a pedestres na região de Campinas e os bens mais visados em roubos a condomínios
MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO 

Um funcionário do alto escalão da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo vende serviços de consultoria por meio de uma empresa da qual é sócio e que disponibiliza dados que o governo considera sigilosos.
O sociólogo Túlio Kahn é desde 2005 sócio-diretor da Angra Consultoria e Representação Comercial, segundo documentos obtidos pela Folha. Ele detém 50% da empresa -a outra metade é de André Palatnik.
Desde 2003 Kahn é coordenador da CAP (Coordenadoria de Análise e Planejamento), o órgão que concentra todas as informações estatísticas sobre violência no Estado. Já atravessa três governos na função. Quem o nomeou para o cargo foi o secretário Saulo de Castro, no governo de Geraldo Alckmin (2003-2006).
Entre outros dados sigilosos, Kahn já forneceu, por exemplo, informações como furtos a transeuntes na região metropolitana de Campinas e os bens que são levados com mais frequência nos roubos a condomínios na cidade de São Paulo.
O levantamento sobre roubo a condomínios foi feito a pedido do Secovi (sindicato das empresas imobiliárias de São Paulo) e pago pela GR, uma das maiores empresas de segurança do Estado, segundo o próprio Kahn relatou à Folha. A GR nega ter feito pagamentos à Angra.

SIGILO
As informações sigilosas sobre a criminalidade na Grande Campinas constam de um relatório feito para a Agemcamp (Agência Metropolitana de Campinas), autarquia do Estado que auxilia o planejamento na região.
Foi a Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S/A), empresa do governo paulista, que contratou a Angra.
Ou seja, o governo pagou a uma empresa privada para obter dados sobre crimes que são desse mesmo governo.
No relatório para a Agemcamp, a Angra oferece informações do Infocrim que não são públicas, as quais "permitem um maior detalhamento da situação criminal da cidade de Campinas".

PÂNICO
Graças aos mapas de Kahn, é possível saber em que áreas se concentram os roubos de veículos e os locais onde ocorrem mais roubos a condomínios.
A secretaria se nega desde 2008 a fornecer à Folha informações similares, e de grande interesse público, como as ruas que concentram os roubos e furtos de veículos em São Paulo.
A alegação de Kahn para a negativa é que essas informações poderiam gerar alarmismo entre os moradores e desvalorizar a área.
Parte das informações criminais é publicada trimestralmente, de acordo com a resolução 160, que criou em 2001 as regras para divulgação de estatísticas.
A divulgação, porém, não inclui dados estratégicos, como o local do crime. Com isso, não dá para se saber a rua onde se mata mais na cidade de São Paulo ou as faculdades que concentram o furto de veículos. Não há esse veto para a clientela da Angra.

PREÇOS
Os valores dos contratos da empresa de Kahn variam de R$ 80 mil a R$ 250 mil.
Por exemplo: um projeto de pesquisa que ensina prefeituras a fechar bares para reduzir a violência, que inclui acesso a dados sigilosos de boletins de ocorrência, está orçado em R$ 100 mil.
Apenas uma empresa com livre trânsito no governo poderia oferecer "visitas às delegacias para consulta aos boletins de ocorrência". Delegacias vetam a consulta a boletins sob o pretexto de que haveria violação da intimidade das vítimas.
Em outro projeto em que a Angra aparece como intermediária, o Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo paga R$ 7.000 a dois funcionários para produzir estatísticas sobre roubo de cargas dentro da CAP. O sindicato diz que o acordo é legal.


OUTRO LADO

Não violei informações e o "cliente" só patrocina estudos, diz sociólogo

DE SÃO PAULO 

O sociólogo Túlio Kahn diz que nunca violou dados da Secretaria da Segurança.
Em resposta por e-mail, ele afirma: "Não há venda de informações. Houve uma contratação da Angra e outras consultorias pelo governo do Estado, por licitação pública, através da Emplasa. O manuseio dos dados pela Angra foi feito sob condição de sigilo e apenas órgãos públicos tiveram acesso às análises".
Segundo ele, o sigilo era preservado por "acordo verbal" com os pesquisadores.
Os clientes que a própria Angra cita, como a GR, o Secovi e o Sindicato das Empresas de Transporte de Carga, são "patrocinadores" de projetos (contra roubos a condomínios e de cargas, respectivamente), diz o sociólogo.
Kahn diz que irá "providenciar" a alteração do contrato da Angra, onde aparece como sócio-diretor -o estatuto do funcionalismo só permite a figura do sócio-cotista. "Não me ative à necessidade de alterar o contrato da Angra, o que vou providenciar".
Segundo Kahn, não há conflito ético entre a sua atividade privada e seu trabalho público: "Os "clientes privados" apenas patrocinam os estudos, como forma de colaborar com as polícias e a segurança, e os dados só são divulgados às polícias".

SALÁRIO
Em conversa telefônica, disse que criou a empresa de consultoria por sugestão do governo porque a Secretaria de Segurança não conseguiu pagar um salário compatível com a responsabilidade que ele assumiu na CAP.
Quando chegou ao órgão, em 2003, o salário que lhe caberia seria de R$ 5.000. Daí a sugestão de que cobrasse por certos projetos e recebesse por meio de nota, conta.
A GR diz que nunca fez pagamentos à Angra. A empresa afirma que só ajudou a Secretaria de Segurança a mapear melhor o problema de roubos a condomínios.
Kahn afirma que a empresa pagou pelo estudo sobre roubos a condomínios.
A Emplasa diz que não há mais diretores na empresa da época do contrato com a Angra (2008 e 2009) e que a diretoria atual não conhece o assunto para se pronunciar. A Agemcamp não quis comentar o caso.
A Secretaria da Segurança Pública afirma que só vai se pronunciar após a publicação da reportagem. (MCC)





Alckmin afasta funcionário por venda de dados sigilosos


Atualizado às 13h03.

DE SÃO PAULO


O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afastou nesta terça-feira o sociólogo Túlio Kahn. Reportagem publicada na edição de hoje da Folha mostra que ele vende serviços de consultoria nos quais colocava à disposição de empresas dados sigilosos sobre a violência no Estado.


Estatístico do Estado vende dado sigiloso

"Ele [Kahn] fez um bom trabalho nessa área de estatísticas, de interpretação dos índices de segurança de São Paulo. É um profissional competente. Mas essa atividade empresarial dele é incompatível com o cargo que ocupa. Então, será substituído hoje de suas funções", afirmou o governador.

De acordo com Alckmin, ainda não está estabelecido quem ocupará o cargo de Kahn. "Conversei hoje com o secretário da Segurança Pública, o Ferreira Pinto, e com calma ele vai escolher um substituto".

Desde 2003, Kahn era coordenador da CAP (Coordenadoria de Análise e Planejamento), o órgão da Secretaria da Segurança Pública que concentra todas as informações estatísticas sobre violência. Já atravessava três governos na função. Havia sido nomeado para o cargo pelo secretário Saulo de Castro, no governo de Geraldo Alckmin (2003-2006).

Como sócio da Angra Consultoria, Kahn repassa a clientes informações cuja divulgação é vetada, "para não alarmar o público".

Entre elas, estão que tipo de bens são levados com maior frequência em assaltos a condomínios de São Paulo e quais os furtos mais comuns na região de Campinas. Os contratos da Angra chegam a até R$ 250 mil.

O levantamento sobre roubo a condomínios foi feito a pedido do Secovi (sindicato das empresas imobiliárias de São Paulo) e pago pela GR, uma das maiores empresas de segurança do Estado, segundo o próprio Kahn relatou à Folha. A GR nega ter feito pagamentos à Angra.

Kahn afirma que jamais violou dados da secretaria. Segundo Kahn, foi o próprio Estado que sugeriu que ele abrisse uma empresa para cobrar por certos projetos, pois seu salário era baixo. Alckmin nega. "Imagina se o governo vai recomendar alguém para ter uma atividade paralela", disse.

ESTATÍSTICAS

Parte das informações criminais no Estado é publicada trimestralmente, de acordo com a resolução 160, que criou em 2001 as regras para divulgação de estatísticas.

A divulgação, porém, não inclui dados estratégicos, como o local do crime. Com isso, não dá para se saber a rua onde se mata mais na cidade de São Paulo ou as faculdades que concentram o furto de veículos. Não há esse veto para a clientela da Angra.

PREÇOS

Os valores dos contratos da empresa de Kahn variam de R$ 80 mil a R$ 250 mil.

Por exemplo: um projeto de pesquisa que ensina prefeituras a fechar bares para reduzir a violência, que inclui acesso a dados sigilosos de boletins de ocorrência, está orçado em R$ 100 mil.

Apenas uma empresa com livre trânsito no governo poderia oferecer "visitas às delegacias para consulta aos boletins de ocorrência". Delegacias vetam a consulta a boletins sob o pretexto de que haveria violação da intimidade das vítimas.

Em outro projeto em que a Angra aparece como intermediária, o Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo paga R$ 7.000 a dois funcionários para produzir estatísticas sobre roubo de cargas dentro da CAP. O sindicato diz que o acordo é legal.



Em 1 de março de 2011 14:10, Luiz Sergio Vaz <luizvaz@sarah.br> escreveu:
Boa tarde.

Um estatístico daqui de MG postou o link dessa reportagem, cuja manchete chama a nossa atenção. Porém, é citado no início do texto que o suposto infrator é um sociólogo. A Folha poderia esclarecer o que ocorreu ?

Estatístico do Estado vende dado sigiloso
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/882552-estatistico-do-estado-vende-dado-sigiloso.shtml
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