[Prévia] [Próxima] [Prévia por assunto] [Próxima por assunto]
[Índice cronológico] [Índice de assunto]

Deu no Estadão



O ESTADO DE SÃ PAULO, 13 de marçde 2011

Obrigado, mas preferi outra

Dos aprovados para a USP, 2562 desistiram. Explicaçs oficiais e de cursinhos nada explicam


Josée Souza Martins - O Estado de S.Paulo

Dos aprovados no vestibular da Fuvest cujos nomes constavam da primeira lista de convocados para matríla, na capital e no interior, 24%, por algum motivo, deixaram de matricular-se em diferentes cursos da USP e desistiram de suas vagas. Uma segunda chamada foi feita e jágora uma terceira. Pode parecer estranho que 2.562 pessoas aprovadas para ingresso na mais prestigiosa universidade brasileira e uma das cerca de 200 mais importantes do mundo tenham desistido do priviléo por nada. As razõapresentadas tanto pela USP quanto pelo MEC e pelos cursinhos, na verdade, nada explicam: multiplicaç de vagas nas universidades federais, escolha de vagas com base nos resultados do Enem e as bolsas concedidas pelo ProUni para ingresso em escolas superiores particulares. Esses seriam, eventualmente, motivos para nãtentar o vestibular na USP, porque mais seletivo. Mas nãos motivos para obter uma vaga atravédo vestibular mais exigente e depois recusáa.

Os 13% de desistêia semelhante, em 2005, jáepresentavam uma incóta que pedia estudos e pesquisas, sobretudo para sustentar medidas de economia de recursos púos no supostamente mau investimento em vagas que nãserãpreenchidas ou o serãcom estudantes que nãobtiveram o melhor resultado no processo seletivo. Ou entãpara desenvolver uma economia mais ampla de apoio a alunos que estãingressando ao mesmo tempo na idade adulta e na universidade e relutam em assumir um compromisso que poderáustar-lhes mais do que podem, apesar de universidade púa e gratuita.

Notía da Folha de S. Paulo informa que, dos 19 cursos com íice superior a 40% de renú àatríla, 16 estãno interior. Váos sãos fatores que podem contribuir para a desistêia. O mais provál é de que os candidatos tenham feito inscriç em mais de um vestibular e em outros cursos de seu maior interesse em outras universidades. Dos inscritos no vestibular de 2009, 68% pretendiam fazêo tambéem outras universidades, incluís as púas.

Renús têhavido atém cursos de grande procura, na capital. Dos trêcursos de maior procura e de maior prestío, direito, engenharia e medicina, nãfoi propriamente pequeno o íice de renú ao direito de matríla na primeira chamada ? respectivamente 11,6%, 19,7% e 5,7%. Todos cursos de alta disputa pelas vagas, com respectivamente 19, 14 e 49 candidatos por vaga. Seria, portanto, temeráo inferir desses indicadores que haja excesso de oferta de vagas em relaç àemanda. Sabemos todos que a universidade nãém supermercado, cuja dinâca siga as oscilaçs do gosto e do consumo. Ao contráo, ela tem se antecipado àrocura, oferecendo formaç em funç das carêias que sãas da próa produç e distribuiç do conhecimento. Éo que a USP tem feito com as novas licenciaturas para formaç de docentes para o ensino méo em campos mais abrangentes da ciêia.

A pesquisa que a Fuvest fez entre os vestibulandos, em 2010, mostra a proporç dos que se inscreveram em primeira opç em determinado curso. Em direito, o curso foi primeira opç para 57,9% dos inscritos para o diurno e apenas para 28,9% dos aprovados para o noturno. Medicina, o curso com maior nú de candidatos por vaga, nãfoi primeira opç para 11,4% dos vestibulandos que para ele se inscreveram. E engenharia da produç, na Escola Politéica, foi primeira opç para 41% dos aprovados. Ser chamado para um curso de segunda e terceira opç certamente representa uma frustraç suficiente para estimular a renú àaga e até evasãposterior.

Uma universidade como a USP vai aléda graduaç. Envolve um complexo de compromissos e projetos també e sobretudo, na pesquisa e na póraduaç. O prestío da USP éedido por critéos que envolvem esse conjunto denso: os resultados das pesquisas, as publicaçs, as participaçs de seus pesquisadores em reuniõcientícas dentro e fora do Brasil, a formaç de novos doutores. Nãéasual que a USP esteja praticamente entre as 200 mais importantes universidades do mundo, no ranking do Times Higher Education, de Londres. Com o esclarecimento da instituiç que o prepara de que ela estáuito perto de retornar àista: no ranking de 2005 a USP estava em 196º lugar e em 2007 em 175º lugar. A instituiç sublinha que ela "esteve muito perto de entrar na lista das 200 instituiçs deste ano". E destaca que, no Brasil, provavelmente, apenas no Estado de SãPaulo hániversidades de classe internacional. Lembro que a USP, a Unicamp e a Unesp têdocentes em tempo integral, com doutorado, significativo desempenho em pesquisa e fundos adequados do governo, o que se deve sobretudo àapesp. O deslocamento da USP e de muitas outras universidades do mundo se deve ao aumento da competiç pelas melhores colocaçs. A Alemanha emplacou apenas trêuniversidades entre as cem primeiras.

JOSÉDE SOUZA MARTINS, PROFESSOR EMÉITO DA UNIVERSIDADE DE SÃ PAULO, ÉAUTOR DE A SOCIABILIDADE DO HOMEM SIMPLES (CONTEXTO)