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Re: [ABE-L]: artigo FSP



Caramba!!??

Em 23 de março de 2011 12:11, Lisbeth Cordani <lisbethk@terra.com.br> escreveu:
 
Vejam a ideia  que é passada para o leitor (que em sua grande maioria desconhece o que é Estatística e o seu papel nas pesquisas) através do artigo de Hélio Schwartsman (articulista da Folha SPaulo) no último dia 21 março (Cotidiano).
 
Estatísticas são exatas, mas as interpretações humanas, não”.
 
“A boa notícia é que a estatística é inocente. Ela continua sendo uma ciência exata...”
 
etc...
 
 

ANÁLISE

Estatísticas são exatas, mas as interpretações humanas, não

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

A chamada medicina baseada em evidências se funda na estatística, a qual, sendo uma ciência exata, deveria ser capaz de nos fornecer algumas certezas, como responder de uma vez por todas se a terapia de reposição hormonal deve ser utilizada.
No mundo real, contudo, não só não encontramos tal nível de precisão como ainda topamos com trabalhos que desmentem o consenso da semana anterior para, alguns meses depois, serem eles mesmos questionados por outros estudos.
A boa notícia é que a estatística é inocente. Ela continua sendo uma ciência exata. O problema é que nós, seres humanos (médicos incluídos), não somos muito bons em processar as informações que ela nos fornece.
Dizemos que um trabalho tem significância estatística quando é improvável que seus resultados tenham sido produzidos só pelo acaso.
Mas o que entendemos por "improvável"? Evidentemente, é impossível ter 100% de certeza. De modo geral, quando temos 99% de significância ou mesmo 95%, nos damos por satisfeitos e afirmamos haver evidências em favor da nossa hipótese.
A questão é que raramente olhamos para o reverso desse número. No caso da significância em 95%, de cada cem testes que fizermos, a estatística prevê que cinco estarão fora de alcance, podendo apresentar qualquer resultado. Num mundo que produz milhares de trabalhos científicos por semana, é uma questão de tempo até que surja um estudo que contradiz os anteriores.
A "solução" da comunidade médica tem sido apostar nas metanálises, nas quais se avaliam grupos de estudos mais ou menos parecidos.
E as sutilezas da estatística não são o único nem o maior problema. Por vieses neurológicos diversos, as pessoas (médicos inclusive) dão mais valor a instintos e percepções afetivamente determinadas que a dados científicos.
Em "O Andar do Bêbado", o físico Leonard Mlodinov conta a história de um importante médico que, ao comentar um trabalho de US$ 12,5 milhões, que praticamente demonstrava que a popular combinação dos suplementos alimentares glucosamina e condroitina não era melhor do que placebos na prevenção da artrite, insistiu em afirmar que o tratamento era possivelmente benéfico.
Seu argumento, registrado nos arquivos da rádio pública dos EUA: "Uma das médicas da minha mulher tem um gato e ela diz que o gato não se levanta de manhã sem uma dose de glucosamina e sulfato de condroitina".
Se em situações normais já é difícil trocar nossos instintos selvagens pelas abstrações dos estudos controlados, isso fica quase impossível quando esses instintos são reforçados pelos cheques da indústria farmacêutica.

 



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