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Em paralelo com o pai



Minha argumentação aqui vai à direção oposta a dos meus colegas por olhar do ponto de vista de um pai que deseja que o filho tenha mais chance de sucesso na sociedade.

Creio ser de grande importância para um pai ter a convicção que se seu filho fosse esforçado teria grande chance de sucesso na sociedade atual. A profissão de estatística ainda é desconhecida por grande parte das empresas que atuam na sociedade. Muitos sabem da importância do trabalho estatístico, mas a maioria não têm a informação de que existem profissionais preparados para as tarefas estatísticas. Confundem-se problemas estatísticos com problemas matemáticos. Pelo menos 95% da sociedade - tanto empresarial como social - nos desconhece. Não por culpa deles, mas por nossa própria culpa. Um amigo empresário veio dar uma palestra para a gente aqui no IME e a primeira coisa que disse foi ?Quem sabe da existência de vocês como grupo atuante??.

Vou pedir ao leitor que faça uma experiência e pergunte a qualquer aluno do quarto ano de curso de estatística para dar uma definição do que seja estatística como área e estatístico como profissão: Vão ter uma grande decepção.

Nossos cursos pouco fazem para dar ênfase à fundamentos: dão muito mais à métodos. Adicione ao seu questionamento a pergunta ?O que é ser um bom estatístico??. Se a resposta for ?é aquele que mais conhece métodos? então fique certo que o CD do SPSS é melhor estatístico do que o entrevistado.

Um pai sabe o que um engenheiro faz: por exemplo, constrói pontes, controla qualidade, ajuda a produzir peças em uma fábrica, etc. Este mesmo pai sabe o que seja um médico: ajuda a salvar vidas, ajuda a curar uma doença, pensa como pode eliminar uma epidemia etc. Um pai sabe muito bem o que é ser um advogado: um defensor dos direitos do cidadão, um produtor de leis inteligentes que ajuda aos mais necessitados etc. Mas esse mesmo pai não consegue que o filho lhe diga em poucas palavras o que o estatístico faz. Demorei alguns anos de minha vida para achar minha definição: www.ime.usp.br/~cpereira.

Profissões como engenharia ou medicina dão ao indivíduo uma cultura muito superior ao que damos aos nossos alunos os quais ficam restritos aos métodos (inúmeros) para análise de dados ou de experimentos, como também é o caso de um curso de administração. Os dois cursos se prendem aos métodos ótimos de melhor desempenho sem explicarem os fundamentos da construção de um método ótimo.

Minha experiência é que ao chegar ao último ano o aluno muitas vezes nem construiu uma função de verossimilhança. Ficam surpresos quando verificam que uma função de verossimilhança de uma binomial é uma função contínua enquanto a distribuição amostral é discreta. Ficam ainda mais surpresos quando verificam que a função de verossimilhança de uma uniforme em (0;teta) se inicia no ponto que sua função amostral termina. Todos, no entanto, aprenderam a apertar botões para resolver questões intrincadas de análise multivariada por exemplo.

Acho que o pai de nosso correspondente tem mesmo razão pois já entendeu que para passar a produzir pesquisa seu filho vai ter que ?comer muita grama?.

O melhor seria ter o curso de estatística como complemento de cursos de formação mais densa como é o caso da Física, da Química, da Engenharia ou mesmo da Medicina.
Saudações
Carlinhos

Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>