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Re: [ABE-L]: olha a vernácula



Com todo o respeito e admiração, penso que o poeta Ferreira Gullar deveria ter lido o livro antes de se pronunciar.
Abraços.

2011/5/29 Francisco Cribari <cribari@gmail.com>
Assunto correlato...


Folha de São Paulo, 29 de maio de 2011

FERREIRA GULLAR 

Verdade e preconceito 


Pensava que escritor não deveria escrever errado; li só gramáticas por dois anos ao suspeitar que seria poeta

TENHO COMENTADO aqui o fato de que, para alguns linguistas, nunca há erro no uso do idioma: tanto faz dizer "problema" como "pobrema" que está certo. Confesso que, na minha modesta condição de escritor e jornalista, surpreendo-me, eu que, ao suspeitar que poderia me tornar poeta, passei dois anos só lendo gramáticas. E sabem por quê? Porque acreditava que escritor não pode escrever errado.
E agora descubro que ninguém escreve errado nunca, pois todo modo de escrever e falar é correto! Perdi meu tempo? Mas alguma coisa em mim se nega a concordar com os linguistas: se em todo campo do conhecimento e da ação humana se cometem erros, por que só no uso da língua não? É difícil de engolir.
Essa questão veio de novo à baila com a notícia de um livro, adotado pelo Ministério da Educação e distribuído às escolas, em que a autora ensina que dizer "os livro" está correto. Estabeleceu-se uma discussão pública do assunto, ficando claro que, fora os linguistas, ninguém aceita que falar errado esteja certo.
Mas não é tão simples assim. Falar não é o mesmo que escrever e, por isso, falando, muita vez cometemos erros que, ao escrever, não cometemos. E às vezes usamos expressões deliberadamente "erradas" ou para fazer graça ou por ironia. Mas, em tudo isso, está implícito que há um modo correto de dizer as coisas, pois a língua tem normas.
O leitor já deve ter ouvido falar em "entropia", uma lei da física que constata a tendência dos sistemas físicos para a desordem. E essa tendência parece presente em todos os sistemas, inclusive nos idiomas, que são também sistemas.
Devemos observar que as línguas, como organismos vivos que são, mudam, transformam-se, como se pode verificar comparando textos escritos em épocas diferentes. Há ainda as variações do falar regional, que guarda inevitáveis peculiaridades e constituem riqueza do idioma.
Mas isso não é a mesma coisa que entropia. Já violar as normas gramaticais é, sim, caminhar para a desordem. Se isso é natural e inevitável, é também natural o esforço para manter a ordem linguística, que não foi inventada pelos gramáticos, mas apenas formulada e sistematizada por eles: nasceu naturalmente porque, sem ela, seria impossível as pessoas se entenderem.
Na minha condição de "especialista em ideias gerais" (Otto Lara Resende), verifico que, atualmente, não só na linguística, tende-se a admitir que tudo está certo e, se alguém discorda dessa generosa abertura, passa a ser tido como superado e preconceituoso.
Agora mesmo, durante essa discussão em torno do tal livro, os defensores da tese linguística afirmaram que quem dela discordava era por preconceito.
Um dos secretários do ministro da Educação declarou que aquele ministério não se julgava "dono da verdade" e que, por isso mesmo, não poderia impedir que o livro fosse comprado e distribuído às escolas.
Uma declaração surpreendente, já que ninguém estava pedindo ao ministro que afirmasse ou negasse a existência de Deus, e sim, tão somente, que decidisse sobre uma questão pertinente à sua função ministerial.
Não é ele o ministro da Educação? Não é ele responsável pelo rumo que se imprima à educação pública no país? Se isso não é de sua competência, é de quem? De fato, o que estava por trás daquela afirmação do secretário não era bem isso, e sim que a crítica ao livro em discussão não tinha nenhum fundamento: era mero preconceito. Ou seja, simples pretensão de quem se julga dono da verdade que, como se sabe, não existe...
Esse relativismo, bastante conveniente quando se quer fugir à responsabilidade, tornou-se a maneira mais fácil de escapar à discussão dos problemas.
Certamente, não se trata de afirmar que as normas e princípios que regem o idioma ou a vida social estejam acima de qualquer crítica, mas, pelo contrário, devem ser questionados e discutidos. Considerar que todo e qualquer reparo a este ou aquele princípio é mero preconceito, isso sim, é pretender que há verdades intocáveis.
Não li o tal livro, não quero julgá-lo a priori. Creio, porém, que quem fala errado vai à escola para aprender a falar certo, mas, se para o professor o errado está certo, não há o que aprender. 



2011/5/29 Marcelo L. Arruda <mlarruda@ime.usp.br>

    Se me permitem, esse assunto me lembra muito a discussão que volta e meia ressucita nos meios esportivos sobre a adequação/correção ou não dos termos "bicampeão", "tricampeão", "tetracampeão" etc. para conquistas não consecutivas.
 
    Em 1998, quando a expectativa da população brasileira era pela conquista do pentacampeonato mundial na França, muitos defendiam que, tendo vencido a Copa em 1994 e perdido em 1990, o Brasil poderia no máximo ser bicampeão naquele torneio.
 
    Às vésperas da famigerada final, o prof. Pasquale Cipro Neto publicou uma coluna na Folha de São Paulo argumentando com perfeição (embora eu ache mais abrangente somar àquele argumento uma linha paralela de raciocínio não abordada naquela coluna) a favor de que era, sim, aceitável/correto utilizar o termo pentacampeão caso o Brasil vencesse aquela Copa.
 
    Depois desse episódio, eu, que já tinha o prof. Pasquale em altíssima conta, passei a tê-lo como parâmetro de correção. Entre os extremos da ortodoxia exagerada dos lingüistas do tempo do ph e a liberalidade exacerbada dos gramáticos do século XXI, o prof. Pasquale me parece ser o melhor ponto médio possível.
 
    E eis que, nesta virada de 2010 para 2011, nas proximidades da eleição e da posse de Dilma Rousseff, nova coluna do prof. Pasquale é publicada autorizando o uso da palavra "presidenta"! Agora, para mim, não há mais discussão sobre o assunto: "presidente" e "presidenta" são igualmente aceitáveis e ponto final.
 
    A quem interessar posso linkar ou enviar as citadas colunas e a minha linha de raciocínio paralela (acerca da adequação do termo pentacampeão para quem ganha cinco títulos não necessariamente consecutivos).
 
Marcelo
----- Original Message -----
Sent: Sunday, May 29, 2011 1:34 AM
Subject: Re: [ABE-L]: olha a vernácula

Apesar da palavra "Presidenta" me desagradar, o português está correto. 
Existem ambas as palavras "Presidente" e "Presidenta" e, neste caso, ambas seriam adequadas.

2011/5/28 <cpereira@ime.usp.br>
Acabo de receber essa mensagem que gostaria de passar para osredistas.
Desculpem-me se já tinham recebido essa mensagem anteriormente.
Carlinhos


O "Aurélio" deve estar se remoendo no seu túmulo...





"SUA EXCELÊNCIA, A SENHORA PRESIDENTA DILMA"

Agora, o Diário Oficial da União adotou o vocábulo presidenta nos atos e despachos iniciais de Dilma Rousseff.

As feministas do governo gostam de presidenta e as conservadoras (maioria) preferem presidente, já adotado por jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão, final os veículos de comunicação tem a ética de escrever e falar certo.

* * *

Na verdade, a ordem partiu diretamente de Dilma: ela quer ser chamada de Presidenta. E ponto final.

Por oportuno, vou dar conhecimento a vocês de um texto sobre este assunto e que foi enviado pelo leitor Hélio Fontes, de Santa Catarina, intitulado ?Olha a Vernácula"

Vejam:

No português existem os particípios ativos como derivativos verbais.
Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante.

Qual é o particípio ativo do verbo ser? O particípio ativo do verbo ser é ente.
Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.

Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte. Portanto, à pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha.

Se diz capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz a estudante, e não "estudanta"; se diz a adolescente, e não "adolescenta"; se diz a paciente, e não "pacienta".

Um bom exemplo seria:

"A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizantas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta."

Assim ela pareceria mais inteligenta e menos jumenta.









Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>



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Rodolfo Lourenzutti

Mestrando em Estatística pela UFMG.
Bacharel em Estatística pela UFES.




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Francisco Cribari-Neto, cribari@gmail.com, http://sites.google.com/site/cribari



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Vermelho
F.: (21) 2501 2332 - casa
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