Mensagem do Professor Ubiratan D`Ambrósio à
Sociedade Brasileira de Educação Matemática.
A parte final do último parágrafo é específica, o
restante serve de reflexão:
"Aos queridos professores e queridas professoras, em seu dia"
Colegas,
Mais uma vez comemoramos nosso dia. Desde minha infância lembro-me, sendo filho
de professor, de ter a data lembrada pelos meus pais. Depois, quando aluno, o
diretor da escola falava algo sobre a data e sobre a importância do professor
na sociedade, aplaudíamos e íamos para as aulas como em qualquer outro dia... O
tempo foi passando e a data tomou um caráter de festividade e ao mesmo tempo de
convite para uma reflexão sobre nossa condição profissional e para
reivindicações.
Com mais de 60 anos de carreira, sempre me considero feliz por ter me tornado
professor. Se recomeçasse a vida, faria a mesma opção. O que não exclui minha
reflexão, muitas vezes entristecedora, sobre o estado atual da nossa profissão
e sobre o risco de desencanto de muitos colegas.
Recordo minha história de vida. Comecei a dar aulas com 16 anos. Eram classes
informais, de preparação de alunos para concurso público. Os alunos sempre se
lembravam de ser dia do professor e levavam algo para comemorar. Mas eu não
percebia, ainda, que eu não estava sendo um professor no verdadeiro sentido da
palavra, isto é, um educador. Eu estava
treinando indivíduos, adultos e já educados para irem bem nos concursos. Eles
geralmente se saiam bem e eu me sentia realizado. Somente alguns anos depois,
quando acabei de completar vinte anos, assumi aulas em classes regulares, do
curso ginasial e do colegial, nas quais alguns alunos tinham quase a minha
idade. Percebi então que minha missão ia muito além de treinar alunos para
passar numa prova. O importante é educar para a vida, para ser um participante
ativo na sociedade e estimular a criatividade. Assim superei agir como um
professor/treinador e entendi que minha responsabilidade maior era ser um
educador.
Estamos passando por uma fase difícil na profissão. Há uma grande incompreensão
sobre nossa missão. Somos vistos pelas autoridades, pelos pais, pelos alunos e
mesmo por alguns colegas como treinadores de jovens para passar em exames.
Nessa visão distorcida de missão do professor, quando os resultados são ruins a
culpa é dos professores. Sabemos que a causa do baixo rendimento é a própria
conceituação de exames e testes padronizados como instrumentos de avaliação da
educação. A situação é particularmente grave na disciplina matemática.
Não desanimem com essa incompreensão. Não posso nesta mensagem analisar essa
injustiça com o trabalho dedicado e competente da classe docente, mas posso
convidar os colegas a entenderem o mundo dos jovens. Deem a eles a oportunidade
de serem criativos e procurem acompanhá-los.
Façam com que a parafernália de que os alunos dispõem seja sua parceira
na busca do novo, no desenvolvimento de projetos. A matemática será uma das
disciplinas mais afetadas por transformações que resultam de toda a tecnologia
disponível. Procurem acompanhar as novas direções que a matemática está
tomando. Estejam alertas às publicações e aos eventos. A grande parceira dos
educadores matemáticos é a Sociedade Brasileira de Educação Matemática.
Aproveitem a riqueza das publicações dos eventos organizados pela SBEM e as
suas várias possibilidades de acesso e links oferecidos pelo seu site. A
tecnologia amplamente disponível trará a valorização do professor.
Abraços solidários nesse nosso dia.
Professor Ubiratan D`Ambrósio
Presidente honorário da SBEM
Kleber N. N. O. Barros
DOUTORANDO: PPGBEA-UFRPE
PROF. TEMPORÁRIO: LM-UFRPE