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Re: [ABE-L]: Sobre : MEC, ENEM, TRI
- Subject: Re: [ABE-L]: Sobre : MEC, ENEM, TRI
- From: Heliton Tavares <heliton@globo.com>
- Date: Sun, 22 Jan 2012 18:41:09 -0300
Caio,Foi uma grande honra ver meu nome citado em uma email seu, particularmente por ter sido, ainda na Graduação, seu monitor em uma disciplina, o que contribuiu bastante para a minha vida Acadêmica. Fica aqui o meu primeiro "Muito Obrigado".
Ressalto aqui um ponto de seu email, a defesa técnica da Estatística. As palavras do Dalton, depois complementadas por algumas minhas, visaram unicamente a informação sobre a metodologia TRI, que ainda não é vista na maioria das nossas graduações. Em momento algum tivemos por objetivo principal a defesa do MEC, Inep ou Enem, mas sim da TRI e da Estatística. Uma intervenção certamente apolítica. Este ponto foi relevado no seu email, e aqui destaco o meu segundo "Muito Obrigado".
A TRI está no Enem por obra, graça ou culpa, dos Estatísticos que participavam do Inep à época da mudança, e houve uma consulta à vários outros para construir uma decisão consensuada. Mas é fato que mesmo em uma comunidade pequena como a nossa, raramente haverá unanimidade, e o processo é lento, muito lento. Por isso é muito importante ter membros da Comunidade da sua importância nos dando esse apoio. Meu terceiro "Muito Obrigado".
A Avaliação Educacional, reservadamente consolidada, faz e fará parte da vida de muitos Estatísticos. No entanto, ainda há muito a melhorar, e temos esse dever. Tenho certeza que um domínio maior das metodologias empregadas, bem como avaliações mais pontuais, nos ajudarão a construir os mecanismos necessários à melhoria da qualidade da Educação Brasileira, em todos os níveis.
Acho que, a médio prazo, as discussões técnicas amenizarão se incluirmos em nossas graduações alguma iniciativa de divulgação, sejam disciplinas ou vias alternativas. Ou outros ocuparão esse espaço.
Um forte abraço a todos,
Héliton Tavares
Em 21 de janeiro de 2012 23:00, Carlos Caio Dantas
<caio@ime.usp.br> escreveu:
Carlos A B Dantas <caio@ime.usp.br>
Sobre Mec Enem e Tri
Caros redistas
As exposições do Dalton e do Heliton sobre a aplicação da TRI para avaliação das provas no Enem fornecem um bom ponto de partida para as discussões sobre os métodos estatísticos utilizados, pois se atem aos aspectos conceituais e técnicos e não se contaminam por viés ideológico ou político.
A meu ver nossos colegas estatísticos que trabalharam e trabalham para o INEP construindo um sistema de avaliação de habilidades e conhecimentos para as provas do Enem baseado na TRI vem fazendo um bom trabalho . Do ponto de vista conceitual e técnico houve um enorme avanço nessa área.
Em algumas mensagens na rede há, a meu ver, uma confusão entre abordar a avaliação do ponto de vista político e do ponto de vista de política partidária. Em geral a política educacional é delineada no programa do partido ou coligação que disputa o governo. Empossado o novo governo a política educacional formulada passa a ser uma política de governo e como tal deve ser acompanhada criticamente por todo cidadão, pois não fazê-lo equivaleria a abdicar da cidadania.
Os processos de avaliação dos sistemas de ensino no Brasil iniciaram-se no governo FHC tendo Paulo Renato como Ministro da Educação e Maria Helena Guimarães Castro como presidente do INEP. A primeira iniciativa de avaliação do ensino médio foi feita através do provão em 1996. Na USP questionamos o fato de a avaliação basear-se em uma única prova, bem como o fato de não ser explicitado como os resultados dessa provão seriam utilizados na avaliação do ensino médio..
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado pelo Ministério da Educação do Brasil em 1998,no governo FHC, como um sistema para avaliar anualmente as instituições de ensino médio no Brasil através de provas aplicadas aos alunos das escolas brasileiras. Um sistema de avaliação como o Enem é complexo e tem muitos componentes entre os quais pode-se citar: Elaboração das questões , impressão das mesmas, locais de realização das provas; gráficas onde são impressas; armazenamento das provas até o dia dos exames; distribuição nos locais dos exames; coleta, guarda e distribuição aos responsáveis pela correção só para citar alguns aspectos ou etapas. As provas são aplicadas em todo o território nacional em que a disparidade de condições é muito grande em quase todos os sentidos.
A logística para realizar uma prova nessas condições é a meu ver a questão fundamental para que seja garantido o sigilo no sistema e a fortiori sua confiabilidade. Deveriam ser utilizadas experiências de sistemas ou organismos que por vários anos realizaram os vestibulares em universidades brasileiras.Um exemplo de um órgão que não apresentou falhas de segurança ao longo dos anos que realizou os vestibulares da USP, e de instituições que participaram do mesmo, é fornecido pela Fundação Universitária para o Vestibular ( Fuvest) .
Não temos dúvida que houve méritos ao se procurar construir um sistema de avaliação para o ensino médio no governo FHC . No entanto ocorreu simultaneamente nesse governo a criação indiscriminada de faculdades e universidades privadas sem o menor controle. Com base nos resultados do Enem era exibido um ?ranking? das Faculdades. Se não me engano as notas atribuídas tinham um caráter comparativo e não absoluto. Mesmo assim quase nenhuma medida foi tomada no sentido de descredenciar Faculdades com nota baixa, sendo quase sempre dadas oportunidades para corrigir os problemas, sem haver uma cobrança efetiva do cumprimento das exigências. Alem disso a criação indiscriminada de novas faculdades ou universidades continuou.
A partir de 2008 no segundo mandato do presidente Lula o Enem passou a ser utilizado como exame de acesso ao ensino superior em universidades públicas brasileiras . Certamente esse foi o maior êrro do governo, pois até então o Enem apesar de servir para estabelecer o ?ranking? das escolas não trazia grandes problemas pois como já dissemos esse ?ranking? não era praticamente usado. No momento em que o Enem passa a determinar quem entra na Universidade a situação muda completamente e as falhas de logistica passam a ser exploradas por fraudadores.
Outros problemas tem surgido no Enem,como por exemplo a correção das redações, mas este me parece de solução mais fácil. O grande problema do Enem é sem dúvida a logística global do exame. Mencionamos que no governo FHC houve uma criação indiscriminada de faculdades e universidades de nível baixo nível. No governo Lula uma idéia muito boa como o ProUni esta tendo efeitos adversos , pois esta provocando uma enorme sangria nos recursos publicos através da tranferência desses recursos para concessão de bolsas , para estudantes pagarem anuidadades em faculdades ou universidades de baixo nível do setor privado. A correção dessa distorção nos parece uma medida urgente.
È necessário coibir a mercantiliação do ensino em todos os níveis no Brasil.
Carlos Caio Dantas
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Atenciosamente,
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Prof. Dr. Héliton Ribeiro Tavares
Faculdade de Estatística
Universidade Federal do Pará
Fone: (91) 3201-8263/8053, Fax (91) 3201-7415, E-mail:
heliton@ufpa.br******************************************************************************