[Prévia] [Próxima] [Prévia por assunto] [Próxima por assunto]
[Índice cronológico] [Índice de assunto]

Re: [ABE-L]: pobres alunos





 

 

 

Nunca houve uma greve de docentes  que tenha paralisado todas as atividades, até porque pensar é uma atividade inerente ao ser humano e  supostamente fundamental para atividade de professores. O autor do artigo “Pobres Alunos”, por exemplo, ao se deparar com a não adesão à greve de setores docentes envolvidos com a pós-graduação e/ou projetos, conclui que a greve é falsa e injusta, pois prejudica os graduandos e foi decretada por um punhado de professores, dentre os quais um número não especificado de aposentados.

Vou varar o cordão dos piqueteiros mentais e me arriscar a enunciar outra hipótese - Quem está cometendo a injustiça? Os professores que não foram à assembléia, ou aqueles que lá compareceram, inclusive os aposentados, pois se tratava de uma convocação da seção sindical e não do colegiado do departamento? A menção aos aposentados é um ato falho do autor, que é um aposentado do IPEA. Ou seja, um professor aposentado da UFF não pode ir a uma assembléia de seu sindicato, mas um aposentado do IPEA pode ser professor da UFF e mandar os seus ex-docentes para casa...

O que está ocorrendo  nas universidades federais é muito maior que o próprio sindicato. São as dores do aborto e não do parto, contrariando o atual Ministro da Educação, que está tendo que lidar com a herança maldita de seu antecessor.  É justamente devido às enormes tensões provocadas pelo REUNI, aliadas às perdas salariais que a greve vem contando com crescente adesão, espalhando-se inclusive por outros setores do funcionalismo federal do Poder Executivo.

Soluções coletivas são muito complicadas, nas universidades federais uma alternativa foi criar um mundo a parte para a pós-graduação e projetos. Mas é claro que esse mundo é bem menor e não comporta nem 25% dos docentes ou 10% dos alunos, e também está longe de ser um paraíso. Portanto, a disputa é por maior parte da renda nacional para a educação. Infelizmente, a academia não vai unida para essa briga, há aqueles que não querem arriscar o conforto alcançado e há os que temem perder o pescoço.

Nos próximos dias as atenções vão estar voltadas para a Rio+20, com presença maciça da imprensa mundial,  autoridades e lideranças de todo o mundo. Pode ser uma oportunidade para o movimento, pode ser o seu ocaso. Vai depender da percepção dos seus atores que devem mostrar para a sociedade que sem educação não há chance para um planeta sustentável.

 

 

 
 
 
 
 
Em 11 de junho de 2012 20:35, <cpereira@ime.usp.br> escreveu:
Recebemos essa mensagem do Professos Setzer e acho que vale a leitura e a reflexão.
Um abraço
carlinhos

Olá a todas/os,

Achei certos argumentos do artigo abaixo dignos de reflexão, por isso compartilho com vocês.


aaaaaaaaaaaaaa, Val.
--
Valdemar W. Setzer - Dept. of Computer Science, University of São Paulo
http://www.ime.usp.br/~vwsetzer - please REPLY TO vwsetzer@ime.usp.br
++++++++++++++++

---------- Forwarded message ----------
From: Simon Schwartzman <simon@schwartzman.org.br>
Date: 2012/6/11
Subject: [Sitesimon] [Simon's Site] Claudio Considera: Pobres Alunos
To: Site simon <sitesimon@lists.schwartzman.org.br>




Simon's Site


Claudio Monteiro Considera: Pobres Alunos
Posted: 10 Jun 2012 11:45 PM PDT
Recebi o texto abaixo de Claudio M. Considera, professor de economia da Universidade Federal Fluminense:

Pobres Alunos

Os professores da Universidade Federal Fluminense estão em greve junto com os de outras 44 universidades federais. Reclamam pelo cumprimento de um acordo celebrado com o governo anterior que, além de promover um reajuste salarial escalonado, cuja última parcela foi recentemente determinada por uma Medida Provisória, previa a elaboração de um novo plano de carreira docente que redundará em novos reajustes salariais. Os demais itens de pauta são os acessórios de sempre: melhoria nas condições de trabalho, rejeição à privatização do ensino superior, etc. O governo já havia anunciado desde o início do ano que não haveria reajustes salariais das carreiras de servidores públicos devido à gravidade da crise internacional e seus impactos na economia brasileira. Do ponto de vista dos reclamantes são justas as reivindicações e por consequência justa a greve para negociá-la com o governo.

O que argumento a seguir é que a greve é falsa, covarde e, portanto injusta. Em primeiro lugar, trata-se de uma greve que paralisa unicamente as atividades docentes dos professores na graduação. Todas as demais atividades desses mesmos professores continuam: os que atuam também na pós-graduação continuam a fazê-lo, pois se as paralisarem, os alunos perdem suas bolsas e os órgãos de financiamento cortam as verbas dos cursos. Em segundo lugar, todas as atividades de pesquisa dos professores continuam: se assim não for o financiamento das pesquisas cessa e o professor perde seu status de pesquisador junto aos órgãos financiadores. Em terceiro lugar, as participações dos professores em seminários, intercâmbios e outros eventos acadêmicos nacionais e internacionais são cumpridos religiosamente, alguns inclusive realizados nas próprias universidades que estão em greve. Em quarto lugar, os professores que ministram aulas nos programas de pós-graduação lato-senso pagos, continuam a fazê-lo, caso contrário não serão pagos e serão cortados do programa. Portanto, trata-se de uma falsa greve.

Mas, é uma greve real para os alunos de graduação que têm seus cursos, sonhos e calendários de vida interrompidos por um período indeterminado. Os prejuízos para esses alunos são irreparáveis. Em primeiro lugar, a interrupção do curso a um mês do seu término deixa em aberto o tema abordado até o início da greve, sem a necessária conclusão que amarra o assunto desenvolvido. Em segundo lugar, a tal reposição das aulas raramente é cumprida na mesma quantidade e qualidade de um curso regular sem interrupção. Em terceiro lugar, formaturas não serão realizadas no período previsto e sem os diplomas os alunos perderão empregos, vagas em cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior, possibilidade de participar de concursos públicos, etc. Em quarto lugar, a greve prejudica principalmente os alunos mais pobres, pois os que podem pagar já optaram por universidades particulares onde sabem o dia da matrícula e o dia da formatura, se seu desempenho for adequado. Isto sim contribui para a privatização do ensino superior. Por isso é uma greve covarde praticada contra um ator sem defesa.

Finalmente cabe uma reflexão sobre o significado de uma greve no setor público, particularmente no sistema de ensino. Lembremos que no setor privado a greve afeta o lucro do empresário que fará uma avaliação entre o reajuste salarial de seus empregados, a redução de seu lucro e de sua capacidade de competir em termos de preços e qualidade com seus concorrentes. No setor público, não existe empresário nem lucro para ser prejudicado. O prejudicado é a sociedade em geral e em particular os alunos (da graduação). Não sei qual a melhor forma de luta; cabe aos dirigentes sindicais pensarem sobre essa questão. Lembro que o último acordo foi negociado por meses sem necessidade de greve.

Outro aspecto é a forma em que tais decisões são tomadas; assembleias minúsculas, em que participam e votam professores aposentados. Quem já participou dessas assembleias sabe que sua direção prolongará sua duração até o tempo necessário para que fiquem presentes aqueles, que a direção do movimento, têm certeza votarão na sua proposta. Qual a representatividade de uma assembleia de 102 professores (incluindo os aposentados) para decidir em nome de mais de 3000 professores como ocorreu na Assembleia da UFF?

Por isso, por ser falsa e covarde trata-se de uma greve injusta.
Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>