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Artigo no Jornal do Commercio de hoje



Em tempo: pelo menos no CCEN, desconfio que não temos biqueiros.


ARTIGOS
De greve. Ser ou não ser?
Juracy Andrade

ju.andrade2010@ig.com.br

Volto, como prometido, ao artigo do professor Gauss Cordeiro (CCEN-UFPE) no JC de 22 de agosto. A propósito de minha condenação a greves feitas contra o povo, que nada têm a ver com greves de trabalhadores contra patrões, recebi apoios e objeções. A questão foi puxada para um lado que não corresponde a minhas críticas. Por exemplo, pelo professor Heitor Scalambrini Costa, que lembra serem as universidades públicas um patrimônio do povo brasileiro. Isso é incontestável A massa crítica de pesquisadores/professores dessas universidades é o que aproxima o Brasil dos países mais desenvolvidos. O que entorta a situação dos docentes públicos do nível superior, neste País, é que, a partir dos anos 1960, sobretudo após a introdução da "educação à Passarinho" pelo golpe militar de 1964, o docente, o pesquisador passaram a ser considerados e a considerar a si mesmos como meros funcionários públicos, e a universidade federal passou a ser mais uma repartição para abrigar cabos eleitorais e filhotes do partido do governo (a Arena). Os reitores eram sempre escolhidos por sua dedicação à causa da ditadura.

Dentro da lógica do professor-funcionário, os docentes não precisam mais se reciclar, produzir, publicar trabalhos científicos. Com honrosas exceções, agarram-se à estabilidade no cargo, que passa a ser um bico a mais. Quando voltei à UFPE, após a Lei de Anistia, encontrei ali até analfabeto que se dizia jornalista e não sabia escrever duas linhas. O prof. Heitor Costa afirma que os casos a que se refere o prof. Gauss Cordeiro, de docentes com dedicação exclusiva que vivem sua peculiar docência como bico, são casos isolados, que não podem ser generalizados. E que isso pode ser levado à autoridade competente e remediado. Como? Vocês conhecem algum caso? Tem aluno que reclama de passar meses sem aula de determinado docente, que de repente aparece afobado e impõe um trabalho a ser feito. Como?, se não foi ensinado. Continuo dizendo que greve contra o que se vê como injustiça do patrão é legítima, não greve contra o povo.

À sua observação sobre o gigantismo e sucateamento das universidades federais, o prof. Gauss Cordeiro acrescenta: "Aqueles professores DE [dedicação exclusiva] que realmente trabalham ganham muito mal, mas aqueles outros que usam a universidade como um mero bico ganham muito bem. Essa distorção precisa ser corrigida, pelas reitorias das universidades, de forma firme. O impasse está criado: urge que o governo seja sensato e aloque mais recursos para a educação pública superior do País, para que seus cursos, que são ofertados a mais de um milhão de estudantes não permaneçam sucateados, e as universidades federais não se transformem em meros formadores de diplomas, como ocorre no ensino superior privado do Brasil".

Juracy Andrade é jornalista