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Re: [ABE-L]: Névoa da greve




Obrigado por seu comentário. Creio que ele dá base para um diálogo respeitoso entre pessoas que pensam diferentemente.

O colega, permita-me tratá-lo dessa maneira, ao comentar alguns aspectos das atividades que desenvolve, admite que recebe recursos,  o que já o diferencia de professores que apenas percebem os vencimentos básicos, então se eles não vão para o seu bolso, pelo menos eles não saem do seu bolso, como é o caso de muitos professores que dispendem parte do salário para ir a um congresso, comprar um livro, etc.

 Eu não disse que os pesquisadores recebem pro-labore pelos projetos de pesquisa, nem me ative somente ao mundo da matemática-estatística, eu me referia às consultorias associadas a projetos de pesquisa, como ocorre muito comumente na COPPE, por exemplo. Ao mencionar isso, não estou me colocando contra elas, apenas exemplificando o leque de oportunidades que se abre para os docentes da PG.

 A proposta de vencimentos básicos desiguais para integrantes do mesmo regime, tempo de serviço e titulação está na mesa sim e foi defendida explicitamente pela professora R.C.S. da UNICAMP, em destaque na página do PROIFES.

Pode ser que o seu colega em outro contexto não escreva o que escreve aqui, mas o foco da avaliação defendido por ele é a produção de artigos. Se isso não é minimizar as atividades de ensino, gestão e extensão, então eu não sei mais interpretar texto.

Eu defendo que os docentes com produtividade em pesquisa recebam uma gratificação no contracheque por essa atividade. Por outro lado, as atividades de ensino e extensão devem ser avaliadas, mas será que o corpo docente quer isso? Por motivos diferentes a resposta é não. Ou como interpretar que até hoje na UFRJ a famosa avaliação discente nunca foi institucionalizada?


Em 8 de setembro de 2012 21:49, Celso Rômulo <celsoromulo@gmail.com> escreveu:
Prezados,

Acredito que não sou um dos iluminados citados pelo Prof Luis Paulo. Não tenho bolsa de produtividade do CNPq e sou coordenador de 2 projetos financiados também pelo CNPq, um via Edital Universal e outro via Edital CT Amazônia, ambos com recursos "exorbitantes' de 20000 reais. Como todos devem saber, nenhuma fatia destes recursos vai para o meu bolso. Posso dizer que tenho tido  uma produção científica relativamente bem sucedida nos últimos 5 anos. Apesar disto, não tenho a bolsa de produtividade, apesar de já ter concorrido para consegui-la. Como todos nós que trabalhamos com pesquisa  sabemos, o quantitativo de bolsas para a área de matemática/estatística é diminuto. Então não dá para dizer que é regra geral a complementação de renda com a bolsa. Aliás, conheço vários pesquisadores competentes que não a possuem. Talvez a quantidade de publicações tenha influência determinante na atribuição das bolsas. Se é um critério adequado ou não, podemos levantar a questão e discutir nos fóruns competentes. Quanto aos projetos, sinceramente, não conheço sequer um pesquisador da área de matemática/estatística que receba pro-labore por um projeto de pesquisa. Eles devem existir, mas não se pode colocar como  regra, mais uma vez. Outra coisa: não vejo implicação entre o aumento do salário de um e redução de outro. O argumento é enganoso, pois supõe que os recursos devem permanecer como estão. E é justamente o que não se deseja. E mais uma coisa: em nenhum lugar ou ocasião, eu vi o Prof. Gauss (e não G.) dizer que deve-se atribuir o mérito somente aos que estão envolvidos em pesquisa. Muito pelo contrário. Ele mesmo já escreveu textos para congressos e motivou muitas pessoas também a fazê-lo. Não posso falar em nome dele, mas acho que ele concordaria comigo: não podem existir dois indivíduos na academia recebendo o mesmo salário por níveis disparatados de produtividade. É preciso acabar de uma vez por todas com esta farsa. Vou ser bem claro,  usando o meu exemplo: em certos departamentos, existem professores que ministram 12 horas de aulas semanais, e isto é tudo. Eu conheço vários professores nesta situação.  Eu estou trabalhando em 6 papers ao mesmo tempo, orientando 2 alunos de mestrado, 1 de iniciação científica, sou coordenador do meu mestrado e tenho 6 horas em disciplinas de pós. Além disso, estou preparando um minicurso para a próxima escola de regressão. É justo?     

-- 
Celso Rômulo B. Cabral
Prof. Associado 
Departamento de Estatística 
Universidade Federal do Amazonas



2012/9/8 Luis Paulo Braga <lpbraga@geologia.ufrj.br>

Névoa da greve

Luis Paulo Vieira Braga

O PL 4368/2012 que reestrutura o plano de carreira e cargos para os professores federais mal foi encaminhado ao Congresso Nacional, por onde poderá perambular por muito tempo, sem chegar a lugar algum, como foi o caso do PL 2203/2011,  e já recebe, indiretamente, críticas por parte daqueles que foram nas assembléias docentes exclusivamente para votar o fim da greve e aceitar a proposta do governo. Não me refiro aos ativistas governistas, mas aos iluminados que desejam implantar na universidade um regime diferenciado de remuneração baseado no mérito. Um deles, comemora em rede a derrota do projeto do ANDES-SN, que não seria adotado “nem em quartel”. Aliás, nas forças armadas um oficial que é reformado jamais poderia recomeçar uma nova carreira militar, como é o caso do autor do comentário, reingresso no mesmo departamento por onde se aposentou, procedimento que se generaliza nas IFES em todo o país. Mérito é uma palavra de consenso, mas com a exceção dos gênios, na hora de escolher a métrica, que vai definir quem pode mais, é que os problemas começam.

O prof. R.P.(UNICAMP) assinala que: a) quantidade de publicações; b) qualidade e   c) impacto poderiam constituir uma base de referencias para se avaliar o mérito. Atualmente a CAPES e o CNPq centram apenas em a) e b). Para ele, a ciência brasileira é pouco citada, inclusive por brasileiros, exceto quando se trata de citar a si próprio. Já o prof. R.C.C.L(UNICAMP) discorda da utilização dos periódicos que constam do SCIELO, devendo se restringir àqueles do WEB of SCIENCE. Tampouco vê com simpatia a incorporação de patentes obtidas como um indicador de mérito, mas o volume de royalties talvez pudesse ser uma opção! Para outros, deveria haver algum critério de utilidade social para um projeto de pesquisa poder receber algm apoio oficial. Todos, entretanto, se sentem constrangidos com a posição do Brasil em relação a outros países no tocante às universidades e a pesquisa. Para uns, o motivo é a burocracia engessada das universidades que dificulta contratações de pessoal e compra de equipamentos, profa. M.Z.(USP). Mas para a maioria, o motivo principal é a escala de salários que, segundo o prof. E.B.(USP), paga a mesma coisa para quem produz muito e para quem não produz nada. Por esse motivo, por exemplo, dificilmente o detentor de um prêmio Nobel viria trabalhar em uma universidade federal. Como o estoque de recursos monetários é finito, a solução defendida pelos auto-definidos produtivos é sinistra – aumentar o próprio salário, reduzindo o de seus colegas. Não é outro o sentido da intervenção da profa. R.C.S. da UNIFESP, postado em destaque na página do PROIFES, para quem não há sentido que dois professores federais, um do Ensino Básico e Tecnológico, outro do Ensino Superior, com mesmo tempo de serviço, regime de trabalho e titulação ganhem o mesmo salário básico! Não há paralelo nas corporações (no bom sentido da palavra) de tamanha reivindicação:    - Aumentar o próprio salário em detrimento daquele do seu colega. Essa posição é tão mais absurda quando se constata que professores com atuação na PG ganham bolsas de produtividade científica diretamente de agências financiadoras, taxas de bancada para custear insumos necessários à pesquisa, diárias e passagens para participar de eventos. Ainda em muitos casos conjugam os seus trabalhos de pesquisa com projetos de consultoria através de Fundações. Portanto, os docentes nessa categoria, que são a minoria dos professores federais, já ganham mais do que os seus congêneres.

Os iluminados cometem equívocos que têm lhes custado caro e que distorce a função da universidade. O primeiro deles é considerar que tudo o que fazem é pesquisa estrito senso, na verdade, muitos dos artigos, oriundos de teses de mestrado e doutorado, são atividades de ensino, nas quais o candidato ao título aprende como desenvolver uma pesquisa. Isso talvez explique a diferença que o prof. R.P. encontra na produção científica brasileira – aquela que tem impacto e a que não tem. O segundo é ter construído o sistema de pós à margem da administração central das IFES, o que, se por um lado, deu agilidade e dinamismo aos cursos de pós, por outro, não subverteu o velho modelo estatal burocrático de universidade federal, que convive com o enclave da pós-graduação moderna e inovadora. O terceiro é ter aceito a remuneração de produtividade em pesquisa na forma de bolsa,  o MEC e o MCT tornaram-se a LBA dos professores (o próprio governo central tornou-se uma imensa LBA do povo brasileiro), que não é contabilizada para fins de encargos sociais. O quarto é referendar as Fundações, um verdadeiro atentado à autonomia universitária e fonte de corrupção, ao invés de proceder os projetos através da administração central. O quinto, e  ao meu ver o pior de todos, é o desbalanceamneto do tripé ensino-pesquisa-extensão, dando ao componente pesquisa um peso muito maior. Essa atitude desfigura a finalidade da universidade, punindo as vocações que se dedicam à formação de graduandos para a vida profissional e social nos mais diversos aspectos, pontuando pouco, por exemplo, a publicação de livros didáticos.

A verdade, a racionalidade e a objetividade não existem per si. Em cada época, em cada segmento, um grupo dominante estabelece as convenções que vão prevalecer. A diferença entre  a sociopatia e a empatia é a capacidade de avaliar os resultados de seus atos, quando essa capacidade não existe, temos a guerra, digo a greve.